“O produtor vai entrar em uma safra positiva”, afirma o consultor Vlamir Brandalizze , da Brandalizze Consulting, no final do vazio sanitário da soja para a safra 2015/16. Nesta terça-feira (15), termina o período proibitivo do plantio em alguns dos principais estados produtores do País, como Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e as expectativas, novamente, são de uma temporada importante para os sojicultores brasileiros, acreditam analistas e consultores.
No entanto, esse novo ano começa com um cenário político e econômico turbulento no País e a espera de ainda muita volatilidade na taxa de câmbio. No mês, até o fechamento a segunda-feira (14), a moeda norte-americana acumulava uma alta de 5,15% e no ano, essa valorização chegava a 43,45%.
Em um cenário de dólar futuro, a cotação da moeda já chega a R$ 4,15 e potencializa o retorno financeiro da oleaginosa em reais, como mostra um estudo feito pela Agrinvest Commodities. O quadro para o retorno em dólares, por outro lado, já não é tão promissor e exige cautela.
E a variação da taxa de câmbio toma toda a atenção dos produtores neste momento, uma vez que seu impacto é avaliado não somente na formação dos preços de venda, mas principalmente nos custos de produção desta nova temporada.
Considerando custos de produção que variam de R$ 2.451,52 – no Mato Grosso do Sul – a R$ 3.063,78 – no Sudeste de Mato Grosso – por hectare – com um dólar de R$ 3,11 para a compra dos insumos – a Agrinvest traçou dois cenários para o retorno financeiro da soja. Em reais, as principais regiões produtoras da oleaginosa registram lucros em todas elas; enquanto em dólares, os prejuízos já são esperados.
Safra de Soja 2015/16 – Custos – Fonte: Agrinvest Commodities
“O segmento da alimentação brasileira, ou mundial, não vai parar, vai continuar crescendo. A grande questão neste ano comercial é que o produtor está entrando em uma safra onde os preços atuais em Chicago estão abaixo dos US$ 9,00, bem abaixo do que se via há um ano. Então, a situação é de um quadro com sinais de que ele vai continuar a ganhar, mas, aparentemente, os ganhos em dólar serão menores e a saída do produtor para continuar ganhando bem é fazer o melhor possível dentro da lavoura”, disse Brandalizze.
Assim, em um cenário com o contrato futuro maio/16, referência para a safra brasileira, cotado a US$ 8,74 o bushel na Bolsa de Chicago, mais um dólar futuro de R$ 4,15 e prêmios variando entre US$ 0,15 e US$ 0,40 sobre as cotações da CBOT nos principais portos do País, o retorno em real da soja é positivo em todas as praças. O destaque é o Estado do Paraná – com R$ 1.108,75 por hectare, e o valor mais baixo registrado ficou por conta do nordeste de Mato Grosso, onde o resultado seria de R$ 354,30/ha.
Safra de Soja 2015/16 – Retorno em Real – Fonte: Agrinvest Commodities
Considerando exatamente as mesmas condições de mercado, o retorno em dólar, ainda de acordo com o levantamento feito pela Agrinvest, seria positivo somente no Paraná, no sul de Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. Os valores de retorno, nestes casos, seriam de US$ 60,48; US$ 34,33 e US$ 22,26 por hectare, respectivamente. No Rio Grande do Sul, em Goiás, no Oeste, Norte, Sudeste e Nordeste de MT, o quadro já seria de prejuízos variando de US$ 18,89 a US$ 131,52/ha.
Safra de Soja 2015/16 – Retorno em Dólar – Fonte: Agrinvest Commodities
Diante desse cenário, o consultor da Brandalizze Consulting volta a afirmar que a alternativa do produtor, além de uma comercialização bem planejada, é a garantia de uma boa produtividade. Ele explica ainda que o produtor que colhe de 58 a 65 sacas de soja por hectare continua ganhando.
“Temos condições de melhorar a produtividade. O produtor vai hoje para uma safra de soja e em seguida uma safrinha de milho, que já se mostra positivo para 2016 (…) Para o produtor garantir essas duas safras ele tem que fazer um bom plantio da soja no período recomendado, para entrar na sequência com o milho safrinha e ganhar com ele também”, disse.
Comercialização
Até o início de setembro, o Brasil já havia comercializado pouco mais de 30% da safra 2015/16 de soja. O índice é elevado e reflete a atitude do produtor diante das últimas altas registradas, principalmente do dólar, além dos melhores preços que vinham sendo praticados em Chicago. Com o suporte do dólar e dos prêmios, no melhor momento do ano, as cotações nos portos chegaram a R$ 85,00 por saca.
“A primeira alta do dólar no Brasil, quando ele subiu para R$ 3,10 e elevou o dólar futuro para a safra para R$ 3,40, motivou vários sojicultores a vender a soja futura, e quem teve que fazer um hedge nesse dólar foram os compradores, ou seja, as tradings, as cooperativas, cerealistas (…) Então, para essas empresas que têm que margear esse dólar futuro na bolsa ou nos bancos, isso requer uma grande linha de financiamento”, disse Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities.
O momento agora, porém, é de um ritmo de vendas bem mais lento do que o que vinha sendo observado há alguns meses. “Boa parte dos produtores está esperando agora o desenrolar de toda essa situação política que está impactando o dólar; temos todo o risco climático de produção, então, os produtores estão reticentes a efetuar novas vendas aguardando o início do plantio da soja e uma recuperação dos preços em Chicago”, disse o analista.
Araújo afirma ainda que esse pode não ser o melhor momento para que novas vendas sejam efetuadas dado que o padrão, em 30 anos de negócios em Chicago, é de que as mínimas para os preços da soja sejam registradas agora no final de setembro, com uma recuperação vindo depois desse período. “Eu não diria, portanto, que esse seja um momento de tomar grandes decisões de venda olhando isoladamente Chicago. Mas, se o sojicultor olhar a curva de dólar futuro, é muito favorável para aquele que tem seus custos em reais”.
Produtores começam período de plantio de soja com cautela sobre clima
Produtores de soja das duas principais regiões de plantio do País entram nesta terça-feira no período autorizado para semear a oleaginosa cheios de cautela em relação ao clima e observando os efeitos do fenômeno El Niño, com a atividade ainda limitada nos campos devido a chuvas consideradas escassas para as atividades.
O dia 15 de setembro marca o fim do período de vazio sanitário em Mato Grosso, Paraná e alguns outros Estados, durante o qual é proibida a presença de plantas vivas nos campos que podem perpetuar a presença de doenças, especialmente a ferrugem da soja.
Em Mato Grosso, houve algumas pancadas de chuva na primeira metade do mês, mas elas foram insuficientes para dar segurança aos agricultores.
“Na secura que estava, foi como colocar água na esponja”, descreveu o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) de Mato Grosso, Nery Ribas.
“Todo mundo está com as máquinas em revisão final, em programação, estão fazendo o planejamento, e aguardando o clima”, completou.
A região de Sapezal, no oeste de Mato Grosso, foi a que começou o plantio de forma mais acelerada em 2014, mas nestes primeiros dias da segunda metade de setembro a atividade deverá ser praticamente nula.
“Tem que dar uma chuva geral, com umidade de 60, 80 a 100 mm. Tem que ter umidade para uma semana, mas está seco ainda. Não tem ninguém plantando ainda, não”, afirmou o presidente do Sindicato Rural de Sapezal, José Guarino.
Segundo o serviço Agricultura Weather Dashboard, da Thomson Reuters, o acumulado de chuvas previsto para Mato Grosso de quarta-feira até o final do mês é de apenas 4,8 milímetros.
Em 2014, o início do plantio também foi retardado em Mato Grosso devido a um período mais seco que o normal. Houve agricultores que apostaram no plantio logo nas primeiras chuvas, que não se sustentaram, afetando as produtividades.
“Com o alto custo de produção deste ano, não dá para ninguém correr risco”, destacou Ribas, lembrando a elevação dos preços de insumos como fertilizantes e defensivos, na esteira da desvalorização do real. “O pessoal está muito atento.”
O segundo semestre de 2015 está sendo caracterizado por uma forte ocorrência do fenômeno climático El Niño.
“Este ano, devido ao El Niño, não haverá a seca de outubro de 2014 (no Centro-Oeste), mas apesar de uma frequência maior de chuvas, elas continuarão irregulares, porque os maiores volumes ficarão concentrados no Sul do Brasil”, disse o agrometerologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia.
Paraná
O Paraná, que fica atrás apenas de Mato Grosso na produção de soja, também deve registrar pouca atividade de plantio nos primeiros dias após o fim do vazio sanitário.
Os trabalhos geralmente começam pelo oeste do Estado, onde muitos produtores buscam antecipar o ciclo para garantir uma boa janela de plantio para uma segunda safra com milho.
“Em outros anos, é trator para todo lado saindo para plantar, nessa época. Mas os produtores falaram que está um pouco seco, não tem umidade suficiente”, disse o coordenador técnico da Ocepar, organização que reúne cooperativas do Paraná, Robson Mafioletti.
Na avaliação da cooperativa C-Vale, uma das maiores do Brasil, com forte atuação no oeste paranaense, o clima é de cautela entre os produtores.
“Existe alguma coisa (sendo plantada), mas muito pouco. O produtor está aguardando um pouco mais em relação ao ano passado, porque quem plantou muito cedo colheu um pouco menos”, disse o gerente do departamento agronômico da cooperativa, Ronaldo Vendrame.
Segundo ele, a expectativa é de chuvas que permitam aceleração do plantio nos últimos dias do mês.
“A partir do dia 25 vai ter muito plantio. Se tivermos condições, vamos ter plantado 50% a 60% da área na região até o fim do mês”, projetou.
Segundo o Weather Dashboard, as chuvas na regiões oeste do Paraná terão acumulado de 76 milímetros na segunda quinzena de setembro, com concentração na última semana do mês.
A tendência para o período de cultivo da soja no Sul do Brasil, em função do El Niño, é de chuvas mais abundantes, garantindo um bom potencial para a safra da região.
Fonte: Notícias Agrícolas e Reuters