O ano de 2015 foi positivo para alguns setores do agronegócio brasileiro, apesar da crise econômica enfrentada pelo País, que acabou resultando em uma leve queda no Produto Interno Bruto da agropecuária. Mesmo assim, o segmento deve fechar o ciclo com desempenho acima do PIB nacional, segundo avaliação do vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura Hélio Sirimarco.
Para embasar sua análise, ele cita dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). A entidade mostra que, no acumulado de janeiro a setembro (dados mais recentes), o PIB do setor agropecuário caiu 0,51%, projetando uma queda anual de 0,7% em relação a 2014. A redução atinge tanto a agricultura (- 0,49%) quanto a pecuária (- 0,54%).
“As quedas mais expressivas, segundo o Cepea, ocorreram no segmento industrial (-1,31% até setembro), mas os resultados do segmento primário e de serviços do agro, no mesmo período, também recuaram 0,30% e 0,64%, respectivamente. O único setor que cresceu foi o de insumos (1,22%), puxado pela alta dos preços dos fertilizantes causada pela alta do dólar”, aponta Sirimarco.
O vice-presidente da SNA ressalta que o Brasil vem aumentando a produção agrícola, há mais de duas décadas, e hoje é o maior exportador mundial de soja, carne bovina, café, açúcar e suco de laranja.
“Segundo estimativa do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com a ajuda dos preços internos mais altos, a renda da agricultura (Valor Bruto de Produção – VBP) deverá atingir um volume recorde de R$ 487.3 bilhões em 2015, e crescer mais 0,2%, para R$ 488.1 bilhões em 2016.”
Sirimarco destaca também que o dólar segue como fator positivo para as exportações, “mas sua valorização, unicamente, não tem sido suficiente para compensar a queda registrada dos preços internacionais”.
Segundo o balanço de 2015, divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações das principais commodities da agricultura brasileira registraram um novo aumento, que vem garantindo o crescimento da produção agrícola. O volume embarcado de milho e soja (grão e farelo) totalizou 98.07 milhões de toneladas.
A estimativa é que, em 2016, o volume exportado deva ultrapassar a barreira das 100 milhões de toneladas, seis anos depois de ter ultrapassado 50 milhões de toneladas. As 98 milhões de toneladas de 2015 representam um volume duas vezes maior que as 48.6 milhões de toneladas de 2009, ou seja, o volume dobrou em seis anos.
As exportações de soja em grão nos 12 meses de 2015 atingiram um recorde de 54.32 milhões de toneladas contra 45.6 milhões de toneladas em 2014.
A queda nas cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago influenciou na receita em 2015. No período, o saldo obtido com as exportações foi 13,43% menor que o valor registrado em 2014. No acumulado do ano, o faturamento foi de US$ 20.1 bilhões contra US$ 23.2 bilhões do ano anterior.
“A surpresa ficou por conta do milho, que teve as estimativas elevadas nos últimos meses do ano passado, fechando o período com 28.9 milhões de toneladas exportadas, o maior volume já registrado”, comenta Sirimarco.
O aumento das exportações mostra-se surpreendente mesmo, destaca o vice-presidente da SNA, quando comparado ao crescimento da produção. Para dobrar a colheita de grãos de 100 milhões para 200 milhões de toneladas, o País levou 14 anos, ou seja, o dobro do tempo necessário para duplicar as exportações das principais commodities agropecuárias. “Isto indica que o crescimento da produção é voltado justamente ao mercado externo.”
As exportações devem continuar crescendo em 2016 devido justamente ao aumento da produção. A safra de soja se aproxima pela primeira vez de 100 milhões de toneladas na temporada 2015/16 e a produção total de milho (verão e inverno) tende a manter-se acima das 80 milhões de toneladas.
PARCEIROS
Em relação às exportações do agronegócio brasileiro por blocos econômicos e regiões geográficas, no período de janeiro a novembro de 2015, a Ásia permaneceu como principal destino dos produtos brasileiros, seguida da União Europeia.
No que diz respeito aos países, a China continua como principal importador do agro nacional, totalizando US$ 20.65 bilhões, de janeiro a novembro de 2015. Os Estados Unidos foram o segundo maior importador, com US$ 5.89 bilhões. Em terceiro lugar aparece a Holanda, com US$ 4.64 bilhões.
PERSPECTIVAS PARA 2016
Para 2016, a maior preocupação do setor produtivo é o crédito, acredita o vice-presidente da SNA. “A liberação dos recursos do Plano Safra 2015/16 está atrasada e os produtores têm encontrado dificuldade na contratação de empréstimos a juros subsidiados previstos no Plano Plurianual Agrícola.
Segundo as instituições bancárias, a queda dos depósitos à vista e da poupança tem limitado o atendimento. São preocupantes as informações que o crédito para investimento estaria sofrendo forte queda, o que pode vir a comprometer o crescimento de 2016”, destaca Sirimarco.
Ele ainda cita avaliação do professor Geraldo Barros, coordenador do Cepea, apontando que “a agropecuária brasileira é movida essencialmente por tecnologia, que alcança os produtores rurais por meio de novos insumos (sementes e melhoria genética animal, agroquímicos, maquinários, etc.) e novas práticas agronômicas e administrativas capazes de enfrentar ou mitigar os contínuos desafios ligados ao clima e à incidência maior de pragas e doenças e à volatilidade dos mercados”.
Conforme o professor, são fatores que tornam o segmento bastante intensivo no uso de crédito. “O prolongamento da crise econômica e política tem grande potencial de atingir o processo de crescimento do agronegócio brasileiro ao reduzir o volume e aumentar o custo do crédito e de outros instrumentos de política agrícola (seguro e apoio à comercialização, pesquisa e extensão), dado o constrangimento fiscal”, comenta Barros, no documento do Cepea.
LOGÍSTICA
No que diz respeito à logística de escoamento das produções agrícolas do País, Sirimarco cita observação da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), apontando que, com seguidas safras recordes, como a estimada para 2016, “continuará havendo dificuldades de escoamento, em função da infraestrutura inadequada e do crescimento da produção de grãos nas novas fronteiras do Centro-Oeste e na região do Matopiba (que inclui municípios dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”.
“As condições críticas de escoamento se encontram no trecho Sinop-Miritituba-Santarém e na BR-158/155, que leva a soja de Mato Grosso ao Pará”, destaca.
“Os gargalos para a exploração da hidrovia do Tocantins, o ano todo, são a falta de asfaltamento e a manutenção de suas rodovias, bem como a necessidade de derrocamento do Pedral do Lourenço. Também causa preocupação a indefinição sobre o modelo de exploração de ferrovias, pois o trecho Palmas (TO)–Anápolis (GO) não está sendo usado. A produção no Matopiba deve crescer, em 2016, cerca de 9%, para 11.5 milhões de toneladas. No Pará, prevê-se estabilização em torno de 1 milhão de toneladas.”
Segundo Sirimarco, a exportação pelo Arco Norte é uma realidade. “Em 2014, as exportações agregadas dos portos de São Luís (MA), Barcarena (PA), Santarém (PA) e Manaus/Itacoatiara (AM) totalizaram 6.5 milhões de toneladas. Em 2015, os dados oficiais indicam que as exportações deverão ultrapassar as 10 milhões de toneladas. Esse crescimento advém da posição geográfica favorável da região em relação às regiões produtoras e aos centros consumidores. Partindo desses portos, os navios economizam vários dias em viagens ao exterior.”
DÓLAR EM ALTA
Para o vice-presidente da SNA, a alta ainda maior na cotação do dólar no mercado interno, deve ser a forma de compensar a queda dos preços agrícolas internacionais.
“É sempre bom lembrar que a tendência mundial do dólar é de elevação, o que pode impactar negativamente os preços internacionais. Existe um consenso no mercado que o recrudescimento da inflação fatalmente levará as autoridades monetárias a elevar mais os juros, causando prejuízo ao agronegócio.”
Por equipe SNA/RJ com informações do Cepea/Esalq-USP e Secex