O ano de 2016 deve ser difícil para os produtores rurais do Estado de Espírito Santo, que tem no café seu carro chefe da economia primária. “Já se prevê o comprometimento da safra por causa do prolongamento de fatores adversos ocorridos neste ano, que comprometeram a florada do café, além do significativo atraso na recuperação das pastagens, provocada pela seca, que ainda se faz notar na maior parte do Estado, em plena época da estação chuvosa”, comenta Júlio da Silva Rocha Junior, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes).
Ele ressalta que só o cultivo de café gera mais empregos que todas as principais empresas juntas, chegando a 400 mil postos de trabalho. “A colheita foi muito prejudicada pelas inconformidades climáticas, chuvas torrenciais no final de 2013 e seca rigorosa no final deste ano. Das 12,5 milhões de sacas produzidas, o café Conilon alcançou 9 milhões de sacas, e o Arábica, 3,5 milhões, sendo registradas as perdas de 50% na colheita do primeiro, e de 30 %, em média, no segundo”, aponta Rocha Junior.
De acordo com ele, o Estado também enfrenta problemas nos preços do leite que, “premido pelas políticas públicas de importação e pela alta cotação do dólar, não remunera os custos de produção”.
AVALIAÇÃO
Dentre as lavouras que tiveram destaque, o presidente da Faes cita o arroz, “que não produzimos, mas foi favorecido pelo retorno dos antigos hábitos alimentares, em função da queda da capacidade de consumo de alimentos elaborados”. Ele também destaca a cana-de-açúcar, cuja produção no ES é pequena, mas houve um aquecimento em 2015, “decorrente da elevação da cotação do açúcar, que provocou o crescimento dos preços do álcool”.
Segundo Rocha Júnior, a pecuária de corte vem mantendo preços bons, apesar de “não termos autossuficiência na produção”. “As frutas e legumes tiveram forte crescimento de preços, em razão da crise hídrica, que reduziu drasticamente a prática da irrigação.”
“A queda nos preços do leite decorre da queda de cotação no mercado internacional e do crescimento da produção de 10% no Brasil. Em razão da seca, no Espírito Santo a produção de leite diminuiu em mais de 30%.”
No café, “as lavouras tecnificadas, com níveis satisfatórios de produtividade, e os preços recebidos deverão sobrepujar aos custos de produção”, acredita o presidente da Faes.
PIB DO AGRO
O PIB do agronegócio capixaba projetado para o ano de 2015 deve ser inferior (com queda de 31,11%) em comparação ao do ano passado. “Deve ser de 1,15% neste ano, sendo que em 2014 foi de 1,68% do PIB nacional, que deverá crescer 1,06%. Em âmbito nacional, a expectativa é de crescimento de 1,06% do PIB. O déficit hídrico que se registra em todo o Estado de Espírito Santo é o fator determinante para esta queda”, diz Rocha Júnior.
Na visão do presidente da Faes, para melhorar este cenário em 2016, é necessário que o agro brasileiro “desatrele do bloco comercial do Mercosul, que vende menos de 3% do comércio mundial, migrando para os majoritários, que comercializam 63% de todo o comércio do planeta”.
Ele ainda aponta para a necessidade de reservação de água e renegociação de dívidas, consideradas vitais para o agronegócio do ES e do País. “Precisamos incrementar o valor da produção, com qualidade de credibilidade pela segurança alimentar dos produtos e sua consequente compensação nos preços, observada a sustentabilidade.”
Rocha Júnior também aponta os avanços em produtividade com qualidade, a menores custos. “Isto tem de ser meta permanente, ainda que reconhecendo a majoração da energia, dos combustíveis, dos insumos e da mão de obra.”
“Nosso papel principal tem sido o de vender commodities. Temos de avaliar a conveniência pela busca de outras oportunidades ainda não exploradas. Investir em portos e na extinção da cobrança do Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), como em ferrovias e rodovias demandadas para aumentar nossa competitividade, sendo indispensável o aporte de recursos do governo federal.”
OUTROS PONTOS
O presidente da Fies ainda salienta que a desburocratização e a baixa dos custos dos financiamentos e das concessões de licenciamentos e de outorgas “são essenciais e inadiáveis”.
“Perdermos 20% de nosso potencial, referente à exigência da Reserva Legal, (único país do mundo com tal exigência), somos o único segmento do qual se é exigida produtividade, sob a pena de sermos desapropriados.”
Por isto, Rocha Júnior acredita na necessidade de “ajustar nossa legislação, pela ação do Poder Legislativo, para cumprimos, com nossas reconhecidas potencialidades e competências de realizarmos 50% das metas da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), na produção de alimentos no mundo, que será acrescido de 2,5 bilhões de pessoas, até 2050.”
“Registramos, que quase um bilhão de pessoas ainda passa fome no mundo. Compete-nos integrar um processo irreversível, de comprometimento e responsabilidade, que somente juntos podemos realizar”, comenta Rocha Júnior.
DADOS DO ESTADO
Conforme dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), ligado ao governo do Estado, o agronegócio capixaba responde por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, absorvendo aproximadamente 40% da população economicamente ativa, sendo que 28% dela estão diretamente ligadas à produção. “É a mais dinâmica atividade econômica para cerca 80% dos municípios capixabas”, destaca a entidade.
O agronegócio do ES chegou a produzir, no ano 2000, cerca de R$ 6,5 bilhões em termos de valor agregado, envolvendo cerca de 570 mil pessoas. O agronegócio foi ainda o grande responsável pelo saldo positivo da balança comercial do Espírito Santo, no ano de 2002. Do saldo global de U$ 569,4 milhões, em torno de 88%, ou seja, U$ 498,7 milhões, foram devidos ao agronegócio capixaba com predomínio de café e pasta de celulose.
AGRICULTURA FAMILIAR
Estudo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) mostra que 77 % dos estabelecimentos rurais do ES são familiares. Este enorme contingente de trabalhadores “com terra” detém 40% da área e gera 36% do valor da produção rural. “A agricultura familiar é uma variável chave a ser levada em consideração na formulação do planejamento estratégico da agricultura capixaba”, diz o Incaper.
Os números abaixo sintetizam a dimensão e a importância deste modo de produção no território capixaba: abrange 77% do total dos produtores; ocupa 220 mil agricultores; engloba 40% da área rural; gera 36% do Valor da Produção Agropecuária (VPB); responde por 61% da produção de oleícolas; produz 56% da produção de cereais; é responsável por 43% da produção de frutas, e por 62% quando não se considera a produção de mamão; produz 42% da produção de leite; e, por fim, é responsável por 41% da produção cafeeira.
Por equipe SNA/RJ