Consumidores dispostos a pagar um valor mais elevado nos mercados nacionais e no exterior fizeram os alimentos orgânicos ganharem maior destaque nas prateleiras do varejo. Enquanto alguns supermercados reservam espaços específicos para esse tipo de produto, outros realizam promoções e degustações como atrativo a mais para a adoção de uma alimentação mais saudável e segura. Algo que se refletiu na gastronomia, que já oferece pratos com produtos orgânicos, e levantou a ideia de oferecê-los no Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
O governo brasileiro ajudou no aumento do consumo ao estabelecer programas que permitem aos municípios oferecer alimentos orgânicos na merenda escolar. Além disso, as feiras com esses produtos se multiplicam pelo país, levando alguns produtores a entregar cestas em domicílio. Para as cooperativas de agricultores familiares, pequenos produtores e agroindústrias, cresceram as oportunidades de mercado.
Mesmo em época de freio nas economias europeias e nos Estados Unidos, o consumo de alimentos orgânicos, símbolo de um cultivo sem agrotóxicos, a partir de uma produção menos danosa ao meio ambiente, tem aumentado. Cada vez mais países produzem esse tipo de alimentos. A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam) calculou, em 2011, o faturamento mundial do setor em US$ 62,9 bilhões.
No Brasil, mesmo carecendo de estatísticas oficiais, o fato é que a produção orgânica vai se espalhando. Podemos estimar que no país já existam 12 mil unidades de produção ocupando uma área de aproximadamente 1,6 milhão de hectares.
Entre os produtos orgânicos, exportamos açúcar, óleo de palma, soja, café, mel, cacau, castanhas-de-caju e do-pará, além de ingredientes para a indústria de cosméticos e frutas, como açaí e acerola. Ainda assim, nossa exportação orgânica é muito pequena considerando o potencial agrícola brasileiro, mesmo quando comparada a de países vizinhos, entre eles Argentina, Chile e Peru. Mas diferimos, principalmente, pela falta de produtos de valor agregado. Temo que os orgânicos estejam repetindo, em parte, o modelo exportador do agronegócio convencional, que depende de commodities. A marca Brasil, por exemplo, some do nosso café para virar made in Italy.
Produtos orgânicos são produzidos em pequenas glebas de terra, de maneira mais ecológica e sustentável, e permitem aos produtores e suas famílias uma vida digna por meio de um cultivo alternativo aos alimentos industrializados. Então, como fazer para que a exportação orgânica não seja só de commodities agrícolas? Lembremos que commodities são produtos comercializados sem diferenciação, que segue um preço fixado no mercado internacional, no qual o pequeno produtor fica num mato sem cachorro.
São desafios do setor orgânico exportar produtos com valor agregado, investir em tecnologia e qualidade e ofertar seus produtos em mercados diferenciados, com resultados que levariam o produtor a vender a um preço mais elevado e aumentar sua renda. Mas podemos enxergar como uma falsa verdade a alegação de que esses produtos deixariam de ser vistos como commodities por serem orgânicos.
Uma comparação válida é equiparar essa situação à venda do cacau. Os produtores do Arriba Nacional, do Equador, conhecido por seu rico sabor, estão comercializando o fruto diferenciado, processado por agroindústria, nos Estados Unidos e na Europa. Lá deu certo. Aqui fica a pergunta: vamos conseguir exportar orgânicos com a marca made in Brazil?
Sylvia Wachsner
Coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)