Embrapa quer fortalecer cadeia leiteira do Estado do Rio de Janeiro

Entre os dias 17 e 19 de agosto, uma equipe da Embrapa Agroindústria de Alimentos promoveu a Caravana Tecnológica para Agricultura Familiar e realizou visitas técnicas a laticínios dos municípios de Paty do Alferes e Miguel Pereira. Mais de trinta produtores e técnicos participaram da atividade de orientação sobre Boas Práticas de Fabricação (BPF). Essa ação reforça iniciativas da Embrapa voltadas para o avanço da cadeia leiteira no Estado do Rio de Janeiro.

A Caravana Tecnológica em Paty do Alferes, que aconteceu no dia 18, teve início com a apresentação do pesquisador Eduardo Walter sobre os principais fatores de alteração de alimentos por micro-organismos, como temperatura, tempo de armazenamento e nível de pH/acidez.

O especialista também destacou as classes de micro-organismos e sua importância na qualidade e segurança dos alimentos: deteriorantes, fermentadores, probióticos, patogênicos e indicadores de qualidade higiênico-sanitária. Em seguida, André Dutra falou sobre rotulagem de alimentos, destacando aspectos da legislação nacional, internacional e do Mercosul. “É preciso que o rótulo traga informações precisas sobre a qualidade e rastreabilidade do produto para um consumo seguro”, afirmou. Logo após o evento, ele foi procurado por produtores para auxiliá-los na elaboração de rótulos e na adequação da infraestrutura dos laticínios.

A pesquisadora Lilia Salgado, responsável pela ação, avaliou positivamente o evento. “Conseguimos reunir os principais laticínios da região, o público interagiu, expôs as suas dúvidas e participou bastante. O Prefeito de Paty do Alferes também estava lá prestigiando, e indicou interesse em realizar uma oficina completa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Boas Práticas Agropecuárias (BPA) para os produtores da região. Além disso, já há interessados demandando novas ações da Caravana em Miguel Pereira, município vizinho à Paty”, contou Lilia.

A cadeia produtiva do leite no Brasil cresceu mais de 30% na última década, alcançando 34 bilhões de produção de litros de leite em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado do Rio de Janeiro produz aproximadamente 600 milhões de litros de leite anualmente, ocupando o 12º lugar no ranking nacional de produção.

“O setor lácteo do Estado do Rio de Janeiro vem aumentando a produção e modernizando suas propriedades rurais e instalações. Entretanto, ainda persistem problemas básicos relativos à sanidade e à qualidade da matéria-prima, refletidos nos procedimentos inadequados e não conformidades, da produção primária ao processamento agroindustrial”, observa Amauri Rosenthal, líder do projeto em andamento “Inovações tecnológicas e melhoria de processos para o desenvolvimento do setor lácteo no Estado do Rio de Janeiro”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ.

Esse projeto pretende levar às cooperativas lácteas de diferentes regiões do Estado as orientações relacionadas às Boas Práticas de Fabricação (BPF) e às Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), além de prover alternativas tecnológicas para o desenvolvimento de novos produtos com maior qualidade e valor agregado, como queijo com teor reduzido de sódio e bebida láctea probiótica.

Visita a Laticínios de Paty do Alferes e Miguel Pereira

Os analistas e pesquisadores da Embrapa visitaram quatro laticínios em sua passagem pela região. A mais antiga propriedade visitada foi a Queijaria Judith em operação desde 1922. Atualmente, a indústria familiar procura se estabelecer em um nicho de mercado: produtos orgânicos. Há poucos meses, os proprietários conseguiram certificação orgânica para o queijo minas frescal, e agora buscam o selo para as coalhadas seca e fresca.

A produção de queijos é distribuída pelos municípios da região e nas feiras livres de alimentos orgânicos na cidade do Rio de Janeiro, a cento e vinte quilômetros de distância. “A nossa produção leiteira com animais da raça pardo suíço é pequena, por isso buscamos agregar valor aos produtos derivados de leite com o selo orgânico. As orientações da Embrapa quanto à rotulagem e a adequação à legislação são fundamentais”, afirma André Amaral, da terceira geração da família a trabalhar no negócio.

Seu pai, Vitor Amaral de 83 anos, que trabalha desde cedo com afinco na queijaria familiar lamenta: “Para os pequenos produtores, é difícil dar um salto tecnológico, já que falta assistência técnica e pessoal capacitado para atuar na fabricação dos produtos”.

A Agroindústria Comunitária “Queijaria Arcozelo”, instalada em terreno cedido pela Prefeitura de Paty do Alferes, talvez enfrente a situação mais difícil entre os laticínios visitados. “Os produtores conseguem nos entregar apenas entre 80 e 100 litros de leite por dia. Trabalho sozinho produzindo queijos, coalhadas e iogurte. Não há interesse de membros da comunidade em se envolver no processo e ampliar a produção”, conta Renato de Oliveira, que trabalha no pequeno laticínio.

Já o Rei do Queijo, que produz e vende queijo minas frescal, iogurte, doce de leite e coalhada vê o mercado em plena expansão: “Processamos cerca de dez mil litros de leite por semana, mas a nossa capacidade é de 150 mil. A procura é muito maior que a oferta, mas não estamos conseguindo leite com os produtores. Há uma escassez no mercado”, conta empresário André Luis.

A mesma situação enfrenta os Laticínios Manoel Borges, que possui uma linha com mais de 17 produtos lácteos entre queijos, iogurtes, creme de leite, manteigas e doce de leite. “Estamos conseguindo atender apenas os clientes mais antigos, e já suspendemos a produção de vários produtos devido à falta de leite para processar. Atualmente, estamos focando na produção do nosso principal produto: o queijo minas frescal”, conta Rogéria Borges, filha do proprietário, que se orgulha do slogan da empresa: “De nossa família para a sua!”.

Para o pesquisador Eduardo Walter, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, a Caravana Tecnológica de Paty do Alferes se fez essencialmente durante as visitas, quando houve troca de experiências, orientações personalizadas sobre questões técnicas e de legislação e discutidas abordagens tecnológicas para os problemas apresentados.

Observamos um cenário bastante diversificado nos laticínios visitados, desde produção artesanal até indústrias bem estruturadas, o que reflete a realidade brasileira. Essa aproximação da Embrapa com o setor produtivo sinaliza questões importantes para a pesquisa científica, mas também revela a necessidade do fortalecimento dos órgãos de assistência técnica municipais e estaduais”, destaca o pesquisador.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação/Embrapa Agroindústria de Alimentos

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