Exportar mais produtos agrícolas com valor agregado e implementar melhorias no setor de logística são alguns dos grandes desafios do agronegócio para os próximos anos. A constatação foi feita por especialistas presentes ao Enaex 2015 – Encontro Nacional de Comércio Exterior, realizado nos dias 19 e 20 de agosto, no centro do Rio.
Estiveram presentes à abertura do Enaex o ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Monteiro, o ministro-chefe da Secretaria de Portos da Presidência da República, Edinho Araújo e o governador do estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Roberto Giannetti da Fonseca e o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, participaram do segundo painel do encontro – “Agronegócio: Oportunidades no Mercado Internacional”.
ÍNDICES POSITIVOS
O presidente da SNA disse que “apesar do País atravessar uma fase conturbada, o agronegócio apresenta indicadores positivos”. Alvarenga argumentou que a produção agropecuária cresceu nas últimas décadas graças à adoção de moderna tecnologia, principalmente na exploração dos cerrados. Ele citou o protagonismo do Brasil no mercado internacional de produtos agrícolas e disse que o país consegue suportar, com seus excepcionais índices de produtividade, os elevados custos de nossa deficiente infraestrutura logística.
Para ilustrar a evolução do agro brasileiro, o presidente da SNA mostrou, entre outros dados, que o saldo comercial das exportações do agronegócio brasileiro em 1990 era de US$ 7 bilhões, e em 2013 saltou para US$ 76 bilhões. Além disso, salientou que o Brasil continua a liderar o ranking mundial em exportação de açúcar, café, suco de laranja, carne bovina e de frango.
Por sua vez, o ex-ministro Roberto Rodrigues enalteceu o potencial do agronegócio, ressaltando que o setor responde por 24% do PIB Nacional, sendo responsável pela geração de 30% dos empregos e por 43% do valor da exportação total do País.
CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL
Diante dos índices apresentados, o ex-ministro acredita que o Brasil vá ultrapassar a cifra dos 40% referentes ao crescimento na produção de alimentos até 2020 , otimizando as perspectivas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“De 1990 a 2014, a produção de grãos aumentou 234% e crescemos 50% em área. Isso sem falar que somos altamente sustentáveis, porque preservamos áreas para chegar a esse resultado”, destacou, citando a importância de programas como o Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono.
Rodrigues afirmou que a evolução do agro só foi possível graças a fatores como tecnologia, disponibilidade de terras e mão-de-obra eficiente.
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
Em relação às exportações nos próximos dez anos, as perspectivas são animadoras para Roberto Rodrigues. “A expectativa mínima é de exportação 60% maior de milho e 44% maior de soja”. No entanto, o ex-ministro voltou a chamar a atenção para os desafios a serem enfrentados.
“É preciso melhorar a logística. Falta renda para crédito e seguro rural. Precisamos incentivar os acordos bilaterais, crescer mais em tecnologia e avançar em questões como a venda de terras para estrangeiros, política de terras indígenas, acordos trabalhistas, etc.”
De acordo com Roberto Rodrigues, o crescimento do Brasil como produtor de alimentos para o mundo irá fazer com que sejamos “campeões da paz”.
Depois de sua participação no encontro, Roberto Rodrigues afirmou à imprensa que o Brasil continua sendo um grande produtor de matérias-primas, em detrimento de produtos de maior valor agregado. Ele, no entanto, admitiu não ser algo fácil “simplesmente agregar valor”. Segundo ele, são necessárias negociações amplas e acordos entre países para viabilizar esse processo. “Falta uma lógica do agronegócio nos negociadores”.
As adversidades enfrentadas pelo agro mereceram a atenção de Roberto Giannetti, vice-presidente da AEB. Segundo ele, exportar com valor agregado é um dos grandes desafios do agronegócio.
Na ocasião, Giannetti também defendeu melhorias na logística, ressaltando que “o custo desse setor no Brasil é três vezes mais alto que o custo americano”. Além disso, observou que “5% da soja é perdida no trajeto da fazenda para os portos”.
ASPECTOS RELEVANTES
Giannetti criticou ainda a forte carga tributária, afirmou que o País precisa melhorar sua fiscalização sanitária e ressaltou a dificuldade do Brasil em matéria de acesso a mercados. “O Brasil é muito tolerante em relação ao protecionismo de outros países”, afirmou Giannetti, acrescentando que “precisamos ser mais pró-ativos na defesa dos produtos brasileiros”.
Por outro lado, o vice-presidente da AEB disse que o papel da tecnologia, graças ao trabalho desenvolvido pela Embrapa, é de vital importância para a expansão do agronegócio brasileiro, e citou como exemplo o processo de transformação do Cerrado em área de alta produtividade.
O 34º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex) foi promovido pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e contou com o apoio da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e de várias outras instituições.
Equipe SNA/RJ com informações da Agência Brasil
(Foto da capa : Erik Barros Pinto)