El Niño pode prejudicar milho no Sul

O El Niño, que costuma beneficiar a produção de grãos no Sul do País, pode causar problemas na região este ano para a primeira safra de milho, colhida no verão. O motivo é que o excesso de chuvas provocado pelo fenômeno climático deverá persistir em dezembro, o que aumenta as chances de perda de qualidade devido à umidade e também de algum impacto na produtividade.

Nelson Smola, diretor de produção agropecuária da Cotrijui, cooperativa sediada em Ijuí (RS), disse que praticamente toda semana tem ocorrido chuvas na região, que por enquanto são favoráveis. Mas a preocupação é que a colheita se aproxime e as precipitações não cessem. No norte gaúcho, as lavouras mais adiantadas estão em fase de espigamento, e o milho deverá começar a sair do campo em janeiro.

“O grão que chega [à cooperativa] muito úmido requer secagem, e se gasta com isso”, afirmou Smola. Segundo ele, o produtor chega a perder quase um quarto do valor do milho nesse processo para melhorar a qualidade do cereal, já que a cooperativa desconta esse gasto do preço pago pelo grão.

Nesta safra 2015/16, o Rio Grande do Sul deverá superar Minas Gerais e se tornar o principal produtor de milho no verão do País. Os gaúchos deverão colher 5,36 milhões de toneladas, ante as 5.12 milhões dos mineiros, segundo a média dos limites mínimo e máximo estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nos dois Estados, contudo, as previsões indicam quedas na comparação com 2014/15 – de 13% e 6%, respectivamente, reflexo da perda de área para a soja.

A oferta de milho no Rio Grande do Sul esteve sujeita a outro revés em setembro, quando geadas atingiram o Estado, mas os danos foram localizados. Por ora, a Cotrijui mantém a perspectiva de rendimento de 150 sacas do grão por hectare, contra 110 no ciclo passado.

Terceiro maior produtor de milho no verão, o Paraná já semeou 99% da área prevista para 2015/16, nas contas do Departamento de Economia Rural (DERAL), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado (SEAB). Quase a totalidade das lavouras apresenta boas condições no momento, mas a umidade excessiva levanta a hipótese da proliferação de doenças fúngicas, de acordo com Marcelo Garrido, economista do Deral. “Se continuar chovendo, o produtor entrará com mais aplicações [de defensivos], assim o custo de produção tende a aumentar. Mas precisamos ver como ficará mesmo a questão climática”.

Os mapas climáticos, porém, não sugerem trégua. A previsão da Somar Meteorologia é que fortes chuvas atinjam no próximo mês todo o Paraná, Santa Catarina e o noroeste do Rio Grande do Sul. Essas áreas concentram em torno de 40% da colheita esperada para o milho de verão no País, que pode ultrapassar 27 milhões de toneladas, conforme a Conab.

Além do temor com doenças, a baixa luminosidade também pode impactar negativamente a produtividade do milho, diz Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Somar. “Em períodos de El Niño, é normal ter uma pancada por semana, mais esporádica, o que é muito bom. Mas como está chovendo muito com o El Niño mais intenso este ano, o solo está encharcado e a planta vive úmida”.

 

Fonte: Valor Econômico

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