O plantio da terceira safra de feijão, que ocorre atualmente em alguns pontos específicos do País, não vai resolver os problemas de abastecimento do grão rapidamente. E muito menos reduzir os preços do tipo carioquinha ao consumidor, que subiram 41,78% de maio para junho e 89,26% no ano, segundo o IPCA.
Mais uma vez, a culpa é do clima.
Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe) com produtores da região de Rio Verde (GO), Primavera do Leste e Sorriso (MT), noroeste de Minas Gerais e no Distrito Federal mostra que nem todos os produtores que estão colhendo milho agora vão semear feijão por falta de água nos reservatórios.
“Nestas regiões, esta substituição é natural e seria até maior nesta safra diante de preços tão altos do feijão, mas não choveu o suficiente, e a quantidade de água disponível nessas lavouras, que usam irrigação em 100% dos casos, é um impeditivo. O feijão não se desenvolve sem água”, disse Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Ibrafe.
A seca também é responsável por uma maior infestação de mosca branca que provoca a maior doença das lavouras de feijão, o mosaico dourado. Isso também eleva os custos de produção porque os herbicidas necessários para o combate à doença são em dólar.
“Novamente, com o preço remunerador de hoje do feijão, claro que seria possível comprar os insumos necessários, mas a seca, somada ao dólar mais caro e a alta da energia para manter os pivôs de irrigação, afugentam o produtor”, diz. Segundo o Ibrafe, o custo médio de produção nesta terceira safra é de R$ 6.000,00 por hectare.
O produtor Leonardo Boareto, com 525.000 hectares em Planaltina (DF), afirma que conseguiu semear a leguminosa no fim de maio e que sua propriedade não teve problemas nos reservatórios de água, mas seus vizinhos sim.
“Muitos conhecidos não conseguiram plantar feijão este ano e eu estou sofrendo com uma infestação enorme de mosaico dourado”, afirma.
Boareto diz que parou de chover em abril em Planaltina e, como as temperaturas ficaram muito altas, as moscas reproduziram-se mais rápido desde então. Ele calcula que a produtividade de sua lavoura de feijão neste ano será 20% menor que em 2015, com cerca de 40 sacas por hectare.
Em seu 10º relatório sobre a temporada 2015/16, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reforçou essa tendência de menor plantio de feijão na terceira safra ao reduzir sua estimativa de área de 665.900 hectares em junho para 577.500 hectares na última quinta-feira.
A produção estimada caiu 22,7% entre os relatórios, para 674.900 toneladas. Se confirmada, a quebra em relação à terceira safra do ciclo 2014/15 será de 20,6%, maior que as reduções da primeira safra (8,9%) e também da segunda (19,3%).
“Os reservatórios de água estão abaixo da média histórica, dificultando o funcionamento dos pivôs. Ressalte-se que o cultivo do feijão terceira safra no Distrito Federal [a maior área] é realizado em sua totalidade através de irrigação. Segundo os técnicos contatados, são necessários 500 mm de lâmina d’água nos reservatórios para o funcionamento dos pivôs e atualmente não chega a 100 mm”, diz o texto divulgado pelo órgão.
“Tal situação tem levado os produtores a optarem pela paralisação dos pivôs, evitando custos com energia, mão de obra, etc.”
A situação de abastecimento de feijão e, portanto, a normalização dos preços deve ocorrer apenas no fim do ano ou em janeiro, quando começar a colheita da segunda safra – plantada entre agosto e setembro em mais Estados e em maior área.
“Ainda é muito difícil fazer previsões de algo tão distante, mas meteorologistas apontam possibilidades de geada no Sul do país até setembro. Isso, se ocorrer, dificultará o cultivo”.
Entretanto, com os produtores recebendo atualmente mais de R$ 400,00 por saca de feijão carioca, na comparação com um preço mínimo estabelecido pelo governo para esta safra de R$ 78,00, a tendência é o plantio crescer de qualquer forma, disse Lüders.
Boareto acrescenta que, embora o ciclo de cultivo da leguminosa seja curto (90 dias), o vazio sanitário nas regiões de irrigação não permite novo plantio em Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Distrito Federal até outubro (de 20/09 a 20/10).
“Não tem outro jeito, o Brasil vai ter que esperar a safra do Paraná e a nossa, em menor escala, no início do ano que vem”, disse.
Fonte: Valor Econômico