Sempre que o brasileiro pensa em fazer uma viagem é praticamente automático: os destinos mais procurados acabam sendo as cidades do litoral. Mas programas ao ar livre, que ofereçam um contato mais próximo com a natureza, têm se tornado, cada vez mais, boas opções de lazer e de descanso.
Diante deste novo nicho de mercado do turismo rural, ganha o visitante, que terá a oportunidade de conhecer melhor as culturas, os costumes e as tradições do Brasil; e ganha o proprietário de sítios e fazendas, que encontra no segmento uma nova fonte de renda.
“O Brasil não é composto apenas por praias, e o meio rural pode ser aproveitado para o lazer. Contamos com vida no campo de Norte a Sul, onde há muitos lugarejos atrativos, que podem servir de inspiração para serem curtidos nas férias ou como uma boa opção para passar o final de semana”, diz a médica veterinária Marília Saraiva Pereira, analista técnica de Formação Profissional Rural do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais. Ela também é responsável pelos cursos e projetos na área de Turismo Rural que o Senar-MG oferece.
Superintendente da mesma instituição, no Estado de Espírito Santo, Letícia Toniato Simões garante que, atualmente, existe “um público que procura fugir da agitação do dia a dia, que busca voltar às suas origens, dar oportunidade aos filhos para que conheçam a vida no campo”.
“Temos aqueles que querem encontrar ar puro, apreciar as belezas naturais dos campos e montanhas, descansar à sombra de árvores, sentindo a brisa do vento. Também há quem goste de se aventurar. Enfim, estas pessoas visitam o interior para satisfazer estas necessidades”, aponta Letícia, em entrevista à equipe SNA/RJ.
DIVULGAÇÃO
De acordo com Marília Saraiva, do Senar Minas, o turismo em campo passa por um momento promissor, principalmente porque vem se profissionalizando, e as atividades relacionadas ao meio rural – em hotel fazenda, haras, pesque- pague, entre outros locais – estão em expansão.
Em sua opinião, no entanto, o setor precisa contar com parcerias de órgãos públicos e privados para inserirem produtos e serviços, diversificando as atratividades locais.
“A mídia é poderosíssima na divulgação, pois quando há eventos, novelas e filmes, as pessoas ficam interessadas em conhecerem o local”, comenta a analista, à equipe SNA/RJ.
Para Letícia Toniato, do Senar-ES, muito trabalho tem sido feito para divulgar estes destinos e seus atrativos, mas ainda é insuficiente: “É necessário empenho do poder público na melhoria das estradas de acesso às propriedades rurais, na sinalização turística, no embelezamento de pequenos povoados do interior do País, na preservação e até mesmo restauração de patrimônios históricos e culturais”.
PROFISSIONALIZAÇÃO
A superintendente do Senar-ES também aponta a necessidade de os donos ou administradores de propriedades rurais se profissionalizarem no atendimento ao
Turista. Neste quesito, a unidade capixaba oferece treinamentos de Turismo Rural, a partir de alguns módulos de cursos, que tratam da hospedagem rural, jardinagem, artesanato, agroindústria caseira, entre outras atividades que o turista procura conhecer no campo.
Em Minas Gerais, Marília destaca que o Senar vem atuando neste segmento com o programa “Agente de Turismo Rural”, que objetiva fortalecer o turismo no meio rural; fomentar o negócio turístico; preparar e qualificar profissionais com visão do negócio turístico, para garantir a manutenção da cultura e das atividades agrícolas tradicionais e a consequente manutenção da família rural no campo.
“O entrave que existia ao setor de turismo rural é que muitos atuavam na informalidade, uma vez que, para regularizar a atividade, é preciso ter um CNPJ de empresa turística e outro de produtor rural. A legislação que disciplinava a atividade rural não reconhecia o turismo como uma das formas de aproveitamento econômico”, relata a analista técnica do Senar Minas.
Por esta razão, continua Marília, “os empresários não conseguiam emitir os documentos fiscais exigidos por agências de turismo”. “Em outubro de 2015, uma lei que estava em tramitação, desde 2009, foi aprovada. Ela reconhece o turismo rural como atividade econômica das fazendas e sítios. A nova lei veio resolver esta questão, ao colocar o turismo no rol das atividades rurais, trazendo estes proprietários para a formalidade. Isto servirá de incentivo na ampliação deste segmento.”
ATRAIR OS TURISTAS
Atrair os turistas para o campo é uma atividade como outra qualquer, que exige preparo e conhecimento, “Uma condição fundamental, antes de a propriedade abrir suas portas ao turismo, é que o proprietário goste e esteja engajado com a atividade, principalmente porque ele vai receber pessoas, muitas vezes, até dentro da sua casa”, alerta Marília.
Segundo a analista, o dono ou administrador do espaço rural precisa saber que vai entrar no universo da prestação de serviços e que “ele deve ser moderno, profissional, sem perder a sua ruralidade”.
“O turista, quando vai ao campo, não quer apenas passar um final de semana tranquilo. Ele quer ver belezas naturais, vivenciar coisas diferentes do seu cotidiano. Quer se sentir no ambiente do campo, descobrindo os verdadeiros cheiros, sabores e experiências da vida na fazenda”, pontua Marília.
De acordo com ela, “quem primar pela qualidade e profissionalização dos serviços prestados, pelas novidades e diversificações, estará à frente”. “A divulgação deste empreendedorismo pode ser feito pela internet, por meio da distribuição de folders, e fechando parcerias com guias turísticos da região e órgãos correlacionados. Os clientes são exigentes como em qualquer setor e, quando ele gosta, faz a famosa divulgação “boca a boca”, além de usarem as redes sociais atraindo mais pessoas para visitar o local.”
Letícia Toniato, do Senar Minas concorda: “Hoje em dia, os proprietários rurais contam com o auxílio da tecnologia e a internet já está disponível em praticamente todos os pontos do Estado de Espírito Santo, possibilitando a divulgação em diversas mídias sociais”.
Segundo ela, também é importante produzir material de divulgação de boa qualidade para ser distribuído em eventos. “Entretanto, o maior divulgador do turismo rural é, sem dúvidas, o turista que visita a propriedade e sai satisfeito com o atendimento e com a oferta de serviços e produtos de boa qualidade”, sentencia.
PERFIL DA PROPRIEDADE
As visitações turísticas ao campo variam conforme o perfil da propriedade rural. “A visita do turista pode ser por meio de atrativos culinários, culturais, históricos e de lazer. O perfil daqueles que optam pelo turismo rural é de pessoas com idade entre 20 e 60 anos, casais com ou sem filhos, e pessoas que vêm de grandes centros urbanos”, especifica Marília.
Por causa de sua experiência, ela acredita que estes turistas estejam interessados no dia a dia do campo, na vivência da lida agropecuária. São pessoas que querem conhecer o que é do meio rural, o que é, muitas vezes, familiar.
“Tudo isto deve começar pelo fácil acesso das estradas. O local deve contar com boa infraestrutura – se tiver acesso à internet, pode até ser um fator de decisão entre uma ou outra propriedade –; oferecer conforto aos hóspedes; segurança durante a estadia; contar com entretenimentos, como passeios a cavalo, charrete; oportunizar vivências nas atividades, como o acompanhamento da ordenha dos animais e da elaboração de produtos típicos como queijos, doces, produção de vinhos, etc.”
Outro desafio para estas propriedades, conforme Marília, “seria trabalhar o lado preservacionista, implantando o ‘turismo rural verde’”.
No entendimento de Letícia Toniato, do Senar-ES, “a propriedade rural deve estar comprometida com a produção agropecuária, utilizando boas práticas de cultivo e de criação de animais, seguindo normas de preservação do meio ambiente, buscando resgatar e promover o patrimônio cultural e natural da comunidade, além do respeito à pessoa”.
“Por outro lado, o turismo rural deve andar, paralelamente, às outras atividades inerentes à atividade agrícola. Há propriedades que têm no turismo sua maior fonte de renda, ainda assim elas mantêm a agropecuária como parte dos atrativos oferecidos aos turistas”, ressalta Letícia.
ESPÍRITO SANTO
Em Espírito Santo, umas das atrações do turismo rural é o Sítio Boa Vista, localizado na comunidade de Córrego Caximbau, do município de Jaguaré. Existente há 23 anos, o empreendimento, que pertence à família Cescon, vem se tornando famosa por causa da “Cachaça Jaguaré”.
Apta a trabalhar regularmente, após a aprovação do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a família pode comercializar a cachaça em todo o território nacional e até no exterior. O alambique, que está em início de produção, deve produzir 20 mil litros de cachaça, em média, por ano.
A família Cescon participa, desde 2013, do projeto “Encantos do Cricaré”, programa de fomento ao turismo rural do Senar-ES que, em três anos de existência, já beneficiou cerca de 250 pessoas, com 54 empreendimentos rurais assistidos e que continuam recebendo acompanhamento e melhorando a renda dos empreendedores nos quatro municípios onde atua: Jaguaré, Nova Venécia, São Mateus e Vila Pavão.
Superintendente do Senar-ES, Letícia Toniato lembra que a atividade de turismo rural, no Brasil, surgiu na década de 1980, na cidade de Venda Nova do Imigrante, na propriedade da família Carnielli.
“Hoje, temos vários Circuitos de Turismo Rural, muito bem formatados. Podemos citar, além de Venda Nova, os municípios de Domingos Martins, Santa Teresa, Afonso Cláudio, Marechal Floriano, Anchieta, Alfredo Chaves, Região do Caparaó Capixaba, estes todos na região serrana do Estado.”
Segundo Letícia, outros circuitos estão surgindo e se aprimorando na região Norte do Estado, especialmente nos municípios de Jaguaré, Nova Venécia, São Mateus e Vila Pavão, onde o Senar-ES, em conjunto com a Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (FAES), os sindicatos rurais e as prefeituras, promovem o projeto “Encantos do Cricaré”.
Uma das mais antigas opções de turismo rural em terras capixabas fica no município de Santa Teresa: a Casa Lambert, uma das primeiras moradias da cidade, tombada pelo Conselho Estadual de Cultura. Construída em 1876 pelos irmãos e imigrantes italianos Antônio e Virgílio Lambert, hoje o espaço funciona como museu.
Na Casa Lambert, o turista pode conhecer um pouco da história da família Lambert e da imigração italiana no município. Em frente ao local, do outro lado da rua, está a Capela de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1899, também pelos irmãos.
MINAS GERAIS
Outra opção para turistas que desejam conhecer as belezas do campo é o município de São João Batista do Glória, no Sudoeste mineiro. De acordo com o Senar Minas, além da tranquilidade e descanso, a cidade de sete mil habitantes oferece outras alternativas de lazer como cachoeiras, caminhadas, cavalgadas, fotografia, paisagem e a riqueza da fauna e da flora do Cerrado, encontrada entre as trilhas existentes nas matas e serras.
A produção de leite, cerâmica e cachaça são outros atrativos. Para quem gosta de aventura, as opções são trilhas, rapel, canyonning, mountain bike, entre outras.
CURSOS DO SENAR
O Senar-ES promove treinamentos de Formação Profissional Rural e de Promoção Social no Campo. De toda a grade dos cursos, podem ser citados os de agroindústria, de turismo rural, culinária rural, artesanatos regionais, educação ambiental. Também são oferecidos programas de Gestão de Propriedades Rurais, o “Com Licença, Vou à Luta”, voltado para o desenvolvimento do empreendedorismo das mulheres, além de outros específicos para as atividades produtivas.
Os treinamentos são oferecidos gratuitamente para o público rural e as inscrições dever ser feitas nas sedes dos sindicatos rurais do municípios de ES. A agenda de treinamentos pode ser acessada pelo site www.faes.org.br.
Já o Senar Minas oferece o curso de Turismo Rural, desde 2007. Até agora, já foram realizadas mais de 600 edições e capacitadas em torno de 8,5 mil pessoas. Os interessados devem se informar também nos sindicatos rurais de seus municípios ou pelo site www.sistemafaemg.org.br/senar.
Por equipe SNA/RJ