As chuvas intermitentes e o forte calor que marcaram a atual safra 2015/16 de soja no “Matopiba” já tornaram realidade uma queda drástica na produtividade da região, confluência entre os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Com o início da colheita, há relatos de rendimentos quase 60% abaixo do ciclo passado, que ficou próximo de 50 sacas por hectare.
“A coisa está realmente complicada. O Piauí começou com a perspectiva de produzir 2 milhões de toneladas de soja, mas hoje já trabalhamos com 1,2 milhão e ainda temos dúvida se esse número se manterá”, diz Altair Fianco, produtor em Uruçuí e membro da Aprosoja-PI, associação que representa os produtores locais. Com 30% das lavouras colhidas, a média de rendimento no município está em 20 sacas por hectare.
Intempéries viraram rotina em boa parte do “Matopiba”, colocando em risco os investimentos no desenvolvimento de terras nessa jovem fronteira agrícola. Este ano, o fenômeno El Niño virou do avesso o clima na região – e de forma mais aguda e generalizada que em Mato Grosso, principal produtor de grãos do país, que também sofreu com a escassez de chuvas. A estiagem atrasou a semeadura entre outubro e dezembro. Em janeiro, foi a vez do excesso de precipitações, interrompido em fevereiro com o retorno do tempo seco. As chuvas só voltaram neste mês.
Do “Matopiba” devem sair 10% (pouco mais de 10 milhões de toneladas) da soja que o país vai colher em 2015/16. No início de março, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu uma média de 44 sacas por hectare na região, mas técnicos da autarquia foram a campo reavaliar a situação, e revisões para baixo podem aparecer no relatório de abril.
Conforme Fianco, a área com soja ficou menor no Piauí. A previsão inicial era de 705 mil hectares, mas houve uma queda para 621 mil devido à falta de umidade que estimulou a migração para o milho. “Foi o primeiro ano em que a área de soja diminuiu no Estado”, afirma.
No Maranhão, muitos também desistiram da soja. “Como não choveu até 17 de novembro, não comprei sementes nem adubo. Ainda bem, porque a chuva seguinte foi só em 4 de janeiro”, diz Raimundo Nonato, de Benedito Leite (MA), que optou pelo milheto.
No ano passado, Nonato perdeu a produção por falta de chuvas na germinação. Este ano, relata, seus vizinhos perderam até 50% da safra e estão colhendo 30 sacas por hectare. Em todo o Maranhão, a estimativa é de uma quebra de 40%, segundo Valdir Zaltron, presidente do Sindicato Rural de Balsas.
A SLC Agrícola, importante produtora agrícola, reduziu em 5,6%, para 50 sacas por hectare, sua perspectiva de produtividade da soja em 2015/16 devido ao desempenho negativo no “Matopiba”, onde tem nove fazendas. Já a Vanguarda Agro encerrou atividades no Piauí.
De modo geral, os problemas foram maiores com a soja plantada mais cedo. Nos municípios de Tocantinópolis, Aguiarnópolis e Darcinópolis, em Tocantins, a média nas lavouras precoces ficará entre 35 e 40 sacas, quando o normal seriam 48 sacas, afirma Gilmar Gonçalves de Carvalho, presidente do Sindicato Rural de Tocantinópolis. Ele crê, porém, que a soja tardia pode trazer resultados melhores.
A colheita menor já colocou os agricultores em alerta, porque muitos negociaram a soja antecipadamente e agora temem não ter os volumes contratados. Segundo Carvalho, 50% da safra local já foi vendida para entrega até o fim de abril, à média de R$ 70 por saca. Atualmente, os valores estão entre R$ 62 e R$ 63 e não há negócios.
Com uma estimativa inicial de 56 sacas de soja por hectare, os produtores do oeste da Bahia venderam 60% da safra esperada. Mas o clima adverso deve permitir apenas 37 sacas, calcula a Aiba, associação de agricultores do Estado.
Há 10 dias, a Aiba e outros representantes dos produtores baianos pediram ao governo estadual que fosse decretado estado de emergência em nove municípios. O objetivo é abrir caminho para uma renegociação de dívidas junto ao governo federal, uma vez que os prejuízos com a quebra da safra na Bahia são estimados em R$ 2 bilhões, incluindo as perdas com o milho.
A colheita na Bahia deveria começar em abril, mas foi antecipada porque muitas lavouras “morreram antes do tempo”, diz Júlio Busato, presidente da Aiba. “As baixas produtividades estão se confirmando e a qualidade dos grãos está muito ruim”.
Fonte: Valor Econômico