Pupunha é opção de renda para agricultura familiar

Embora o Brasil seja maior produtor e consumidor de palmito no mundo, sua produção ainda é baseada na exploração de espécies nativas, como a juçara, da Mata Atlântica, e o açaí, da Floresta Amazônica. Foto: Divulgação IAC
Embora o Brasil seja o maior produtor e consumidor de palmito no mundo, sua produção ainda é baseada na exploração de espécies nativas, como a juçara, da Mata Atlântica, e o açaí, da Floresta Amazônica. Foto: Divulgação IAC

O cultivo da pupunheira para produção de palmitos tem despertado interesse como alternativa econômica, devido à alta produtividade por unidade de área e principalmente à lucratividade. Embora o Brasil seja o maior produtor e consumidor de palmito do mundo, sua produção ainda é baseada na exploração de espécies nativas, como a juçara da Mata Atlântica, e o açaí da Floresta Amazônica.

A queda do cultivo de açaí para extração de palmito, por causa do maior interesse por parte dos produtores pela coleta dos frutos para polpa, no entanto, favoreceu a expansão do cultivo da pupunha. Nativa da região Amazônica, esta espécie tem se mostrado viável para o cultivo de palmito com sustentabilidade econômica e ambiental em São Paulo, Sul da Bahia, Leste do Paraná e Santa Catarina, graças à adaptação da variedade à agricultura familiar.

Dentre as espécies produtoras de palmito disponíveis – palmeira real, açaí, juçara e pupunha -, a pupunha se destaca por suas características de precocidade de corte (18 meses), cultivo perene, perfilhamento abundante (capacidade de continuar produzindo palmito após o corte) e lenta oxidação, o que viabiliza a venda do produto in natura.

“A comercialização do palmito in natura pode virar uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto para mercados locais (feiras de produtores) ou para grandes centros”, ressalta o pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, da Embrapa Florestas.

“A comercialização do palmito in natura pode tornar-se uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto para mercados locais (feiras de produtores) ou para grandes centros”, justifica o pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, da Embrapa Florestas. Foto: Divulgação
“A comercialização do palmito in natura pode tornar-se uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto para mercados locais (feiras de produtores) ou para grandes centros”, justifica o pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, da Embrapa Florestas. Foto: Divulgação

O pesquisador informa que no Brasil há cerca de 4,14 milhões estabelecimentos de agricultores familiares, em sua maioria, que estão em muitas regiões onde a agricultura de subsistência predomina e que precisam ser incorporados ao agronegócio, por meio de modelos alternativos de produção.

“O cultivo de palmito pode ser uma destas alternativas, devido ao alto valor agregado em pequenas áreas”, acredita.

De acordo com Santos, no Paraná 650 agricultores familiares se dedicam ao cultivo de pupunha, em uma área de 1,75 mil hectares.

“O sistema de produção de pupunha para palmito na agricultura familiar tem proporcionado bons resultados e recentemente recebeu o Certificado de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil”, conta.

CARACTERÍSTICAS

Pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Valéria Aparecida Modolo afirma que o palmito pupunha apresenta características diferenciadas em relação às demais espécies, que podem promover uma mudança nos padrões de conceito do sabor do produto assim como na forma de consumo.

“Com o aumento da produção, o consumidor poderá desatrelar o consumo de palmito ao produto processado (em conserva), podendo consumi-lo in natura como parte de saladas cruas”, sugere a pesquisadora.

Ela afirma, no entanto, que este novo nicho de mercado precisa ser incentivado e explorado, visto que a maioria da população tem o hábito de consumir palmito em conserva e a oferta do produto in natura ainda é limitada.

MERCADO

Analista da Embrapa Florestas, Joel Penteado Júnior  afirma que o Brasil responde por 85% da produção mundial de palmitos, mas não domina as exportações “em razão da desorganização do setor, da falta de escala e da qualidade do produto”.

As exportações anuais brasileiras de palmito já alcançaram US$ 40 milhões e hoje giram em torno dos US$ 7 milhões. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2013 o volume exportado foi de 5.102 toneladas.

Fontes de referências mercadológicas internacionais informam que os principais importadores mundiais de palmito são França, Argentina, Estados Unidos, Espanha, Chile e Brasil, enquanto Equador e Costa Rica são os maiores exportadores devido aos plantios comerciais de pupunheira em larga escala.

De acordo com o analista da Embrapa Florestas, o mercado brasileiro de palmito, oriundo de diversas espécies de palmáceas, é estimado em US$ 350 milhões anuais e gera 8 mil empregos diretos e 25 mil empregos indiretos. Já o mercado mundial é de R$ 500 milhões. Informações oficiais mais recentes (de 2010) relatam que a produção de palmito no Brasil alcançou 116.495 toneladas.

ÁREA DE PLANTIOS

Penteado destaca que a área de plantios com pupunheiras destinadas à produção de palmito em território nacional é de 20 mil hectares. Os Estados de São Paulo e Bahia são os maiores produtores, com mais de 5 mil hectares cada.

Com menores áreas plantadas, o cultivo também ocorre na região litorânea de Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro, e em sistemas de plantio irrigado nos Estados de Mato Grosso, Rondônia e Goiás.

De acordo com Valéria, do IAC, o cultivo da pupunheira no Estado de São Paulo está concentrado no Vale do Ribeira (80% da área) e no litoral Norte.

“Nos últimos anos, percebe-se um crescimento do plantio em áreas do planalto, o que requer uma tecnologia de produção diferente, pois há necessidade de irrigação”, alerta.

Neste sentido, estão sendo desenvolvidos projetos sobre consumo de água em plantio de pupunheira e adubação nitrogenada na produção de palmito em condição irrigada.

Valéria Aparecida Modolo, pesquisadora do IAC: “Nos últimos anos, percebe-se um crescimento de plantio em áreas do planalto, que requer uma tecnologia de produção diferente, pois há necessidade de irrigação.” Foto: Divulgação IAC
Valéria Aparecida Modolo, pesquisadora do IAC: “Nos últimos anos, percebe-se um crescimento de plantio em áreas do planalto, que requer uma tecnologia de produção diferente, pois há necessidade de irrigação”. Foto: Divulgação IAC

CONSUMO INTERNO

Conforme pesquisa realizada por empresas do setor, nas principais regiões consumidoras de palmito do Brasil, o consumo interno de pupunha cultivado aumentou de 19,5% em 2009, para 24% em 2010.

“Entre 2009 e 2011, em Minas Gerais e Espírito Santo, o consumo de palmito oriundo de diversas palmáceas cresceu 42%, enquanto que o consumo de pupunha aumentou 480%”, cita o analista da Embrapa Florestas Joel Penteado Júnior.

Ele afirma que na maioria das regiões produtoras do Brasil a comercialização das hastes, entre os produtores e a agroindústria, é realizada de forma direta.

“Os produtos são negociados frescos, poucas horas após serem colhidos”, ressalta.

Ainda acrescenta que o tolete do palmito de pupunha, que é a parte mais nobre da palmeira, custa entre 10 e 18 reais o quilo, quando comercializado na forma minimamente processada.

INDÚSTRIA

Atualmente, a indústria de alimentos concentra-se na produção de palmito em salmoura. “Entretanto, o palmito de pupunha minimamente processado, ou seja, pronto para consumo in natura, sem tratamento térmico, é uma alternativa viável e tem potencial de crescimento no mercado consumidor”, afirma.

De acordo com Penteado Júnior, em plantios em que o regime de manejo é realizado adequadamente, após a estabilização da produção, o rendimento da pupunheira é de 0,8 a 1,2 hastes por planta, em média.

Nas regiões Sul e Sudeste do País, a maioria dos produtores que cultivam a pupunheira para palmito realiza a primeira colheita entre 18 e 24 meses após o plantio.

“Em povoamentos com densidade de 5 mil plantas por hectare, a produtividade média é de 2,5 mil hastes de palmito por hectare no segundo ano. Após o terceiro ano, a produção se estabiliza entre 3,5 mil a 4,5 mil hastes por hectare ao ano”, informa.

PESQUISAS

Em busca de novas maneiras de comercialização e uso do palmito, especialistas têm estudado outras formas de consumo, como o uso de filmes comestíveis para comercialização do produto in natura; a produção de espaguete de palmito, feita em parceria com a Embrapa Agroindústria de Alimentos; e a utilização dos resíduos descartados pela indústria, como alimentos ricos em fibras, junto com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).

O pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, da Embrapa Florestas, cita algumas novidades da pesquisa com a pupunha, como a definição do fluxograma de processamento mínimo com o uso de solução filmogênica, para revestimento comestível do tolete de palmito; além do desenvolvimento de uma embalagem específica para comercialização do palmito, minimamente processado, que aumenta sua vida útil de 10 para 22 dias.

“O uso desta tecnologia resulta em um palmito de qualidade, com alto valor comercial, permitindo que o produto in natura possa ser comercializado em locais distantes da produção agroindustrial e até mesmo exportado por via aérea, uma vez que o valor agregado é alto”, comenta Santos.

MANEJO

Quanto ao manejo do plantio, foi desenvolvido o controle físico de plantas daninhas com uso de papelão, prática cultural fundamental para a sustentabilidade do cultivo, porque eleva a longevidade das touceiras e melhora a produtividade da pupunha, conforme explica o pesquisador.

Para Santos, o grande desafio são as pesquisas de novos produtos derivados dos frutos e do palmito da pupunheira e de seus resíduos agroindustriais.

“Devemos enfatizar que a pupunheira tem sido usada para produção de palmito e frutos (neste caso, restrito à Amazônia) e se vislumbra que o enriquecimento desta cadeia produtiva, com novos produtos e subprodutos, possa agregar valor e garantir a sustentabilidade do segmento.”

Segundo a pesquisadora Valéria Modolo, do Instituto Agronômico de Campinas, os projetos desenvolvidos no Centro de Horticultura do IAC têm buscado características adequadas para o cultivo, tais como uniformidade de produção, precocidade, resistência a pragas e doenças.

“No caso da pupunheira, os problemas cruciais são a falta de material melhorado para o agricultor (variedade comercial), de sementes e de tecnologia de produção de sementes, além de adequação de tecnologia de cultivo às diferentes regiões produtoras”, aponta a especialista.

No melhoramento, além da caracterização detalhada das coleções de trabalho, estão sendo realizadas pesquisas para a seleção de progênies melhoradas para produção de palmito pupunha, em duas regiões edafoclimáticas distintas do Estado de São Paulo: Planalto Paulista (em Pindorama e Mogi Mirim) e Vale do Ribeira (em Pariquera-Açu).

No âmbito da tecnologia de produção da pupunheira, Valéria conta que o foco é a produção de pacotes tecnológicos completos e adequados ao cultivo para o cultivo de palmito em várias condições edafoclimáticas e em diversas escalas comerciais. Ainda engloba a tecnologia de produção de sementes para início de novos plantios.

Por equipe SNA/SP

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