Crise hídrica ainda ronda e produtores devem buscar soluções práticas

“Cabe aos produtores, guardiões das águas no meio rural, diariamente cuidar deste recurso e cada vez mais melhorar a eficiência de uso dele. E a cisterna pode ser mais uma tecnologia que pode contribuir para isto”, sugere o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste. Foto: Gisele Rosso
“Cabe aos produtores, guardiões das águas no meio rural, diariamente cuidar deste recurso e cada vez mais melhorar a eficiência de uso dele. E a cisterna pode ser mais uma tecnologia que pode contribuir para isto”, sugere o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste. Foto: Gisele Rosso

Pouco tem se falado sobre a crise hídrica no Brasil e esta ausência de informações massivas, especialmente por parte das “mídias convencionais”, pode dar a entender que o País esteja “nadando em berço esplêndido”. Fato é que o problema persiste – que o diga o Estado de Espírito Santo. No último dia 31 de agosto, o governo estadual anunciou situação de racionamento na Grande Vitória, caso não chova no mês de setembro, ou se a vazão dos rios – que já está abaixo do limite crítico – reduzir em 10%.

Outra constatação é que houve um “afrouxamento” nas campanhas de economia de água, por todo o País, tanto pelas instituições públicas quanto privadas. “Sim, houve este afrouxamento e, infelizmente, este é um comportamento comum do ser humano e de nossas instituições”, critica o pesquisador Julio Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP).

Em sua opinião, passado o auge da crise de abastecimento, “quando a água volta a jorrar de forma normal, esquecemos que ela é um recurso finito e suscetível às influências humanas e ambientais”. “Cabe aos produtores, guardiões das águas no meio rural, diariamente cuidar deste recurso e cada vez mais melhorar a eficiência de uso dele. E a cisterna pode ser mais uma tecnologia que pode contribuir para isto”, sugere o pesquisador.

Recentemente, o especialista publicou o documento “Captação de água de chuva e armazenamento em cisterna para uso na produção animal”, que traz vários aspectos do sistema de aproveitamento de água da chuva.

 

CISTERNA

Palhares destaca que a água de chuva é considerada uma fonte alternativa, apresentando as seguintes vantagens: a utilização da água se dá no local de uso; é uma fonte que pode substituir, parcial ou integralmente, as fontes superficiais e subterrâneas; a água armazenada na cisterna apresenta qualidade para usos diretos das atividades agropecuárias como irrigação, limpeza e resfriamento de instalações; e ainda contribui, principalmente, para a segurança hídrica da propriedade rural.

“Quando tratamos do uso de cisternas, não falamos em economia de água, mas em substituição da fonte. No caso da cisterna instalada no sistema de produção de leite da Embrapa Pecuária Sudeste, onde a água é utilizada para lavagem do piso da ordenha, em seis meses foi possível substituir 70% da fonte de água”, informa.

De acordo com o pesquisador, “isto significa que, se não tivéssemos a cisterna, teríamos consumido estes 70% de água de um poço”. “Portanto, além do benefício ambiental de deixar de retirar a água do poço, também temos o benefício econômico, devido à redução do consumo de energia pela bomba do poço.”

Palhares garante que qualquer propriedade pode armazenar água da chuva: “Não existe exceção quanto ao tamanho da propriedade ou seu nível tecnológico. A cisterna é uma tecnologia disponível para todos. Não há restrições, devendo-se considerar a superfície de captação – exemplo: tamanho do telhado – e a capacidade de investimento do produtor. O tamanho da cisterna e, consequentemente, seus custos estão relacionados a estes dois fatores”.

 

Tipos de cisterna: foto A, enterrada, revestida com manta de polietileno e coberta com lona, instalada em propriedade de criação de suínos; foto B, cisterna de caixa de água, instalada em propriedade de criação de bovinos de leite. Foto: Julio Palhares
Tipos de cisterna: foto A, enterrada, revestida com manta de polietileno e coberta com lona, instalada em propriedade de criação de suínos; foto B, cisterna de caixa de água, instalada em propriedade de criação de bovinos de leite. Foto: Julio Palhares

CUIDADOS COM MANEJO

A qualidade da água de chuva deve ser considerada em três momentos, conforme Palhares: a chuva atmosférica, a chuva após passagem pela área de cobertura e a água na cisterna. “A qualidade pode ser afetada pelos seguintes fatores: localização geográfica da propriedade, presença de vegetação no entorno da área de captação, condições meteorológicas, estação do ano, tipo de cobertura do telhado, condição de conservação da área de captação e o material da cisterna.”

O pesquisador também destaca as medidas de manutenção, com a finalidade de conservar a qualidade da água armazenada na cisterna: as paredes e a cobertura da cisterna devem ser impermeáveis; a cisterna deve ser opaca, evitando a entrada de luz para inibir o crescimento de algas; as entradas de água devem ser protegidas por telas para evitar a entrada de insetos e pequenos animais; a cisterna deve ter uma abertura para ações de inspeção e limpeza; e na entrada da água não deve ocorrer turbulência do conteúdo para evitar a re-suspensão de material depositado no fundo da cisterna.

 

CUSTOS AO PRODUTOR

O custo do sistema depende em grande parte do tamanho da cisterna, poque ela é o componente mais caro e, por isto, seu dimensionamento deve ser criterioso para garantir a viabilidade econômica.

“O custo da cisterna pode representar de 50% a 85% do custo total do sistema de aproveitamento. Outros custos envolvem a colocação de calhas no telhado e canos para distribuição da água. Se uso que se quer dar a água exigir que essa tenha melhor qualidade, haverá custos com sistemas de tratamento (filtros, cloração etc.)”, informa Palhares.

Para ter acesso gratuito ao documento “Captação de água de chuva e armazenamento em cisterna para uso na produção animal”, com dados técnicos e outras informações destinadas ao produtor rural, acesse http://ow.ly/Ybyw304ea08 (link encurtado).

 

Por equipe SNA/RJ

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