Pressionado por entidades da cadeia produtiva de trigo, o Ministério da Agricultura deverá promover leilões para tentar oferecer sustentação aos preços do cereal, que se encontram abaixo dos patamares mínimos estabelecidos pela Pasta em algumas regiões do Paraná e do Rio Grande do Sul, Estados que lideram a produção nacional.
Segundo Neri Geller, secretário de Política Agrícola do ministério, até o início de novembro deverá ser publicada no “Diário Oficial da União” uma portaria interministerial prevendo de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões para apoiar a comercialização de trigo por meio de leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PEPRO) e de Prêmio para Escoamento da Produção (PEP).
A ideia é que esse montante, que será definido a depender da oscilação dos preços do produto no mercado doméstico até lá, seja suficiente para escoar um volume de até 1.5 milhão de toneladas.
Cooperativas e triticultores se queixaram ao ministério nos últimos dias que, em função da ampla oferta global e das estimativas que apontam para uma grande safra brasileira na temporada em curso (2015/16) – 6.3 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) -, os preços do cereal já recuaram para R$ 34,81 a saca de 60 quilos no Paraná. Essa média é inferior ao preço mínimo estipulado pelo governo (R$ 38,65) – e serve de alerta para acionar o gatilho dos leilões.
“Não achamos que o preço do trigo vai cair muito mais. Continuaremos acompanhando a colheita no Sul, mas já encaminhamos uma minuta de portaria para fazer leilões de PEP e de PEPRO, e esses mecanismos estarão disponíveis”, afirmou Geller ao Valor. De acordo com o secretário, técnicos do ministério estão pesquisando o mercado para identificar os valores praticados que estão abaixo do preço mínimo.
Outra fonte do governo avalia, porém, que as indústrias de carnes de frango e suína podem aproveitar esse cenário baixista para comprar trigo para ração em substituição ao milho, cujos preços no mercado interno continuam elevados, pressionando seus custos de produção e suas margens. Se esse movimento de “troca” acontecer, poderá dar algum impulso aos preços do trigo – o que poderá levar o governo a dispender menos recursos nos leilões para socorrer os produtores.
“A renda do produtor está bem apertada, e o trigo está sem liquidez em várias cooperativas. Entendemos que o preço pode ceder mais porque, em algumas regiões, a safra nem entrou ainda e, além disso, a produção argentina deve aumentar muito este ano”, afirmou Tânia Moreira, economista da Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (FAEP).
Tânia disse que os produtores paranaenses já colheram 69% da safra 2015/16 de trigo, média normal para essa época do ano. E esses trabalhos, realizados entre setembro e dezembro, tendem a avançar em regiões do Estado onde ainda está mais atrasada.
Os moinhos, por sua vez, são contra o apoio do governo. Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), desaconselhou o governo a fazer leilões e argumentou que os preços internos e o câmbio atual têm favorecido tanto a importação quanto as compras do cereal dentro do País.
Fonte: Valor