O Brasil colheu a maior safra de café de sua história, em 2016: foram 51,3 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado do tipo arábica e conilon, em comparação às 43,2 milhões de sacas colhidas no ano anterior, totalizando um aumento de 18,8%. O resultado supera, inclusive, o recorde anterior que foi registrado em 2014 (50,8 milhões).
As condições climáticas favoráveis nas principais regiões produtoras de arábica, aliadas ao ciclo de bienalidade, favoreceram as lavouras e a produtividade na maioria dos Estados. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada caiu 1,1% na mesma comparação, somando 2,2 milhões de hectares. Mas isso foi compensado pelo ganho expressivo de produtividade, que cresceu 17,1% em relação à safra anterior, alcançando a média de 26,33 sacas por hectare.
Conforme relatório mensal (novembro de 2016), do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), no acumulado de janeiro a novembro foram embarcadas 34.005.893 sacas de 60 quilos, o que significou uma queda de 8,1% em relação a 2015 (37.018.983 sacas). A receita das exportações chegou à marca dos US$ 5,4 bilhões, uma retração de 12,3%, no mesmo comparativo.
Entre os importadores do café brasileiro, os destaques foram Estados Unidos, com 19% dos embarques (6.477.794 sacas); seguido pela Alemanha, com 18,3% (6.477.794 sacas); Itália, com 8,5% (2.876.918 sacas); Japão, com 7,5% (2.538.786 sacas); e Bélgica, com 6,1% (2.089.747 sacas).
“O ano passado foi bom, principalmente para o café arábica, que registrou produção e produtividade alta e ajudou a cobrir o déficit da safra de conilon, no mercado interno e externo”, analisa o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) José Milton Dallari.
ANO DE PARADOXOS
Diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz salienta que 2016 foi um ano de paradoxos para o café brasileiro.
“A cafeicultura de arábica foi bem, com produção recorde, produtividade muito elevada e preços altos e remuneradores. Em contrapartida, as exportações do grão sofreram com a falta de oferta e vamos perder 5% no volume”, avalia o diretor-executivo, acrescentando que, “apesar do bom resultado para os produtores, o ano passado encerrou com os negócios de pernas para o ar”.
Herszkowicz informa que a indústria de café solúvel ainda sofre com a falta do conilon, por causa da quebra da safra do Estado de Espírito Santo, “e já está avisando que perderá negócios e clientes no exterior, pois não tem matéria-prima para fechar contratos”.
Conforme o executivo, a indústria de café torrado e moído também sente a falta de oferta do conilon, que desapareceu: “Preços se elevaram acima da capacidade da indústria repassar os novos custos para o varejo. Além disso, a indústria está alterando seus blends, suprimindo o conilon e substituindo por arábica”.
CONSUMO
Quanto ao consumo, o diretor-executivo da Abic afirma que teve alta, em 2016, e a Euromonitor projeta um crescimento até 2020. “Com a crise do conilon e a perda do poder de compra da população, essa perspectiva fica ameaçada. Tomara que não”, ressalta.
“Na safra passada, registramos diversos casos de roubo de café, portanto, a questão da segurança é uma grande preocupação do setor”, comenta Jorge Florêncio Ribeiro Neto, gerente de comunicação da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé).
“É também necessária a adoção de medidas para proteger o produtor da vulnerabilidade de eventos climáticos como seca, geada, granizo”, sugere.
FATOS MARCANTES
Presidente do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG), Archimedes Coli Neto avalia os fatos marcantes do ano passado: o recorde dos preços do café, a seca no Espírito Santo e o aumento do número de roubos nas fazendas produtoras de café.
Segundo Coli Neto, “2016 foi um ótimo ano para o café arábica”, com boa produção e preços elevados. “No entanto, tivemos algumas perdas na qualidade, em decorrência das chuvas, mas no geral foi muito bom”, pondera.
“Colhemos bem e registramos bons preços, entretanto, o café conilon foi castigado por uma seca enorme, que gerou prejuízos aos produtores. Quem tinha algum estoque, vendeu por preços altos.”
CRÍTICA À IMPORTAÇÃO
Conforme o presidente do CCCMG, no momento atual, um dos assuntos em pauta é a crítica à importação de café. “Vendo o lado dos produtores, não seria justo, uma vez que estaríamos importando café de países que não têm os mesmos custos trabalhistas praticados no Brasil, nem as mesmas responsabilidades sociais e ambientais”, pondera ele, acrescentando que, “com a entrada de uma nova safra, tudo vai se arrumando”.
“Quando o mercado esteve a 20 dólares a saca do conilon, não vimos por parte do governo nenhuma ajuda aos produtores, que amargaram prejuízos e continuaram na atividade. Agora, não seria justo, mesmo colhendo menos, importar para competir na rentabilidade dos agricultores, uma vez que a colheita será menor. Mas precisam de melhores preços para continuarem na atividade”, afirma Coli Neto.
“Acredito que o debate é salutar, pois alerta para uma política de preço de garantia e formação de estoques”, analisa.
Conforme o diretor-executivo da Abic, o grande problema de 2016 foi a quebra da safra de conilon e preços que se elevaram muito rapidamente, sem condições da indústria assimilá-los. “A solução está na importação controlada de café em grão conilon, de janeiro a maio de 2017”, sugere Herszkowicz.
EXPECTATIVAS PARA 2017
Para 2017, Coli Neto espera um mercado bem equilibrado em oferta e procura: “Não podemos falar de preços, pois não depende somente da oferta e da procura, mas também dos fundos, do dólar, da política e de uma série de fatores que pode mudar o rumo do mercado”.
Ele ainda lembra que o clima deve ser o ponto forte deste ano e dará a expectativa para a produção no ano que vem: “Esta, sim, pode fazer a grande diferença nos preços”.
Herszkowicz projeta, para este ano, safras menores de arábica e de conilon comparadas a 2016: “O cenário sinaliza um ano difícil, com falta de produto, redução das atividades da indústria e possível perda de mercado no exterior”, prevê.
“Acreditamos que, em 2017, os preços se mantenham nos patamares atuais, em razão da demanda e porque a safra será um pouco menor. Também apostamos que a tendência de crescimento mundial do consumo da bebida deva permanecer”, antecipa Ribeiro Neto, da Cooxupé.
“O investimento dos produtores de arábica e de conilon em tratos culturais e no controle de doenças pode refletir de forma positiva no aumento da produção de café do Brasil”, comenta o diretor da SNA Milton Dallari, que espera a recuperação, principalmente, da safra de conilon em Espírito Santo, além de Rondônia e Bahia.
Por equipe SNA/SP