Com a posse marcada para o próximo dia 20 de janeiro, o mundo volta suas atenções às expectativas de discurso do novo presidente norte-americano, Donald Trump, e como suas palavras e ações poderão afetar o comércio mundial. Mas, apesar da pregação do nacionalismo de Trump durante o período eleitoral ter assustado muita gente mundo a fora, essa postura poderá afetar positivamente as exportações de carnes pelo Brasil.
As promessas de rever acordos comerciais e de cortes nos juros teriam impactos diretos na relação dólar/real, e no relacionamento dos Estados Unidos com importantes consumidores de carnes. Especialmente com a expectativa de mais um ano complicado no Brasil, é para fora do país que se voltam os abates da indústria de frango, suínos e bovinos.
A estimativa inicial da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), aposta que os embarques de carne bovina do Brasil deverão crescer para 1.5 milhão de toneladas em 2017, após ficarem estagnadas em 1,4 milhão de toneladas em 2016.
Para o analista da Radar Investimentos, Douglas Coelho, “a interpretação do que Trump dirá dia 20 poderá, sim, ser relevante para esse mercado. Até mesmo podendo afetar as estimativas de exportação nos próximos meses”.
Coelho lembra que o mercado norte-americano de carne bovina já possui proteção com as cotas e as restrições de sanidade. Porém, a possibilidade de impulso nos resultados econômicos dos EUA – com mudanças radicais em políticas econômicas – deixaria a carne brasileira com valor atrativo para as vendas externas.
“Atividade americana dando sinais de melhora, poderia trazer mais força ao dólar frente real, deixando as carnes brasileiras mais competitivas no mercado internacional”, disse o analista.
No relatório Focus divulgado na segunda-feira, 9 de janeiro, a projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fechamento de 2017 foi estimado em R$ 3,45, contra dólar atual na casa de R$ 3,19.
O analista da Scot Consultoria, Alex Santos Lopes, também destaca que a depreciação do câmbio deve mesmo ser o primeiro efeito a ser sentido no mercado nacional.
“Eles prometem cortar os juros. Com isso teríamos uma fuga de dólar aos Estados Unidos e uma elevação do real, na possibilidade de conseguirmos exportar mais”, disse.
Não só o câmbio, mas abertura de outros mercados – que poderiam ter seus relacionamentos estremecidos com Trump – seriam benéficos ao Brasil. Em termos mais gerais, Trump prometeu cancelar acordos de livre comércio, como o Nafta (com México e Canadá) e o TPP (com China e países do Pacífico).
CHANCES DO BRASIL
Nesse contexto, o Brasil teria chances de fazer frente a importantes mercados, como o México e o Japão. Conforme a Abiec, estão “aceleradas” as negociações com o governo mexicano para abolir impostos em relação à importação de carne bovina.
As visões menos otimistas lembram, porém, que a política de subsídios à produção agrícola norte-americana é definida na Farm Bill, a lei plurianual periodicamente revisada. A próxima revisão deve ser em 2018 e pode trazer medidas protecionistas ao setor agropecuário.
“No caso da carne bovina, as proteções só não ocorrerão caso a produção interna não for suficiente para a demanda para o produto”, disse o analista de pecuária de corte da Rural Business, Júlio Brissac.
Porém, o analista da Scot Consultoria acentua que a possibilidade de quebra do acordo comercial recentemente estabelecido com o Brasil “sequer entrou no radar das discussões”. Portanto, apesar de existirem, as chances seriam pequenas, ao menos no curto prazo.
Até o final de novembro, o Brasil exportou apenas 500 toneladas para os Estados Unidos – volume pequeno, mas simbólico para celebrar 17 anos de negociações entre os dois países, e um importante selo para a efetivação de novos mercados.
Vale ressaltar também que as projeções indicam redução na produção da Austrália neste ano – um dos principais concorrentes do produto nacional – fator que também colaborará para que o Brasil se posicional no mercado internacional em 2017.
Por outro lado, a análise da Rural Business destaca que as grandes medidas anunciadas durante a campanha presidência podem não se concretizar por pressão ou imposição de setores diversos da economia dos EUA.
GRANJEIROS
Segundo previsões da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações de carne suína devem aumentar até 5% em 2017, e haverá uma elevação de 3% a 5% tanto na produção, quanto nas exportações de carne de frango.
Dentre outros fatores, o presidente da ABPA, Francisco Turra, destaca o chamado Efeito Trump como potencializador dos embarques nacionais do setor granjeiro. A política externa do presidente eleito dos Estados Unidos poderá colocar o México mais perto do Brasil. Os mexicanos têm uma demanda grande por frango e por suínos. E, recentemente, elegeram o Brasil como uma nova fonte de mercado.
Contudo, para a indústria brasileira de carne de frango, a ascensão de Trump pode significar futuramente uma concorrência maior na Rússia, pela proximidade dele com o presidente Vladimir Putin, mas que poderia ser recompensado pelo México.
Assim como na carne bovina, outro ponto de atenção do setor granjeiro é o câmbio. Desde o terceiro trimestre, o dólar voltou a se aproximar de R$ 3,50. Segundo Turra, o valor é considerado ideal pelos exportadores de aves e de suínos, e poderá se manter nesses patamares a depender da política econômica desenvolvida pelo novo governo norte-americano.
Agora, a incógnita está relacionada aos Estados Unidos e aos reflexos das estratégias efetivas que serão colocadas em vigor pelo governo do presidente eleito Donald Trump.
Fonte: Notícias Agrícolas