Culturas de arroz, feijão e trigo têm muito espaço para crescer, indica estudo da Conab

No caso do arroz, a pesquisa da Conab destaca as diversas localidades de produção deste cereal irrigado, como parte das decisões para diversificar a produção. Foto: Divulgação
No caso do arroz, a pesquisa da Conab destaca as diversas localidades de produção deste cereal irrigado, como parte das decisões para diversificar a produção no Brasil. Foto: Divulgação

As altas produtividades alcançadas na produção irrigada são partes do processo de cultivo de arroz, feijão, trigo, entre outras culturas, que inclui principalmente a fertilidade do solo, o manejo da água de irrigação, o controle de doenças e pragas, a escolha de cultivares, o uso de sementes de qualidade e a gestão eficaz da unidade produtiva, com ênfase para os custos de produção.

É o que explica Aroldo Antonio de Oliveira Neto, superintendente de Informações do Agronegócio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ao comentar o relatório “Perspectivas de diversificação e de investimentos na produção de arroz, trigo e feijão – Estudo preliminar”, divulgado no último dia 20 de junho pela estatal.

Segundo ele, no caso do arroz, a pesquisa teve como objetivo “destacar as diversas localidades de produção de arroz irrigado, como parte das decisões para diversificar a produção, mas principalmente para aproveitar a oportunidade que o processo de irrigação possibilita em se ter maior produtividade”.

“É evidente que as condições de produção devem ser analisadas em cada situação, pois os problemas relatados exigem tipo de apoio diferenciado. A resposta para o incremento da produção seria mais rápida que no plantio de arroz de sequeiro, que exigiria um tempo maior de investimentos em pesquisa e políticas públicas integradas.”

 

existem problemas originários da produção de arroz, feijão e trigo que afetam na comercialização destes produtos no País. Foto: Francisco Stuckert/Conab
Existem problemas originários da produção de arroz, feijão e trigo que afetam na venda destes produtos no País, ressalta o superintendente Aroldo Antonio de Oliveira Neto, do setor de Informações do Agronegócio da Conab. Foto: Francisco Stuckert/Arquivo Conab

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

Conforme o relatório da Conab, existem problemas originários da produção de arroz, feijão e trigo que afetam na comercialização destes produtos no País. “Os problemas iniciam na produção ajustada ao consumo de arroz e feijão e na tradicional dependência da importação de trigo para suprir a oferta deste cereal no mercado nacional. Outro ponto a se destacar é a concentração da produção de arroz e trigo na região Sul e a perda de área do feijão, nos últimos cinco anos.”

Ele explica que, ao falar da produção de arroz, que se concentra mais no Sul do País, a partir da premissa de que a área ocupada nesta região tem baixa perspectiva de crescimento, pode ser feita uma pesquisa a respeito do potencial de exploração do sistema irrigado, em outras localidades brasileiras, levando em conta a possibilidade de poder obter respostas rápidas e com maior produtividade.

“Com relação ao trigo, a pesquisa levou em conta que as anomalias climáticas têm exercido influência nas perdas de rendimento e de qualidade do trigo nacional, com impactos no mercado consumidor. Além disto, a partir da informação de estabilidade da área plantada nos últimos dez anos, podemos verificar as experiências e as condições de adaptação do trigo no Centro-Oeste.”

 

REDUÇÃO DE ÁREA PLANTADA

Neto aponta que a motivação para o estudo da produção de feijão, feito pela Conab, teve como origem a constante redução da área plantada, que registra diminuição de 24% nos últimos cinco anos. “A característica de ciclo curto de produção e os problemas climáticos, fitossanitários e de comercialização foram analisados nos principais Estados produtores.”

“Outra motivação para o estudo é a tendência observada do produtor em tomar decisões que levam em conta a busca de plantio de outras culturas de menor risco e mais rentáveis, o que gera a preocupação quanto aos impactos que poderão advir da menor produção e seus reflexos nos preços ao consumidor, de produtos que estão no hábito alimentar saudável da população”, relata o superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento.

Segundo ele, também mereceu destaque “o interesse de promover a proximidade das regiões produtoras ao mercado consumidor, visando à obtenção de impactos positivos nos esforços de logística e de infraestrutura para a comercialização destas culturas no País”.

Neto ainda reforça que a redução da área de feijão tem relação direta com a necessidade de investimentos em pesquisas, que tenham como fundo a redução dos riscos sanitários e de produção. “Observamos a necessidade de realizar pesquisas para o combate aos problemas fitossanitários, desenvolvimento de novas cultivares mais resistentes a pragas e doenças, mais produtivas, adaptadas à colheita mecânica, ao estresse hídrico e de suporte ao sistema produtivo de tipos de feijão demandados pelo mercado exterior, dentro de rentáveis nichos de mercado.”

 

a motivação para o estudo da produção de feijão, feito pela Conab, tem como origem a constante redução da área plantada, que registra diminuição de 24% nos últimos cinco anos. Foto: Divulgação
A motivação para o estudo da produção de feijão, feito pela Conab, tem como origem a constante redução da área plantada, que registra diminuição de 24% nos últimos cinco anos. Foto: Divulgação

INVESTIMENTOS

Outro aspecto importante, cita ele, é o desenvolvimento de pacotes tecnológicos que suportem o aumento de produtividade e a redução de custos de produção, observando as características das regiões de plantio. Para a retomada da produção deste grão, é fundamental investir “em tecnologia para a guarda e a conservação da qualidade do feijão, oferecendo meios para o produtor escolher melhor o momento mais favorável para a venda de sua mercadoria”.

“Em virtude da adoção do feijão para seu plantio, tornam-se imperiosos estudos a respeito da normatização e procedimentos para a inclusão dos produtores de feijão no seguro rural. Considerando que a cultura exige rapidez no processo de venda, dadas as características exigidas pelo mercado, é essencial a participação do Estado no processo de comercialização com instrumentos que ofereçam garantia de preços, evitando prejuízos dos produtores dessa cultura”, sugere Neto.

 

IMPORTAÇÃO

Sobre a produção de trigo no Brasil, o superintendente da Conab destaca que o cultivo deste cereal também se concentra na região Sul, com 93% do total. “Historicamente, o Brasil é dependente da importação de trigo para equilibrar o próprio quadro de suprimento, porque ele tem participação na composição de diversos produtos que estão presentes no hábito alimentar da população brasileira.”

Além das questões climáticas, ele também ressalta os problemas de adaptação do trigo a certas regiões produtoras, além da competição com outras culturas de menor risco e maior retorno econômico. “Estas características têm influenciado a alternância da área plantada nos últimos 12 anos. Outra observação é que a área plantada, neste período, não ultrapassa a marca dos 2,7 milhões de hectares”, diz.

Por outro lado, continua Neto, “os avanços alcançados em melhoramento genético têm concorrido para o aumento da produtividade da cultura, principalmente nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal”.

“Na última safra colhida, a produtividade do trigo atingiu cinco mil quilos por hectare, em Goiás, e seis mil, no Distrito Federal. Em Mato Grosso do Sul, nos últimos cinco anos, a produtividade cresceu 13,68% com rendimento de dois mil quilos por hectare, quando a média nacional se encontra no patamar de 2,2 mil quilos por hectare.

 

Historicamente, o Brasil é dependente da importação de trigo para equilibrar o próprio quadro de suprimento, porque ele tem participação na composição de diversos produtos que estão presentes no hábito alimentar da população brasileira. Foto: Divulgação
Historicamente, nosso País ainda é muito dependente da importação de trigo, pois precisa equilibrar o próprio quadro de suprimento deste cereal, que compõe diversos produtos presentes às mesas dos lares brasileiros. Foto: Divulgação

CONSUMO

Para Neto, as questões das culturas alimentares locais foram deixadas de lado pelo moderno sistema agroalimentar, o que ocasionou uma desconexão da produção e do consumo, ou seja, do produtor e do consumidor.

“Nos últimos anos, temos visto repetidamente um aumento nas discussões sobre as causas do aumento da inflação no Brasil e entre os culpados estão sempre os alimentos. As justificativas, salvo raras exceções, são os problemas climáticos que proporcionam perdas de produção ou produtividade, o que provoca uma pressão dos preços no mercado, a mudança da matriz produtiva focada para os biocombustíveis, a alta dos preços dos derivados de petróleo e problemas de infraestrutura que encarecem o frete, para citar alguns exemplos.”

Neto ainda critica: “Os analistas jamais colocam como fator da alta da inflação dos alimentos questões referentes ao constante aumento do deslocamento dos alimentos, que pode ter sido causado pela concentração da produção em regiões distantes dos consumidores. Não se questiona os efeitos da globalização do sistema agroalimentar, que faz com que a sazonalidade da produção seja abstraída do imaginário popular, causando a sensação de que sempre teremos todos os produtos alimentícios à disposição nas gôndolas dos supermercados, independentemente da época do ano ou da região que vivemos”.

Na opinião do superintendente da Conab, no cenário atual brasileiro, “a produção precisa ir para onde está o mercado consumidor”. “Como estamos lidando com produtos de baixo valor agregado, isto só ocorrerá de forma eficiente se houver infraestrutura que permita fluidez no escoamento, possibilitando uma logística competitiva que gere rentabilidade para o produtor.”

Para mais informações, acesse o documento “Perspectivas de diversificação e de investimentos na produção de arroz, trigo e feijão – Estudo preliminar” em http://ow.ly/dcIz301woT6.

 

Por equipe SNA/RJ

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