Novo método reduz ação da vespa-da-madeira

Espécies de pínus, que representam mais de 30% das florestas plantadas no Brasil, também não estão livres das ações de insetos-praga. Hidrogel com nematoide vem sendo usado, com sucesso, no combate biológico por meio do Manejo Integrado de Pragas. Foto: Francisco Santana

Há mais de um século, as espécies de pínus vêm sendo cultivadas no Brasil
para usos diversos, principalmente para a produção de papel e celulose, contribuindo com fibras longas, necessárias à fabricação de papéis que exigem maior resistência ao rasgo e estouro, além de melhor absorção de tinta. Atualmente, eles, que representam mais de 30% das florestas plantadas do País, também têm sofrido com a ação de insetos-praga — o principal é a vespa-da-madeira —, que está presente em quase dois terços da área de 1,6 milhão de hectares plantados no Brasil.

Para combater o problema, existe um novo método de aplicação para combate biológico — um hidrogel com o nematoide Deladenus (Beddingia) siricidicola, inimigo natural da praga — vem reduzindo os custos de produção em 46,5% e o tempo de execução da atividade em 66,7%. O método foi desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Florestas (PR), com apoio do Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema), que desde 1989, investigam procedimentos de combate à vespa-da-madeira pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP).

 

REDUÇÃO DE CUSTOS

Usualmente, para inoculação do nematoide nas árvores atacadas, é preparada uma gelatina com doses do nematoide, demandando diversos trabalhadores nas atividades de pré-aplicação, além de infraestrutura como batedeira elétrica, gelatina e água gelada e fervente.

“O preparo do inóculo dessa maneira exige treinamento do pessoal, estrutura física e disponibilidade de tempo. Mas, por causa da necessidade crescente de maior rendimento das operações e da escassez de mão de obra, a redução dos custos nas atividades florestais tornou-se fundamental para qualquer empresa”, explica a pesquisadora da Embrapa Florestas Susete do Rocio Chiarello Penteado.

Neste novo processo, aplicando hidrogel em substituição à gelatina, o método é simplificado, uma vez que basta misturar as doses de nematoide com água e hidrogel em um saco de plástico e a solução estará pronta para uso.

 

ESPESSANTE

O desenvolvimento da nova tecnologia para a substituição da gelatina por outro espessante, explica Susete, teve o intuito de facilitar o preparo, com otimização do processo de inoculação e padronização da atividade. Aliado a estas características, este espessante deveria proporcionar também a redução dos custos do processo e manter a eficácia no controle da praga.

Segundo a pesquisadora, entre os variados espessantes testados, o hidrogel revelou o menor custo, não afetou a sobrevivência do nematoide e apresentou maior estabilidade quando armazenado em geladeira.

 

PRATICIDADE E RENDIMENTO

Diretor-executivo da Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal (Apre), Carlos Mendes elogiou a praticidade do novo material. “Tínhamos uma tecnologia sem dúvida mais trabalhosa e sujeita a erros. Agora, com o hidrogel, a mistura certamente é feita com mais segurança e rapidez e a probabilidade de erros é muito menor,” disse Mendes, informando que muitas empresas avaliaram positivamente o produto e ressaltaram o seu rendimento operacional.

Uma das empresas que já utiliza a inovação é a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil. No Paraná e Santa Catarina, as áreas de plantios de pínus somam 145 mil hectares, e a área com risco de ataque da praga (idade superior a sete anos) é de aproximadamente 55 mil hectares. Desde março de 2015, a empresa vem adotando a inoculação com hidrogel em 6.276 hectares.

Diretor florestal da empresa, José Totti informa que a Klabin realizou a substituição total da gelatina pelo hidrogel por causa da facilidade do processo de preparo em testes realizados pela Embrapa Florestas. “Os benefícios dessa substituição foram o aumento do rendimento operacional e a facilidade no preparo, manuseio e transporte do inóculo no campo,” narra Totti.

 

A PRAGA

Antes de atacar os pínus, a vespa-da-madeira é atraída para as árvores estressadas, geralmente em plantios florestais mal manejados. Quando perfura o tronco da árvore, deposita de 300 a 500 ovos. Durante a postura, além dos ovos, a fêmea introduz na árvore uma muco-secreção fitotóxica, juntamente com esporos de um fungo simbionte, Amylostereum areolatum. O fungo obstrui os vasos de seiva e a muco-secreção provoca mudanças fisiológicas rápidas no metabolismo da planta.

A ação combinada do muco e do fungo leva a planta à morte e cria um habitat propício para o crescimento contínuo do fungo, que servirá de alimento para as larvas da vespa-da-madeira. Durante o processo de alimentação, as larvas constroem galerias no interior da árvore, afetando a qualidade da madeira e também favorecendo a penetração de agentes secundários, o que limita seu uso ou a torna imprópria para o mercado.

Segundo a Embrapra Florestas, a utilização do nematoide esteriliza as fêmeas da vespa-da-madeira e seus ovos, quando depositados em outra árvore darão origem a novos nematoides, auxiliando no controle da praga.

 

PREJUÍZOS

O uso de agentes de controle biológico, associado ao manejo florestal adequado, tem permitido a redução dos danos provocados pela praga. Utilizando-se corretamente as medidas de prevenção e controle existentes, é possível reduzir as perdas em pelo menos 70%, e manter a praga sob controle, assegura o analista Joel Penteado Júnior, da Embrapa Florestas.

“Em 2014, o programa de combate à vespa-da-madeira apresentou benefícios econômicos no valor de R$ 209,5 milhões na forma de prejuízos evitados com o uso da tecnologia, se contarmos somente a contrapartida da Embrapa“, afirma.

Para combater a vespa-da-madeira do pínus, a adoção do Manejo Integrado de Pragas vem sendo a melhor alternativa. Quando bem conduzido, o uso do nematoide chega a níveis próximos a 100% de parasitismo neste inseto-praga. Isto quer dizer que os novos insetos nascidos estão parasitados pelo nematoide e deixam de ser uma ameaça à planta.

 

Fonte: Revista A Lavoura – edição nº 710/2015

 

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