Café: Com chuvas, colheita da safra 2016/17 é paralisada e qualidade dos grãos prejudicada

A chuva nos últimos dias tem causado prejuízos em diversas lavouras do cinturão produtivo de café do Brasil e, inclusive, paralisado os trabalhos no campo em algumas localidades. Com maior volume de precipitações nesta época do ano, não há como os cafeicultores realizarem adequadamente a colheita. Os frutos que caem no chão perdem qualidade e, consequentemente, valor de mercado. Além disso, a maior umidade também atrapalha na secagem dos grãos já colhidos no terreiro.

Segundo o cafeicultor Diego Barzagli, as lavouras na região de Poços de Caldas (MG) recebem chuvas há oito dias e os trabalhos de colheita estão paralisados. “Não sabemos onde teremos menos perdas, se deixando o café cair ou com ele no terreiro. Nas duas formas há chances de perda na qualidade”, afirma o produtor que já teme não conseguir honrar contratos e financiamentos caso a situação perdure por mais tempo. “Sabemos que já temos perdas, mas só vamos conseguir quantificar na volta aos trabalhos”.

Barzagli chegou a colher parte de sua produção de café. Cerca 15 sacas de 60 kg do grão estão no terreiro e protegidas por lona.

Segundo o engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, em Franca (SP), Marcelo Jordão Filho, o principal impacto das chuvas na colheita do café é realmente a perda de qualidade dos grãos. “O fruto em contato com a terra sofre fermentação, deixa de ser de árvore e passa a ser varrição. Além disso, as precipitações também atrapalham a secagem no terreiro e favorecem a proliferação de fungos”, diz.

A orientação para o produtor, quando o fruto já está no terreiro e ainda com umidade está abaixo de 30%, é que ele seja coberto. Também há no mercado produtos à base de cloro que ajudam a diminuir a umidade, disse Filho.

No início de maio, o meteorologista e pesquisador em Agrometeorologia e Climatologia da Embrapa Café (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e pesquisador da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), Williams Pinto Marques Ferreira, já havia alertado aos produtores de café, em entrevista ao Notícias Agrícolas, sobre a possibilidade de chuvas acima da média durante o período de colheita, principalmente, nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.

O especialista, inclusive, alertou sobre os impactos que essas chuvas poderiam ocasionar na próxima safra. “O café é uma planta que apresenta os estágios vegetativo e reprodutivo simultaneamente e as chuvas atuais podem provocar uma florada precoce, que normalmente é perdida por falta da continuidade das chuvas nesse período para assegurar umidade suficiente para o ‘vingamento’ dessas floradas”, disse Ferreira.

Com a antecipação da florada, a planta gasta energia desnecessária e o potencial produtivo da próxima safra acaba sendo prejudicado. A próxima temporada comercial 2017/18 será de bienalidade baixa para a maioria das regiões produtoras.

No final de maio, algumas lavouras de café na região de São Pedro da União (MG), no Sul do estado, também registraram perdas com chuvas de granizo. O cafeicultor Rovanio Carlos Correia teve prejuízos em seus cinco hectares de lavouras de café. Ele estima que cerca de 10% dos frutos que estavam nas plantas caíram e serão perdidos.

De acordo com mapas climáticos da Somar Meteorologia, uma frente fria avança pelo Sudeste nesta semana levando chuva forte, de até 120 milímetros, à Baixa Mogiana, Sul e Zona da Mata de Minas Gerais e ao Espírito Santo. Há risco de chuvas de granizo em áreas de café.

Reflexos na Bolsa de Nova York

As informações sobre as chuvas atrapalhando a colheita no Brasil chegaram até a Bolsa de Nova York, referência para o mercado do café arábica. As cotações futuras registraram na última semana uma alta acumulada de 4,78% no vencimento julho/16, referência de mercado, saindo de 1,2130 cents/lb para 1,2710 cents/lb na sexta-feira (3), quando os principais vencimentos tiveram alta de cerca de 400 pontos.

“Neste momento de colheita, essas precipitações atrasam os trabalhos no campo e podem prejudicam a qualidade do café já colhido pelos produtores”, disse ao Notícias Agrícolas o analista da Origem Corretora, Anilton Machado.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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