A qualidade e a temperatura da água são determinantes na hora de garantir boa parte da produção de peixes, durante o inverno. Os cuidados devem começar ainda no verão, por meio de monitoramento e utilização de boas práticas de manejo, incluindo uma alimentação adequada. Estas ações são consideradas fundamentais para o sucesso da piscicultura, mas se a prevenção não foi feita anteriormente, os produtores podem recorrer ao reforço de rações mais apropriadas e até suplementadas com aditivos.
“Aliado a isto, os cuidados com a qualidade de água devem ser redobrados. Se necessário, é recomendado o aumento da renovação de água no tanque, lembrando que a entrada de água, dependendo da fonte, e o uso de aeradores podem influenciar na temperatura dela no tanque. A aplicação de sal para diminuir o estresse e aumentar a produção de muco também é aconselhado”, aponta a pesquisadora Tarcila Souza de Castro Silva, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados – MS).
De qualquer maneira, ela defende que as práticas de manejo na piscicultura sejam planejadas com antecedência e, dependendo da região, é importante consultar a previsão do tempo.
“É desejável que as práticas de manejo, como arrasto de rede e transporte, sejam realizadas antes da chegada do frio. Assim, os peixes não serão submetidos a mais fatores estressantes, além dos naturais, resultantes da chegada do frio”, explica Tarcila.
SUPLEMENTAÇÃO
Segundo a pesquisadora, outra prática de manejo, que pode ser realizada, é a adição de suplementos, como vitaminas (C e E), aminoácidos, probióticos e prebióticos. “Estas substâncias ajudam a aumentar a imunidade dos peixes, antes de passarem pelas condições estressantes.”
A suplementação deve ser misturada na ração comercial e fornecida alguns dias antes de eventos críticos, como a chegada de uma frente fria. “No entanto, a indicação de cada produto e seu modo de usar deve ser criteriosa e avaliada por um técnico, para melhores resultados econômicos”, alerta Tarcila.
Conforme a especialista, atualmente, esta prática é pesquisada em muitos países, com o objetivo de aprimorar e elevar a eficiência dos resultados da piscicultura. “Em resumo, a prevenção é a forma mais eficiente de evitar os problemas relacionados com o inverno. As estações do ano e a previsão do tempo devem ser consideradas no planejamento e na execução das boas práticas de manejo”, reforça.
CORPO DOS PEIXES
Tarcila explica que os peixes não regulam sua temperatura do corpo, ao contrário dos mamíferos e aves, ou seja, ela varia de acordo com a da água. Ainda cita três fatores principais que, em equilíbrio, determinam a sanidade animal: a condição interna (metabolismo) do peixe, os organismos patogênicos e o ambiente.
“Logo, em temperaturas mais baixas, ocorre o desequilíbrio ambiental com a diminuição do consumo de alimento e crescimento. Além disto, os peixes sentem a grande variação da temperatura, podendo diminuir sua resistência a doenças, ocasionando os surtos e até mortes em um sistema de produção”, alerta.
Com as temperaturas altas, continua Tarcila, o metabolismo dos peixes é acelerado: “É comum alimentar demais os peixes e o ambiente fica próximo do desequilíbrio. Diante disto, os peixes sofrem pela progressiva queda de qualidade de água”.
ZONA DE CONFORTO
Tarcila salienta que “cada espécie de peixe possui uma zona de conforto de temperatura da água para sua sobrevivência e uma temperatura ótima para seu máximo desempenho”.
“Existem espécies de países temperados, como salmão e truta, que vivem bem em águas com 10° C. No caso do Brasil, existem espécies originárias da região Norte, como o tambaqui, que possui uma faixa de temperatura da água da zona de conforto de 25 a 34° C, enquanto que a zona de conforto térmica de espécies situadas mais ao Sul, como o pacu em Mato Grosso do Sul, é de 24 a 30° C.”
Ela ainda destaca os peixes da Bacia Amazônica, que não enfrentam grandes variações de temperatura do ar e, consequentemente, da água a exemplo dos peixes da região Sul de Mato Grosso do Sul. “Desta forma, além da temperatura adequada para cada espécie, deve ser considerada a adaptação à tolerância de grandes variações de temperatura de cada espécie, em particular.”
MANEJO ALIMENTAR
O manejo alimentar também precisa ser adequado para a manutenção da qualidade da água. “As taxas de alimentação devem seguir as recomendações para a espécie criada e a temperatura da água. Aliado a isto, o tratador deve ser bem treinado para observar se os peixes estão consumindo o alimento fornecido e para evitar perdas e deterioração da qualidade da água por excesso de ração”, alerta Tarcila.
A pesquisadora destaca novamente que a manutenção da qualidade da água deve ser priorizada, por meio do monitoramento e utilização das boas práticas de manejo. “O respeito contínuo dos limites recomendados de transparência, oxigênio dissolvido, pH, alcalinidade, dureza, amônia e nitrito ajudam a garantir a qualidade do ambiente de criação”, pontua.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM 2016
Em 2016, várias regiões brasileiras registraram alterações inesperadas de clima. “Com certeza, tivemos muitas mudanças bruscas de temperatura neste ano. Existem anos com mais extremos que outros. Em 2016, por exemplo, estima-se que cerca de 80 toneladas de peixes híbridos (patinga, tambacu e jundiara) foram perdidos, por causa de doenças adquiridas após os períodos muito frio no Sul de MS, muito mais que em 2015”, comenta.
Nesta região sul-mato-grossense, no último dia 17 de agosto, exemplifica Tarcila, a temperatura mínima do ar registrada foi de 16.8° C e a máxima no mesmo dia foi de 33.1° C, sendo que seis dias atrás os termômetros registravam 6.7° C, conforme dados do “Guia Clima”, da Embrapa Agropecuária Oeste (http://clima.cpao.embrapa.br).
“Estas mudanças bruscas, no entanto, são características predominantes de certas regiões do Brasil, sejam elas de diferentes intensidades, mas sempre existiram. Com certeza, elas refletem na piscicultura, por mais adaptada que a espécie criada esteja. Por isto, mais uma vez eu menciono a prevenção como melhor alternativa”, reforça a pesquisadora.
Por equipe SNA/RJ