Algumas das companhias mais proeminentes do país, incluindo a Petróleo Brasileiro SA e a mineradora Vale SA, estão vendendo ativos cujo valor se encontra em seu menor nível em anos em meio à crise econômica e política que assola o País.
Ambas empresas e outras firmas brasileiras estão se esforçando para reduzir o alto endividamento por meio de desinvestimentos. Só a Petrobras e a Vale estão procurando se desfazer de até US$ 20 bilhões em ativos, tornando o Brasil um mercado atrativo para investidores com o perfil de risco adequado.
“Os investidores de private equity veem um país que é bom para o investimento de longo prazo”, diz Fernando Borges, diretor-gerente no Brasil e na América do Sul da firma de private equity Carlyle Group. “O Brasil é um país grande, com uma população jovem grande e uma classe média grande […] agora pode ser um bom momento para entrar.”
A Vale, maior mineradora de minério de ferro do mundo em receita, tem sido atingida pela queda no preço da commodity. Ela informou em fevereiro que estava estudando a venda até mesmo de ativos essenciais para reduzir sua dívida, que alcançava US$ 25 bilhões no fim de 2015, para US$ 15 bilhões em 18 meses. Isso se soma ao atual plano da empresa de vender entre US$ 4 bilhões e US$ 5,5 bilhões em ativos não essenciais.
A Petrobras, diante do seu envolvimento no escândalo de corrupção da Lava Jato e da queda nos preços do petróleo, tem afirmado que quer vender US$ 15 bilhões em ativos até o fim deste ano e outros US$ 42 bilhões até o fim de 2018 em um esforço para reduzir seu gigantesco endividamento.
A empresa incluiu sua unidade na Argentina no bloco de ativos a serem vendidos, junto com algumas operações de distribuição de energia, uma parte do negócio de distribuição de gás natural e alguns campos de petróleo menos valiosos, entre outros ativos. A ampla gama de ativos à venda está atraindo até mesmo alguns concorrentes locais em melhores condições financeiras que a Petrobras.
“A Petrobras tem ativos interessantes que nós vamos avaliar”, diz Rubens Ometto, presidente da Cosan SA, produtora brasileira de açúcar e etanol. Ele citou o gás natural como um setor que a empresa tem interesse. A Cosan tem uma joint venture com a holandesa Royal Dutch Shell, a Raízen, que distribui gasolina e álcool no Brasil.
Mas não só apenas grandes empresas que estão sendo forçadas a vender ativos. A economia brasileira recuou 3,8% em 2015 e a estimativa é que encolha o mesmo tanto este ano. A crise está causando um aumento no número de empresas que estão pedindo recuperação judicial. Só no primeiro trimestre, 409 recorreram ao mecanismo, mais que o dobro que um ano antes, de acordo com a Serasa Experian.
Companhias em dificuldades financeiras são alvos naturais de aquisição. Bancos de investimento do país estão vendo grande interesse por parte de investidores internacionais de olho em possíveis fusões e aquisições no Brasil e esse movimento deve se acelerar até o fim do ano, de acordo com Alberto Fernandes, vice-presidente do Itaú BBA.
O volume de operações de fusões e aquisições no Brasil somaram R$ 109 bilhões no ano passado, abaixo dos R$ 192,7 bilhões de 2014, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Mas os investidores a procura de ganhos rápidos devem tomar cuidado. Mesmo nos atuais níveis baixos de preços, pode levar anos até que qualquer investimento gere lucro considerando a crise atual.
“O Brasil é para investidores que estão em busca de retorno em um horizonte de dez anos”, diz Martin Escobari, diretor na América Latina da firma de private equity americana General Atlantic. “Você tem que ter a capacidade de atravessar esse período, porque deve haver muita volatilidade ao longo dos próximos dois anos.”
A volatilidade é resultado de vários fatores. Não é a investigação de corrupção Não é só a operação Lava Jato, centrada na Petrobras, que pesa fortemente sobre setores importantes de petróleo e construção do país. A economia, em geral, está afundando, sofrendo sua maior contração em 35 anos em 2015.
E o processo de impeachment contra o presidente Dilma Rousseff anima os mercados, mas é bastante improvável que ele conduza o país a uma recuperação econômica rápida.
Embora a mudança de regime esteja no ar, o legado do governo de interferir em setores-chave da economia brasileira mantém alguns investidores ainda às margens, esperando para tomar uma decisão depois que se defina um possível governo pós-Rousseff.
Um bom exemplo é o abatido setor de energia elétrica do Brasil. Controles sobre os preços de varejo colocados em vigor por Dilma golpearam os distribuidores de energia e desencorajaram algumas geradoras de fazer investimentos adicionais.
Esses controles foram suspensos, mas os investidores continuam cautelosos. Na quarta-feira, o governo federal tentou leiloar 24 contratos de concessão de linhas de transmissão; mas recebeu apenas 14 lances.
A interferência do governo criou sérias dúvidas sobre a estabilidade do arcabouço regulamentar do Brasil, diz Alexandre Furtado, analista da consultoria de investimentos Lopes Filho & Associados, no Rio de Janeiro.
Fonte: The Wall Street Journal – USA