O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) acaba de publicar portarias definindo o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a soja em Sergipe e Alagoas para a safra 2015/2016. Isso significa sinal verde para financiamento bancário e seguro agrícola para o plantio do grão em diversas regiões desses estados, que têm pouca tradição para a cultura, mas com boas perspectivas de produtividade.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O objetivo é minimizar os riscos climáticos, permitindo a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.
Atualmente, os estudos são conduzidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que desenvolveu e validou as metodologias. Desta forma são quantificados os riscos climáticos envolvidos na condução das lavouras que podem ocasionar perdas na produção. Esse estudo resulta na relação de municípios indicados ao plantio de determinadas culturas, com seus respectivos calendários de plantio.
Os trabalhos são coordenados pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) e por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores de várias Unidades da Embrapa. A pesquisadora Ana Gama, agrometeorologista da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) e integrante da equipe de Zoneamento da Embrapa, participou dos trabalhos de análise dos dados e parâmetros de clima e solo de cada município, além dos ciclos de cultivares de soja para os dois estados.
Esses estudos foram publicados no Diário Oficial da União do dia 4 de abril de 2016, através das portarias 359 (Alagoas) e 364 (Sergipe) do MAPA, que relatam os municípios aptos ao cultivo da soja e os períodos indicados para a semeadura, além de outras informações técnicas.
As portarias detalham também, em nota técnica, a produção nacional de soja no País na safra 2014/2015 (96.2 milhões de toneladas), os fatores limitantes da produção, as características climáticas, hídricas, crescimento vegetativo, floração, semeadura, colheita e até a evapotranspiração.
Para fazer jus ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e à subvenção federal ao prêmio do seguro rural, o produtor deve observar as recomendações desse pacote tecnológico. Além disso, os agentes financeiros condicionam concessão do crédito rural aos níveis de risco considerados favoráveis no zoneamento.
Diversificação
Os pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros comemoram o zoneamento agrícola para a soja como forma de diversificar culturas principalmente em regiões onde predominam o milho e a cana-de-açúcar.
O plantio de uma só cultura, como é o caso do milho, em Sergipe, e da cana-de-açúcar, em Alagoas, pode gerar riscos de comercialização e problemas com pragas e doenças. O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Sérgio Procópio, alerta que, com a monocultura, no caso de uma queda brusca do preço do milho ou da cana-de açúcar, por exemplo, toda a região pode ser afetada, com grandes perdas econômicas para os produtores. Além disso, a monocultura favorece a proliferação de pragas e doenças, podendo gerar maiores riscos fitossanitários.
O pesquisador vem há três anos realizando ensaios de campo com 55 cultivares de soja no estado de Sergipe, na estação experimental de Frei Paulo, no Agreste Central Sergipano, e observou que a grande maioria dos materiais apresentou produtividade acima da média brasileira indicando alto potencial produtivo nas regiões dos Tabuleiros Costeiros e Agreste. “Bons produtores de milho apresentam os atributos para serem bons produtores de soja”, afirma Procópio. Na nota técnica publicada no Diário Oficial estão listadas as cultivares de soja indicadas para as diversas regiões de Alagoas e Sergipe.
Perspectivas
Com a publicação do Zoneamento, começam a se abrir os caminhos para uma nova fronteira agrícola para a produção de grãos no Nordeste. A região, apelidada pelos pesquisadores de SEALBA (junção das siglas de Sergipe, Alagoas e Bahia), foi identificada pela Embrapa Tabuleiros Costeiros como de alto potencial agrícola, ainda pouco explorado.
A grande vocação sergipana para o milho, aliada à necessidade de diversificação da monocultura da cana pelos alagoanos e ao crescimento da soja na Bahia, são fatores importantes para esse novo cenário. As perspectivas são ainda mais positivas por conta do Terminal Portuário Inácio Barbosa, a poucos quilômetros da capital sergipana, um porto graneleiro com capacidade de escoamento da produção para o exterior.
Valdeilson Paiva, gerente da VLI, empresa de logística vinculada à Vale, que comanda as operações Porto de Sergipe, também comemora o Zoneamento Agrícola. “Isso é um marco. Sergipe passa a entrar na rota da soja no Brasil. O Porto de Sergipe está pronto para recepcionar e exportar toda a soja produzida no estado, como também de Alagoas e Bahia”. No ano passado, o terminal marítimo carregou três navios com soja vinda da Bahia.
A expectativa é grande também para o Secretário de Agricultura de Sergipe, Esmeraldo Leal. “Já existe predisposição dos produtores para o plantio de soja”, disse o secretário que somou aos esforços da Emdagro, Embrapa e da gerência do Porto de Sergipe para deslanchar o plantio de soja em Sergipe.
Fonte: Embrapa