Firme no propósito de expandir suas fronteiras no país, a Algar Agro, braço de agronegócios do grupo mineiro Algar, agregou, no ano passado, Mato Grosso e Rio Grande do Sul à lista de Estados nos quais adquire grãos no País.
Além de reduzir a dependência de originação das regiões Norte e Nordeste, a empresa, com as novas fronteiras de atuação, continua a reforçar sua musculatura e a ganhar escala. Assim, apesar dos ventos contrários na economia, continua a investir em um projeto de cogeração de energia elétrica e na ampliação, em 30%, da capacidade de sua esmagadora de soja em Porto Franco, no Maranhão.
“Até 2017, nossos investimentos se concentram entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões por ano. A crise não está mudando em nada nosso plano estratégico”, garantiu Murilo Braz Sant’Anna, CEO da Algar Agro, em entrevista ao Valor.
Em 2015, a Algar elevou em 20% sua originação de grãos, para 1.8 milhão de toneladas, entre soja e milho – a companhia começou a comprar o cereal no ano passado. A meta é crescer mais 25% em 2016 e pavimentar o caminho para chegar perto de 4 milhões de toneladas em 2018. “Há outros dois Estados que nos interessam: Goiás e Paraná. Mesmo que o mercado paranaense seja dominado por cooperativas, podemos dar nossos primeiros passos por lá. Mas tudo com muita cautela”, disse Sant’Anna.
A Algar Agro faturou R$ 2.2 bilhões no ano passado, 16% mais que em 2014 e montante equivalente a cerca de 45% da receita total do grupo Algar. “Não foi só crescer. Mostramos uma geração de caixa positivo de quase R$ 300 milhões”.
A estratégia de avançar para as mais tradicionais regiões produtoras de grãos do Centro-Sul – que tomou corpo há um ano, com a chegada de Sant’Anna à Algar Agro – foi determinante para diminuir o risco de oferta no “Matopiba” (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Nessa região, que tem sofrido na atual safra 2015/16 com a seca turbinada pelo fenômeno El Niño, a empresa origina a maior parte do que movimenta, em torno 1 milhão de toneladas, seguida por Minas Gerais, berço da companhia. “Quando você está posicionado em apenas dois mercados, fica muito suscetível a uma crise em algum lado. No nosso caso, temos agora outras opções de mitigar ocorrências negativas”, disse.
No ano passado, a Algar fechou o embarque de 66.000 toneladas de soja do Rio Grande do Sul. De Mato Grosso, foram 79.000 toneladas da oleaginosa, e outras 66.000 toneladas da safrinha de milho. A empresa também começou em 2016 a fazer “barter” (troca de insumos pela entrega futura de grãos), inicialmente em Minas Gerais, mas o serviço deve chegar ao “Matopiba”.
Na outra ponta da cadeia, a companhia mantém duas esmagadoras de soja: uma na sede, em Uberlândia (MG), e outra em Porto Franco (MA). A primeira vai abrigar o projeto de cogeração, que absorverá R$ 25 milhões e contemplará toda a necessidade de energia do parque industrial da Algar Agro. A segunda terá um aporte semelhante para ampliar de 1.500 para 2.000 toneladas a capacidade diária de processamento de soja.
“Em Porto Franco, estamos fazendo todo o detalhamento técnico e cremos que em 2017 tenhamos a fábrica rodando nesse volume. Já a obra de cogeração devemos concluir até abril do ano que vem”, disse Sant’Anna. A empresa continua a destinar recursos também à modernização de seus 15 armazéns.
Presente no varejo com a marca ABC, cujo carro-chefe é o óleo de soja, a Algar quer entrar em novos mercados na área de alimentos e ingredientes. Sant’Anna não detalhou o que exatamente está no radar da empresa, mas adiantou que o avanço nesta frente será “mais via aquisição do que crescimento orgânico”.
Mesmo com essa ambição no mercado doméstico, a companhia permanece interessada em ganhar musculatura no mercado externo. Em 2015, o processamento interno de soja e as exportações tiveram pesos iguais na geração de caixa, mas o objetivo é que as vendas externas passem a representar 70%. “O mercado doméstico, nas condições macroeconômicas que temos hoje, limita o crescimento. E o mercado global faz todo sentido para nós, porque não tem demanda restrita e trabalha com moeda forte”, disse.
Isso não significa que a Algar Agro planeje investimentos pesados em portos no curto prazo. Conforme Sant’Anna, a movimentação prevista para os próximos anos não justifica “alocar um ativo muito forte em um único lugar, porque provavelmente ele não vai ficar rentabilizado”. Mas isso “não quer dizer que não vamos ter. Só que, nos próximos dois a três anos, não será a nossa grande prioridade”. O executivo defende o que chama de “inteligência logística”. “Não temos posição no Tegram [Terminal de Grãos do Maranhão], por exemplo, mas um dos primeiros barcos que saíram de lá era nosso”.
Fonte: Valor Econômico