Como uma dessas continuações cinematográficas escritas por um roteirista com pouca criatividade, o cenário resultante das primeiras estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) para a soja e seus derivados na safra 2015/16 é praticamente uma repetição do que aconteceu em 2014/15.
Segundo a entidade, a colheita do grão baterá um novo recorde, mas suas cotações em dólar – bem como as de farelo e de óleo – continuarão sobre pressão no mercado internacional, graças às relações mais confortáveis entre oferta e demanda. Com isso, a receita das exportações brasileiras do chamado “complexo soja” (inclui grão, farelo e óleo) tende a diminuir em 2016 pelo segundo ano consecutivo, para o mesmo nível de 2011.
Em levantamento divulgado ontem, a entidade projetou a produção de soja em grão do País em 97.8 milhões de toneladas no ciclo 2015/16, patamar semelhante ao atualmente previsto pelo USDA, que em relatório publicado em setembro indicou 97 milhões. Se confirmado, o volume será 3,2% superior ao da temporada 2014/15, calculado pela entidade em 94.8 milhões de toneladas, e representará a terceira quebra de recorde seguida.
Segundo a Abiove, o total destinado a processamento recuará 100.000 toneladas em igual comparação, para 40 milhões de toneladas, e o volume do grão exportado aumentará em 400.000 toneladas, para 52.8 milhões. Com isso, os estoques finais da matéria-prima foram projetados pela associação em 4.4 milhões de toneladas contra 2.1 milhões em 2014/15.
Com a leve queda prevista para o processamento, a produção de farelo de soja foi projetada em 30.3 milhões de toneladas em 2015/16, também 100.000 a menos que no ciclo passado. O consumo doméstico do derivado deverá crescer 400.000 toneladas, para 15.5 milhões, e as exportações deverão ser 600.000 toneladas menores, da ordem de 14.8 milhões de toneladas.
No caso do óleo de soja, as projeções da Abiove indicaram a manutenção da produção em 7.95 milhões de toneladas e da demanda doméstica em 6.6 milhões de toneladas. Já as exportações deverão registrar pequena retração, para 1.37 milhão de toneladas.
Apesar do aumento do volume de exportação, principalmente do grão, a Abiove projeta que as exportações nacionais do “complexo soja” deverão render US$ 24.213 bilhões em 2016, 8,7% menos que seu cálculo para 2015 (US$ 26.508 bilhões) e pior resultado desde 2011 (US$ 24.154 bilhões). Se confirmado, o resultado representará o segundo encolhimento anual seguido do valor dos embarques.
A retração prevista é decorrência da continuidade da tendência de queda de preços do grão, do farelo e do óleo de soja no exterior, já marcante neste ano. Para grão e óleo, a Abiove projeta aumentos dos volumes dos embarques; para o farelo, prevê queda. Nos três casos, a associação calcula retrações dos preços médios das vendas ao exterior (ver infográfico acima).
Assim, a Abiove projeta que as exportações brasileiras de soja em grão renderão US$ 18.48 bilhões no ano que vem, 7,2% menos que em 2015, que as de farelo chegarão a US$ US$ 4.884 bilhões, em queda de 13,2%, e que as de óleo atingirão US$ 849 milhões, baixa de 12,7%.
Diante desse cenário geral confirmado pelas estimativas da Abiove, resta saber se o dólar, que preservou a receita em real de produtores e exportadores na safra 2014/15, voltará a salvar a cena no fim.
Fonte: Valor Econômico