Este trabalho é o resumo traduzido e adaptado pela CustodoAgro do relatório elaborado pela Consultoria DimSums especializada em Economia Agrícola na China.
A China tornou-se uma economia agrícola, em torno do binômio milho-soja, a exemplo dos Estados Unidos, mas com uma diferença fundamental. Ao invés de realizar a rotação entre os cultivos, os chineses se especializaram na monocultura do milho, enquanto que quase toda a soja consumida no país foi sendo substituída pela importação.
O gráfico abaixo demonstra a evolução histórica dos dois cultivos.
A produção de milho cresceu vertiginosamente desde 1970, ultrapassando o arroz. Esse crescimento se acelerou em 2004, quando as autoridades chinesas adotaram políticas de fomento, principalmente nas províncias do Norte.
A aceleração foi mais rápida entre 2009-2012, quando foi instituído o programa de preços mínimos (“target price”), voltado para formação de uma reserva temporária sob a justificativa da proteção da “segurança alimentar”.
Nos últimos anos, a produção saltou de 110 milhões de toneladas em 2000 para 225 milhões de toneladas em 2015.
Em função da desorganização logística de algumas províncias, combinada com uma prática de subsídios bastante questionável, verificou-se em 2016 um enorme estoque de milho com saldos acumulados remanescentes da safra 2012.
Entre 2012 e 2016, o governo Chinês mudou algumas vezes as regras da sua política de preços mínimos, tendo provocado enormes distorções em relação ao milho importado.
Por outro lado, a produção de soja ficou relativamente estagnada durante os últimos anos. Há um fato indiscutível, os agricultores optaram pelo milho em detrimento da soja por razões puramente econômicas.
A área de milho avançou para as terras altas, substituindo pastagens e invadiu até encostas, empurrando o cultivo para as regiões mais longínquas e frias do Norte.
Entre 2005 e 2015, o aumento da área plantada foi de 11.8 milhões de hectares.
Importante ressaltar que apenas três países no mundo, cultivam mais do que essa extensão (EUA, Brasil e Argentina).
No mesmo período, verificou-se uma redução de 3 milhões de hectares (cerca de 30%) da área que outrora era destinada a soja.
O implacável crescimento das importações de soja reflete, à primeira vista, a opção dos agricultores pelo cultivo do milho. Entretanto, os fatores que explicam esse espetacular aumento são bem mais amplos e estão diretamente relacionados com a incorporação da proteína animal na dieta de centenas de milhões de chineses.
A primeira importação de soja ocorreu em 1995.
Em 2016/2017, as estimativas indicam que o volume importado poderá atingir algo entre 87 e 90 milhões de toneladas.
Hipoteticamente, se na área nova a China houvesse decidido pelo plantio de soja ao invés do milho, considerando uma produtividade média de 1.700kg/ha, poderia se afirmar que o volume incremental seria de não mais do que 20 milhões de toneladas, equivalendo a menos do que 25% da quantidade importada atualmente.
Por que escolheram o milho?
Comparado com a soja, o milho produz cerca de três vezes mais por hectare. O plantio permitiu que a China atingisse quase que a autossuficiência.
A diferença média entre os rendimentos agronômicos do milho em relação à soja aumentou de 189% no ano 2000 para 254% em 2015, de acordo com a pesquisa divulgada pela Comissão de Reforma e Desenvolvimento Nacional.
O gráfico abaixo demonstra a flutuação dos preços do Milho nos últimos anos (base RMB/ton).
A produção de milho foi muito rentável nos últimos anos para os produtores chineses. No entanto, os lucros foram diminuindo na medida em que os preços relativos foram caindo.
O aumento nos custos da mão-de-obra no campo (cada vez mais escassa) e o valor crescente dos arrendamentos estão causando desequilíbrios internos. Em suma, está cada vez mais caro e difícil produzir na China.
Os insumos agrícolas subiram ao redor de 35% durante o “boom” do milho.
O custo da mão-de-obra refletia, no cálculo anterior conduzido pelo governo, o valor do trabalho familiar que acabava revertendo em lucro para os pequenos produtores.
Em 2014, o rendimento bruto da produção de milho caiu fortemente devido a eliminação da política de preços mínimos que dava sustentação para a “reserva temporária”.
Está previsto a implementação de um subsídio para complementar à renda dos produtores. A estimativa é o pagamento de RMB 120,00 por Mu*, compensando em parte o declínio da renda bruta auferida em 2013, época em que os preços atingiram patamares elevados.
* 1 Mu é igual a 666m2 ou 0,066 hectares. A paridade USD-RMB (29/11/16) é de 6,90, nesse sentido o subsídio equivale a USD 260,00/ha.
Tomando como base os preços praticados ontem em Campo Novo dos Parecis/MT (R$ 24,00/saca), o subsídio direto aos produtores chineses de milho equivale a 53 sacas/ha.
Os preços do milho e da soja parecem se mover com certo alinhamento na China. Os subsídios para ambas às culturas deverão continuar no limite do “compensatório”.
A maioria dos analistas prevê uma recuperação modesta para produção de soja no próximo ano, porém não existe, todavia, um incentivo claro para transferir grandes áreas do milho para soja.
Nesse sentido, as autoridades chinesas deverão continuar com seus “ajustes estruturais” do lado da oferta, como um mecanismo para reduzir os excedentes de milho. A instituição da barreira antidumping de 35% sobre o DDGS americano parece confirmar essa premissa.
Muito se comenta de que existam milhões de toneladas de milho deteriorados, sendo que em algumas localidades o problema já teria alçado a categoria de dano ambiental.
Segundo relatos, as províncias do Norte estariam enfrentando enormes dificuldades para secar e transferir parte do estoque para as províncias do Sul. Fortes nevascas já atingem a província de Heilongjiang (principal produtora de milho e soja).
Os fabricantes de ração estão aumentando as compras de cereais em razão do maior consumo de carnes no período das Festividades do Ano Novo Lunar.
O fluxo logístico dificultado pelos problemas climáticos tem forçado a formação de estoques maiores do que a média histórica. Essa condição elevou os preços domésticos do cereal, que estaria numa relação de equivalência com o Brasil em algo próximo a R$ 44,00/saca (relação de equivalência) na província de Heilongjiang e R$ 58,00/saca nos Portos de Guangzhou e Fujian no sul da China.
Fonte: CustodoAgro