Com a demanda doméstica em expansão, o suco de maçã ganhou novo status para a cadeia da fruta no país. O produto passou a conquistar mais espaço a partir de 2013, com a mudança de regras definida pelo Ministério da Agricultura para a presença de percentuais mínimos de sucos de frutas na fabricação de bebidas vendidas no mercado interno. De sabor naturalmente “neutro” e adocicado, o suco de maçã tem a seu favor, além do custo, o potencial de diminuir a necessidade de uso de açúcar em algumas bebidas, como refrigerantes.
A expectativa é que, com as alterações, o suco de maçã passe, no médio prazo, a representar mais do que apenas uma fração do consumo interno de sucos como os de laranja e uva – que giram, cada um, em torno de 100 milhões de litros por ano. Para os mais otimistas, o avanço do suco poderá até estimular a ampliação da produção de maçãs, que no Brasil tem variado entre 1.1 milhão e 1.3 milhão de toneladas por safra (quase todo esse volume é destinado à mesa).
Com a regulamentação que entrou em vigor há três anos, as indústrias passaram a ter de adicionar um percentual mínimo de 10% de polpa em bebidas de fruta consideradas compostas. Em um “refrigerante de uva”, por exemplo, é necessário o uso de 10% de suco de uva, mas em um refrigerante classificado de forma genérica o percentual cai para 5% e não necessariamente o suco na composição precisa ser do sabor sugerido no rótulo. Já os néctares têm percentuais específicos, que vão desde 25%, como no sabor pitanga, até 40%, como no pêssego. No caso dos sucos integrais, nada mudou: é preciso que 100% da composição seja com a fruta identificada.
Segundo Geli Marmentini, gerente comercial da Golden Sucos, com sede em Farroupilha (RS), o aumento da demanda interna por suco de maçã passou a ser sentido com maior força em 2014. As regras das bebidas haviam mudado no ano anterior e, além disso, a colheita nacional de maçãs sofreu com problemas climáticos, o que também abriu espaço para um aumento das importações do suco da fruta.
Em 2015 e 2016, já superados os problemas com a oferta nacional, a Golden Sucos registrou um aumento de 50% a 70% na demanda de seus clientes por suco de maçã. “É um suco com valor em conta, tem todo o apelo da saúde e, com uma oferta abundante, o concentrado fica com um valor final interessante”, disse a gerente.
O aquecimento da demanda é confirmado pela Fisher Fraiburgo Agrícola, empresa sediada em Fraiburgo (SC) que lidera o segmento no país. Segundo o diretor Arival Pioli, o aumento da procura vem de indústrias de todos os portes, que usam o suco para reduzir custos na produção de bebidas compostas. “O suco de maçã está sendo usado em quase todos os demais sucos, inclusive como adoçante. E a procura tem sido de empresas de todos os níveis”.
Pioli calcula um aumento de até 50% na demanda este ano. Com isso, a Fisher planeja ampliar em até 45% o volume de suco destinado ao mercado interno, que deve responder por 30% das vendas da empresa no ano que vem, ante os atuais 5%.
Não bastasse a indústria, a demanda do consumidor final pelo suco de maçã também empolga o segmento. De acordo com a Yakult, as vendas do suco industrializado de maçã da marca cresceram mais de 13% em 2015 na comparação com o ano anterior, e registraram um crescimento “ainda mais expressivo” neste ano. “O produto apresenta forte crescimento desde 2013, quando passamos a ter vendas expressivas em rede de fast food, atacadistas e supermercados, além dos clientes de nossas revendedoras”, disse o vice-presidente da companhia, Atsushi Nemoto.
Segundo o executivo, a Yakult estuda ampliar a destinação do produto para indústrias brasileiras de suco, que hoje representam um percentual pequeno do faturamento. “De um modo geral, a cada ano o volume e o percentual do consumo de suco no Brasil estão aumentando em relação à exportação. Acreditamos que essa tendência deva continuar nos próximos anos”, disse.
Essa procura crescente também chama a atenção dos produtores de suco de uva da região Sul do país. Após a quebra da safra de uva 2015/16 devido a problemas climáticos, empresas como a Vinícola Góes passaram a investir também no suco de maçã. Segundo o diretor comercial Luciano Lopreto, o suco de maçã já responde por 8% das vendas da Góes – patamar atingido dois meses após o lançamento. “A mudança na lei acabou sendo um chacoalhão no setor, já que ficou escancarado o que era suco de verdade e o que era só uma embalagem bonita”, disse Lopreto.
O cenário internacional nos últimos três anos foi outro fator que ajudou a catalisar as vendas de suco de maçã no mercado interno, já que embargos à Rússia em meio às disputas com a Ucrânia levou Moscou a suspender as importações de diversos países da Europa, derrubando o valor do produto no exterior em quase 20%. “A maioria das indústrias na Europa está trabalhando com o suco de maçã no ponto de equilíbrio ou com prejuízo, e esse é mais um motivo para a gente procurar uma onda de mercado interno”, disse Pioli, da Fisher.
Fonte: Valor Econômico