“A desobediência leva à inovação”, assim, Edgar Oliveira, pesquisador e apicultor pernambucano, explicou o desenvolvimento de colmeias completamente feitas de gesso, substituindo as tradicionais, de madeira. “O desejo de inovar sempre foi o alvo em todos os meus trabalhos, já fiz colmeia em concreto armado, pedra, tijolos, argila e cabaças, dentre outros materiais, até chegar ao gesso”.
Oliveira explica que a ideia das colmeias veio da necessidade econômica aliada às potencialidades da Região do Araripe, destaque na produção de mel e gesso. “Minhas colmeias estavam muito velhas e o dinheiro curto, então eu precisava baratear os custos. Como eu moro na região maior produtora de gesso das Américas, ficou fácil decidir qual seria o próximo material a ser empregado na construção das caixas”.
A REGIÃO DO ARARIPE
A região do Araripe, no extremo Oeste de Pernambuco, é detentora de 18% das reservas de gesso nacionais, onde as empresas do Polo Gesseiro fabricam 95% de todo o material produzido no País. Além disso, a região possui onze cidades produtoras de mel, uma delas, Araripina, é a primeira colocada no ranking nacional. Isto fez com que Pernambuco passasse de 9º a 8º maior produtor de mel do Brasil, com 2.350 toneladas, segundo o IB GE.
Quando comparadas, colmeias de gesso e madeira, em um mesmo apiário, foi possível constatar aumentos consideráveis na produtividade da colônia em gesso, em torno de 50%”, afirma o pesquisador. Isso foi possível porque a regulação térmica da colmeia, proporcionada pelo gesso, reduziu o estresse das abelhas e produziu um ambiente favorável a produção de mel.
REGULAÇÃO TÉRMICA
A temperatura interna ideal da colmeia gira em torno dos 34 °C a 35°C. A regulação é feita pelas abelhas, que ventilam com suas asas, circulando o ar dentro da colmeia e aspergindo água, tal qual um aspersor que refrigera o ambiente. “Funciona como um ar condicionado”, exemplifica Edgar. “Quando esta temperatura sobe muito, as abelhas param os seus serviços e vão para o lado de fora da colmeia. Quando faz frio, as abelhas aglomeram-se para melhorar o aquecimento interno. É comum nesta situação as abelhas tremerem os seus corpos para aumentar a temperatura corporal e, consequentemente, o aquecimento da colmeia”.
GASTO DE ENERGIA
Acontece que, tanto no calor, quanto no frio, existe um dispêndio enorme de energia e de contingente para realização deste serviço. Mas, nem sempre este objetivo é conseguido de forma satisfatória, o que acarreta uma variação da temperatura interna da colmeia, principalmente dentro do ninho, diminuindo a produção de ovos e proporcionando ambiente favorável para instalação de pragas e doenças.
“Quando a família encontra-se em uma colmeia com isolamento térmico, como as de gesso, existe uma maior estabilidade climática dentro da colmeia, menor consumo de água e maior produção de ovos pela rainha. Pode-se afirmar que a harmonia volta a reinar na colmeia”, explica o apicultor.
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
Após um período de pesquisa, Edgar verificou as qualidades do gesso como: estabilidade química, termo acústica, não contaminante, incombustível, dentre outras. “Tive muito trabalho em conseguir um gesso uniforme que mantivesse sempre a mesma relação volume /densidade. Também havia outro problema que era a permeabilidade do gesso. Passaram-se uns três anos até que entrei em contato com Fábio Lins”.
Fábio Lins é técnico da Gypsum, empresa que há 20 anos atua no ramo de gesso. “Tínhamos que fazer uma colmeia resistente à umidade, uma vez que as abelhas, ao produzirem mel, também produzem água”, explica Lins. “Foi então que, depois de seis meses de testes, chegamos a uma receita de gesso com capacidade impermeabilizante, com secagem rápida de até 30 minutos”.
INVESTIMENTO
As colmeias ainda não estão à venda comercialmente. Edgar Oliveira estima que o investimento, por colmeia, é de aproximadamente R$ 150,00. “Não é um investimento alto devido às vantagens que ela pode oferecer para a produção e, principalmente, para o conforto das abelhas”. As colmeias em gesso ainda estão sendo submetidas a alguns testes antes do seu lançamento em escala comercial.
OUTRAS MEDIDAS
Enquanto a novidade não chega ao mercado, outras medidas podem ser tomadas para colaborar com o conforto térmico e aumento da produtividade dentro das colmeias. “As nossas abelhas, africanizadas, necessitam de alvéolos ou células de tamanho diferente das utilizadas pela maioria dos apicultores. São células de 4,6 mm, que proporcionam um melhor conforto para a postura da rainha e diminuem a incidência de pragas, principalmente a Varroa. Além disso, melhora ainda mais o conforto térmico e proporciona um aumento significativo no espaço útil na colmeia. A colocação de mais um quadro no ninho, que antes tinha 10 e agora tem 11 ou 12, também influencia positivamente no controle climático do ninho”, conclui Edgar Oliveira.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 707/2015