O ritmo fraco de contratações de crédito rural nos primeiros três meses da safra atual (2016/17) ajudou a provocar uma situação inusitada no balanço de desembolsos desses recursos. De julho a setembro, os bancos privados concederam R$ 16.5 bilhões, mesmo patamar dos bancos públicos (R$ 16.7 bilhões) – que, encabeçados pelo Banco do Brasil, normalmente lideram esse mercado com folga.
Enquanto o volume de crédito rural liberado pelas instituições públicas caiu 32,6% em relação a igual trimestre do ciclo 2015/16, as contratações nas instituições privadas aumentaram 5,7%. O montante total de desembolsos registrou queda de 12%, para R$ 41 bilhões. Levando-se em consideração apenas as contratações efetuadas pela agricultura empresarial, a retração foi de 15%, para R$ 39.5 bilhões.
Na conta dos desembolsos totais, as operações de custeio, que representam a maior demanda para os bancos públicos, continuaram em ritmo bem menor que o observado no início na safra passada. Nessa frente, a queda entre os meses julho e setembro foi de 23,3% na comparação com o mesmo intervalo do ciclo 2015/16.
Outro fator que impulsionou o aumento da participação dos bancos privados nas contratações totais de crédito rural foi o incremento de recursos tomados com base em operações envolvendo as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que dobraram e atingiram R$ 4.4 bilhões nos primeiros três meses desta safra. Nessa modalidade, parte dos recursos têm taxas de juros controladas (12,75% ao ano), uma das principais novidades do Plano Safra 2016/17.
De forma geral, a menor procura por crédito por parte dos produtores rurais neste início de ciclo também se deve à boa oferta de recursos no primeiro semestre do ano, período de pré-custeio. Com isso, diminuiu a necessidade por recursos no início da temporada, diferentemente do que ocorreu no ano passado.
Outro motivo, que despontou mais recentemente, deriva do endividamento de produtores de diversas regiões do país, que amargaram perdas principalmente por causa de problemas climáticos e agora pressionam por renegociações. Esse quadro “trava” o processo de tomada de “crédito novo”, o que tem afetado os desembolsos.
Nesse contexto, Fabrício Rosa, diretor-executivo da Aprosoja Brasil, entidade que representa produtores de grãos, afirma que muitos agricultores estão procurando instituições privadas para garantir recursos. Como muitas vezes são clientes novos, sem histórico de inadimplência, a operação é fechada sem maiores problemas.
No avanço dos bancos privados nos desembolsos totais de crédito rural de julho a setembro, um dos destaques foi o Itaú. A instituição liberou R$ 4.4 bilhões no período, mesmo patamar do começo da temporada 2015/16, e liderou o segmento. No caso do Banco do Brasil, líder entre os bancos públicos – e no geral -, houve queda de 33% para R$ 14 bilhões.
Fonte: Valor Econômico