Segundo um estudo desenvolvido pela AACREA (Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola) e divulgado pelo portal InfoCampo, os resultados econômicos esperados para a produção de soja e milho da safra 2015/16 da Argentina seriam negativos para a maioria das regiões produtivas do país, mesmo que tenham sido obtidos os níveis recordes de produtividade de cada uma dessas áreas neste atual cenário de preços.
Os cálculos realizados consideram o plantio em campos arrendados e, por conta do elevado valor dessas terras, mostram que 85% das zonas analisadas indicam que a produção de ambas as culturas seriam economicamente inviáveis, uma vez que a produtividade média ficaria abaixo dos custos de produção.
No caso do milho, o rendimento médio está 75% menor do que o necessário para cobrir os custos de produção. Na soja, esse índice é de 40%.
Para dar uma dimensão maior do que acontece em todas as regiões produtoras, também foram realizados cálculos sobre os produtores que cultivam em terras próprias, considerando também o chamado “raio de viabilidade”, o qual é definido como a distância média entre a origem de produção até os centros de comercialização. Para que haja renda, ainda de acordo com o estudo, o rendimento médio deve se superar em 5% para cobrir os custos de produção.
Na safra 2015/16, o cultivo de milho projeta um raio de viabilidade de 30 km, enquanto o da soja sobe para 117 km. Assim, se conclui que a oleaginosa cultivada a uma distância maior do que essa já se tornaria economicamente inviável diante da produtividade média, os custos e preços atualmente projetados. E essa fronteira de viabilidade determinada por este raio vem sendo reduzida nas últimas três safras analisadas pela AACREA. Em particular, na temporada 2013/14, os raios eram de 300 km para o milho e de 275 km para a soja.
E na medida em que o raio de viabilidade é reduzido, aumentam as áreas de plantio em risco de prejuízo para os agricultores argentinos. Dessa forma, o estudo mostra que, para a safra 2015/16, a área de inviabilidade econômica para o milho já estaria em 83% do total esperado e, para a soja, em 44%.
Segundo o consultor Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, a situação dos produtores argentinos é bastante complicada e o atual cenário deverá resultar em uma significativa redução de área tanto para a oleaginosa quanto para o cereal no país. “A área de milho deverá sofrer uma redução considerável e, de acordo com consultorias argentinas, isso pode acontecer também na soja. A área total de grãos da Argentina deve cair 4% neste ano”, disse.
A área de milho na safra 2015/16 da Argentina deve ser 23% menor em comparação com a temporada anterior, segundo uma projeção divulgada pela Bolsa de Comércio de Rosário que estima que os argentinos vão cultivar o grão em 3.3 milhões de hectares contra 4.3 milhões de hectares no ano passado. O cultivo de trigo 2015/2016 já foi finalizado no país e não há ajustes significativos em relação a área estimada no relatório anterior, informou a Bolsa de Rosário. A área alcançou 3.36 milhões de hectares, queda de 28% em relação ao ciclo anterior (4.66 milhões de toneladas).
Além disso, o consultor disse também que , ao contrário do que acontece no Brasil, a forte valorização do dólar ainda não é suficiente para trazer preços melhores para os produtores locais. “O peso teria ainda que se desvalorizar de 15% a 25% para compensar”, disse.
Paralelamente, o produtor argentino sofre ainda com as chamadas “retenciones”, ou os tributos sobre os itens agrícolas e pecuários produzidos no país.
Um estudo feito pela FADA (Fundação Agropecuária Para o Desenvolvimento da Argentina) mostrou que a participação do estado na renda agrícola é, atualmente, de 94,1%, o que significa dizer que a somatória dos tributos (das províncias e nacionais, incluindo os direitos de exportação) e os custos de intervenção (o efeito ROEs no milho e no trigo) representam 94,10 pesos de 100 pesos gerados em um hectare médio na Argentina.
O percentual aumentou em relação ao da pesquisa de junho, que era de 93,5%. Há um ano, o total era de 81,7% e há dois, 75,4%. Esse incremento, ainda de acordo com os apontamentos da pesquisa, se dá frente a uma combinação de fatores, incluindo as quedas nos preços das commodities agrícolas, que superaram o aumento nos custos de produção.
No último ano, o preço da soja em dólares caiu 18,6%, enquanto para o milho a baixa foi de apenas 0,6% e, no trigo, de 20,4%. Assim, a soja no preço em pesos passou por uma desvalorização de 10% enquanto os custos de produção passaram por um aumento de 17,5%.
E esse declínio nos preços da oleaginosa argentina vem se arrastando desde 2012, quando se acentuou a severa desvalorização do peso, iniciada em 2004. O quadro vem prejudicando todo o setor de exportações do país. O peso já se desvalorizou 3,3% desde junho e 11% em relação a setembro de 2014, como mostrou a FADA.
Por outro lado, As baixas nos preços da terra poderiam atenuar o mau momento dos produtores argentinos, mas ainda não permitem que se alcance uma renda muito positiva, principalmente naqueles que trabalham com áreas arrendadas. Ainda segundo a fundação, os arrendamentos apresentaram uma queda de 20 a 30% no último ano, se considerado na medida de quintais.
Fonte: Notícias Agrícolas