Um produtor rural é acordado pelo celular por um funcionário, entre quatro e cinco da madrugada, no horário cotidiano da ordenha. Como a situação não era tão incomum, o pecuarista seguiu até o curral, momento em que avistou os trabalhadores rendidos por dois criminosos armados.
Antes de qualquer reação, o proprietário da fazenda produtora de leite foi atingido na cabeça, uma agressão que o fez desmaiar. Em seguida, ele acordou ao receber golpes de facão, que atingiram seus braços e suas mãos, durante tentativa de se defender.
Ele relata que as lesões físicas estão sendo tratadas até hoje (o crime ocorreu há mais de um ano), “mas não consigo superar o trauma psicológico”. Conta ainda que sua propriedade já foi alvo de vários roubos de gado e de equinos – tudo registrado em Boletim de Ocorrência (B.O.) na delegacia local. Mas até agora, não houve nenhum desfecho para os casos, reclama o fazendeiro, ao participar de um fórum na internet, que trata da violência no campo.
Histórias como a dele são mais frequentes do que se imagina em todo o país. O problema é que elas não viram estatísticas, que sirvam como instrumentos para que representantes do setor agropecuário possam exigir, do poder público, ações efetivas na hora de oferecer mais segurança aos homens e às mulheres que vivem e/ou trabalham na zona rural.
Foi exatamente por causa da falta de transparência, de interesse nas investigações criminais e de dados concretos sobre esse preocupante cenário que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil decidiu criar o “Observatório da Criminalidade no Campo”, por meio do Instituto CNA.
“Já confirmamos nossas suspeitas de que a situação de insegurança no campo e o aumento dos casos de crimes, como roubos e furtos a propriedades, estão colocando os produtores rurais brasileiros em estado de apreensão e medo”, afirma o secretário-executivo do Instituto CNA, André Sanches, em entrevista à equipe SNA/RJ.
“A partir disso, criamos o Observatório da Criminalidade no Campo visando, em um primeiro momento, levantar os casos que têm ocorrido, para depois traçarmos um mapa da criminalidade”, justifica.
Segundo Sanches, a intenção é identificar um eventual padrão ou perfil desses tipos de crimes, a partir das informações repassadas pelo próprio produtor rural, que pode preencher um formulário já disponível no site da CNA: www.cnabrasil.org.br/servicos-para-produtor/denuncie.
AJUDA DOS PRODUTORES
Com o preenchimento desse formulário por parte dos produtores vítimas de crimes, o secretário-executivo diz que “poderemos concluir qual o tipo de propriedade é mais visada, de acordo com o tamanho da área e a principal atividade produtiva ou a sua localização”.
Sanches assegura que não haverá qualquer tipo de divulgação das informações obtidas, de maneira individualizada, por produtor ou propriedade: “Garantimos o total sigilo das informações pessoais preenchidas no formulário”.
Depois de colher as informações, o próximo passo será a ampla divulgação e sensibilização das autoridades competentes. “Pretendemos discutir o tema com autoridades e especialistas em segurança, para que possamos traçar um programa de segurança específico para o meio rural brasileiro.”
O secretário-executivo do Instituto CNA ressalta que “a intenção é dialogar com outras entidades do agronegócio, para que façamos desse tema uma questão prioritária a ser debatida, com proposição de soluções que busquem trazer mais segurança ao setor mais importante e dinâmico da economia brasileira”. “Portanto, é muito importante que o produtor nos auxilie relatando os casos de que foi vítima, preenchendo o formulário no endereço citado”, reforça Sanches.
Por equipe SNA/RJ