Maior preço da história obriga brasileiro a pôr mais água no feijão

O preço do feijão bateu recorde de preço nos últimos meses. A valorização do feijão carioca foi de 44% e do preto 13% nos últimos 12 meses. Somente em 2016, o incremento chegou a 15% e 17%, respectivamente, enquanto que a média da inflação geral acumulada de janeiro a abril foi de 3,25%. Os dados são do Departamento de Economia Rural (DERAL).

O empresário Ricardo Baldini sente os números do aumento dos preços no bolso e faz malabarismos com o cardápio de casa. “Primeiro eu troquei de marca e mais recentemente eu reduzi meu consumo. Inclusive cheguei a substituir o feijão por itens como quirera”, diz Baldini. Nas grandes redes, o quilo do carioca hoje é vendido, em média, a R$ 5,69 e a R$ 4,57 o preto. Há um ano, a média não passava de R$ 3,96 para o carioca e R$ 4,03 o feijão preto.

Por outro lado, enquanto os consumidores precisam ajustar as contas no final do mês, os produtores nunca receberam tanto pela saca do feijão. Com a baixa disponibilidade do grão os preços atingiram médias históricas e em abril o feijão carioca era cotado a R$ 208,39 e o preto em R$ 142,82. Em um ano a valorização foi de 75% e 29%, quando os produtores recebiam até R$ 119,20 no carioca e R$ 110,51 no feijão preto.

Segundo o DERAL, a escalada da cotação se deve, além da inflação, à escassez da oferta de um produto de maior qualidade. O produto este ano teve menor área destinada ao plantio e a problemas climáticos que afetaram a safra nos principais estados produtores. O Paraná é o maior produtor do grão no País, com uma colheita média de 742.600 toneladas por ano. O número corresponde a 23% de tudo o que é colhido no País (média de 3.299 milhões de toneladas).

Apesar do preço, cenário é desfavorável.

No Paraná, segundo o último levantamento do DERAL, a área estimada para a primeira safra de feijão (o estado tem três ciclos) é de 182.600 hectares, 5% menor que os 192.700 hectares cultivados em 2014/15. Os estragos foram causados pelo excesso de chuva que atingiu o estado entre outubro do ano passado e o início deste ano, atrasando o plantio e prejudicando a colheita da primeira safra. Até o momento, as perdas chegam a 11% e os produtores devem colher 289.900 toneladas na primeira safra.

A segunda safra também sofreu perdas causadas pelo excesso de chuva no início do ciclo e a estiagem de abril. Com uma área plantada de 205.500 hectares e 79% colhido até semana passada, os produtores esperam colher 318.000 toneladas, 17% abaixo da safra passada e uma redução de 21% em relação à expectativa inicial de 400.000 toneladas.

Em Guarapuava, no centro-sul do estado, além da umidade, a geada registrada em maio atingiu as lavouras em floração e prejudicou o desenvolvimento das plantas. “A quebra foi grande. Os produtores estão colhendo 30% daquilo que poderia render. Eu pretendia colher 3.000 quilos por hectare, mas estou colhendo 900 quilos. Os preços estão altos, mas não compensam as perdas. Hoje consigo apenas equilibrar os meus custos de produção”, afirma o vice-presidente do Sindicato Rural de Guarapuava e produtor rural, Anton Goda. Além da quebra, segundo Goda, a qualidade é muito baixa.

Fonte: Gazeta do Povo

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