Negócios da nova safra de soja estão travados com preços pouco atraentes

O plantio da safra 2016/17 de soja se desenvolve ainda de forma bastante irregular nos principais estados do Brasil, dadas as atuais condições climáticas. As chuvas não se mostram bem distribuídas, segundo o relato de produtores rurais e consultores de mercado, o que trava não só os trabalhos de campo, mas também a comercialização da nova temporada. Segundo Vlamir Brandalizze, há pouco mais de 30% da soja já comercializada.

O consultor da Brandalizze Consulting afirma que, nas últimas quatro semanas, os negócios com a safra nova foram bem pontuais, com baixos volumes e considerando mais o resultado de alguns produtores que não tiveram acesso ao crédito, buscando ainda as relações de troca nas revendas. E essas operações, com a grande maioria dos sojicultores com seus insumos já comprados, se mostram mais frequentes nos estados centrais.

Para o consultor Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, há três fatores básicos que travam as vendas neste momento: a taxa de câmbio bem mais baixa do que a observada há alguns meses (quando foram feitos volumes maiores de negócios), um percentual já vendido que dá garantia ao produtor e a espera do mesmo pela confirmação de sua produtividade e, consequentemente, o quanto ainda poderá ser comprometido da nova safra.

Do dia 2 de maio ao dia 30 de setembro, o preço médio da soja na Bolsa de Chicago apresentou um recuo de 8,45%. Ao se considerar o pico atingido em 10 de junho, de US$ 11,79 o bushel, a queda acumulada é de 18,98%. Nos mesmos períodos, o dólar registra recuos de 6,83% e 5,23%, respectivamente.

Dessa forma, e focados na semeadura, os produtores esperam momentos mais oportunos para voltar às vendas, travando conforme os preços lhe trazem margens. De acordo com o consultor de mercado Flávio França Junior, da França Junior Consultoria, o último grande pico de negócio aconteceu no início de junho, quando os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago chegaram a se aproximar dos US$ 11,80.

“Temos agora um momento bem defensivo. Há duas semanas, quando o mercado se aproximou novamente dos US$ 10,00, tivemos algumas operações, mas com pouco avanço e bem pontuais”, disse França.

Na região de Querência, em Mato Grosso, por exemplo, há algo entre 20% e 30% da nova safra já comercializada antecipadamente e, nos últimos meses, as vendas perderam bastante ritmo diante dos preços mais baixos, segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Osmar Frizzo. “Hoje os preços não estão mais atrativos para a fixação”, disse.

O mesmo quadro pode ser observado em Sapezal, também no estado mato-grossense. “As comercializações foram há 90 dias, depois disso, não houve nem mais comentários de negociações futuras. Isso porque as commodities caíram e o custo aumentou, então o produtor acabou não fazendo novas fixações”, disse José Guarino Fernandes, presidente do Sindicato Rural local.

Na região, a média da soja convencional, nesses negócios antecipados, foi de algo entre R$ 75,00 e R$ 76,00 a saca e as transgênicas entre US$ 20,00 e US$ 21,00.

Passando para o Paraná, onde o plantio está mais adiantado em função de melhores condições de clima e solo, os produtores também estão se dedicando mais ao plantio do que as novas vendas. Segundo Silvanir Rosset, presidente do Sindicato Rural de Guaíra, quem vendeu antecipado chegou a fixar preços na casa dos R$ 85,00 a saca na região. “Agora nem se fala em contratos. E os grandes desafios agora são o mercado e o clima”, disse.

No Mato Grosso do Sul, a mesma situação. O maior volume de negócios aconteceu na região de Ponta Porã, quando as cotações variavam entre R$ 75,00 e R$ 80,00 por saca. “Esse é um bom preço para os produtores daqui. Quem teve essa possibilidade, fez a venda, mas foi pouco”, disse o técnico agrícola João Pedro Roma.

Novas oportunidades

Para os três especialistas consultados pelo Notícias Agrícolas – Vlamir Brandalizze, Ênio Fernandes e Flávio França Junior – a atual postura defensiva dos produtores brasileiros em relação à comercialização da nova safra é bastante acertada neste momento, e novas e melhores oportunidades deverão aparecer mais adiante.

Com a colheita da nova grande safra dos Estados Unidos concluída, os preços em Chicago deverão se acomodar um pouco mais e aliviar a pressão sentida nas últimas semanas, ainda de acordo com os consultores. E é quando a atenção começa a se voltar para o clima na América do Sul, especialmente no Brasil, e deverá ser redobrada à movimentação do câmbio.

Segundo França, diferente do que aconteceu há aproximadamente dois anos e meio, o sojicultor deverá ter de garantir sua renda via preços em Chicago, uma vez que “do dólar não deverá vir nada de especial, e o câmbio parece encontrar um equilíbrio”. No entanto, alerta ainda que esse não é um momento de fortes e consistentes altas na CBOT, já que a pressão da entrada da nova safra americana é inevitável.

E para que o produtor brasileiro se sentisse novamente atraído a realizar novas vendas, o dólar deveria voltar, segundo Brandalizze, a atuar na casa dos R$ 3,50. Afinal, com a moeda americana nos atuais valores – na casa dos R$ 3,20 a R$ 3,25 – a referência no porto de Paranaguá, por exemplo, vai a R$ 78,00 para maio/17 e, consequentemente, a algo entre R$ 63,00 e R$ 64,00 por saca no interior de Mato Grosso. “E nos melhores momentos, os preços se aproximaram de R$ 79,00 na região de Sorriso, por exemplo”, disse o consultor da Brandalizze Consulting.

“Há ainda muita coisa para acontecer. Juntos, Brasil, Argentina e Paraguai plantam 51% de toda a soja do mundo e esses países estão começando a plantar agora. Então, precisaremos acompanhar o clima na América do Sul para saber o que vem pela frente”, disse Fernandes. “Assim, o produtor agora tem bastante reticência em vender nos atuais preços”.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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