Contratos de açúcar são cancelados

Por mais que as usinas estejam maximizando a produção de açúcar, as tradings identificaram alguns cancelamentos de contratos de exportação (“washout”), embora em volumes menos expressivos do que em outras ocasiões.

Os relatos chegaram a tumultuar o mercado futuro de açúcar recentemente, mas estima-se que o volume que deixará de ser embarcado é bem menor do que no fim da safra passada. Segundo Eduardo Sia, trader da trading francesa Sucden, cerca de 3% dos contratos para exportação de açúcar de alta polarização (VHP) foram cancelados até o momento, o que equivaleria a algo entre 40 mil e 50 mil toneladas.

O movimento de “washout” é comum quando o fim da safra começa a ficar mais definido e as usinas vão compatibilizando o volume comprometido para exportação com o quanto deverão de fato produzir e exportar. No segundo semestre do ano passado, esse movimento foi mais forte, já que as usinas estavam dando prioridade à produção de etanol, que então estava mais rentável que o adoçante. Em agosto de 2015, as usinas já haviam cancelado contratos que correspondiam a cerca de 500 mil toneladas de açúcar.

Nesta safra, uma parte dos cancelamentos deveu-se à incapacidade de algumas usinas em produzir o açúcar esperado, após investimento e adaptações em suas fábricas de açúcar que não tiveram o desempenho esperado, diz o trader da Sucden. “Foram grupos que investiram em partes da indústria, mas acabaram sofrendo para ajustar a fábrica. Com isso, comprometeram-se com um volume que não conseguiram entregar”, disse.

A redução da produtividade de algumas áreas de cana é outro fator que tem servido de alerta para as usinas, afirma Henrique Akamine, gerente de análise de mercado da Czarnikow. Alguns períodos longos de seca em algumas áreas do Centro-Sul têm impactado negativamente as lavouras e fizeram as usinas reduzirem o ritmo de moagem em agosto, disse.

Mais do que uma produção menor, os “washouts” também estão sendo realizados porque a fixação de preços do açúcar ocorreu de forma bastante acelerada nesta safra, observa Murilo Aguiar, da consultoria FCStone. “Se não tivessem fixado tanto, talvez não teria acontecido isso”.

Algumas usinas também podem estar cancelando contratos de exportação para estender seus compromissos de entrega para o próximo ano, já que o contrato do açúcar demerara negociado na bolsa de Nova York para entrega em março de 2017 está remunerando mais do que o papel para entrega em outubro deste ano. Na sessão de sexta-feira (30), a diferença (spread) ficou em 47 pontos, mas a diferença já chegou a 70 pontos durante algumas sessões de duas semanas atrás.

Segundo Akamine, da Czarnikow, estipula-se que uma troca de posições (rolagem) só é vantajosa para a usina se o spread estiver em ao menos 60 pontos, já que a empresa precisa pagar uma multa pelo cancelamento do contrato e ainda arcar com os custos de armazenamento do açúcar. “Além disso, corre o risco de perder qualidade, porque o açúcar vai recebendo umidade, o que deteriora a cor”, disse.

 

Fonte: Valor Econômico

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