Otimismo com a soja às vésperas da colheita

Às vésperas do início da colheita de soja na principal região produtora da oleaginosa do país, analistas e produtores ouvidos pelo Valor afirmam que o desenvolvimento das lavouras não está decepcionando. Com um plantio mais precoce neste ano, algumas regiões de Mato Grosso vão começar a colheita já nos próximos dias.

O clima tem ajudado os produtores de Mato Grosso desde o início do plantio da soja da safra 2016/17. Cenário bem diferente do visto no ciclo 2015/16, quando o fenômeno climático El Niño provocou seca no estado e na região do “Matopiba” – confluência entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia – no período de plantio, e de desenvolvimento das lavouras e excesso de chuvas na época da colheita do grão.

“Desde 2008, a gente não tinha um clima tão favorável quanto foi o clima deste ciclo. Por isso, a expectativa é de uma safra bastante grande”, disse Arlindo de Azevedo Moura, presidente da Terra Santa, antiga Vanguarda Agro, uma das maiores companhias de grãos e oleaginosas do país, que produz soja, milho e algodão em Mato Grosso.

A expectativa da empresa é obter produtividade de 56,3 sacas de soja por hectare nesta safra, bem acima das 51,4 sacas por hectare do último ciclo. A Terra Santa deve iniciar a colheita hoje no município de Nova Mutum (MT). A companhia pretendia começar a colher ainda mais cedo, no dia 21, mas um volume maior de chuvas a fez adiar os trabalhos. “O clima é quem dita”, brincou o executivo.

A Conab estima uma produção de 28.8 milhões de toneladas de soja em Mato Grosso na safra que começa a ser colhida – 10,8% mais do que no ciclo passado. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) está mais otimista e projeta uma produção de 30.5 milhões de toneladas.

Embora a maior parte das lavouras de Mato Grosso ainda esteja se desenvolvendo, as previsões climáticas indicam que não há motivo para grandes preocupações. Este ano está sendo marcado pelo fenômeno La Niña – que provoca chuvas irregulares no Centro-Oeste e seca no Sul do país -, mas, segundo especialistas, o evento climático tem sido fraco e se instalou gradualmente, reduzindo o risco de um problema de grandes proporções. “Se essa não é uma condição ideal, é bem melhor do que já vimos em outros anos”, disse Paulo Etchichury, sócio-diretor da Somar Meteorologia.

 

tab2

 

As expectativas são otimistas mesmo para a região Sul do país, onde o clima gerou mais preocupações em decorrência de uma escassez de chuvas de mais de 20 dias no norte do Paraná. Ainda assim, o estado deve ter produção 10,8% maior que a do ciclo 2015/16, segundo o último levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura. A produção do Paraná deve atingir 18.3 milhões de toneladas, com rendimento de 3.500 quilos por hectare.

“Até o momento, a safra está melhor que a dos últimos dois anos. A gente ainda tem um bom caminho pela frente. Janeiro é um mês importante para desenvolvimento da lavoura. A colheita no Paraná tem pico entre março e abril”, disse o economista do Deral, Marcelo Garrido Moreira. Apesar da cautela, a estimativa do órgão é mais otimista que a Conab, que prevê produção de 16.6 milhões de toneladas no estado.

A falta de chuvas no período de plantio deve provocar uma pequena perda de produtividade em lavouras da região de Maringá, no norte do Paraná. “O estresse hídrico que vimos deve ter provocado uma redução de 4% a 5% na nossa produtividade média”, disse o presidente da cooperativa Cocamar, Divanir Higino, que atua na região e tem cerca de 13.600 cooperados. A produtividade média da Cocamar está estimada entre 3.100 e 3.150 quilos por hectare.

O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, afirma que a região Sul ainda poderá enfrentar escassez de chuvas nesta safra. Segundo ele, janeiro deverá ser um mês pouco mais seco na região e isso poderá acender um sinal amarelo. “Se realmente houver um período pouco maior de estiagem, pode haver algum impacto negativo. Falar que vai quebrar a safra ainda não dá, embora sejam áreas que precisem ser mais monitoradas”, disse Santos.

Ainda que concorde que o cenário climático hoje é muito diferente do visto na safra 2015/16, Santos avalia que o La Niña pode provocar efeitos negativos pontuais para a produtividade do ciclo 2016/17. Ele explica que o fenômeno climático faz com que as chuvas fiquem concentradas ora no Norte, ora no Sul do país. “A grande diferença é saber em que fase vão ocorrer esses veranicos (clima seco), se é no florescimento ou no período vegetativo da lavoura”. O La Niña poderá provocar discrepância de produtividade dentro de uma mesma região. “Vai depender muito da fase da lavoura de cada produtor”, disse.

As previsões da Conab para a safra 2016/17 têm sido mais cautelosas que as dos órgãos regionais. Ainda assim, se as condições climáticas mais favoráveis persistirem, a autarquia prevê que a produção será recorde no país, alcançando 102.4 milhões de toneladas.

 

Fonte: Valor Econômico

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp