As regiões produtoras de milho safrinha do Paraná e região sul do Mato Grosso do Sul tiveram chuvas ininterruptas durante a primeira quinzena de julho, que causaram danos significativos à produtividade das lavouras e a qualidade dos grãos. Muitos grãos de milho chegaram a germinar na própria espiga e lavouras de trigo apresentaram índices elevados de focos de doenças.
Além dessas culturas, o café e a cana de açúcar também foram seriamente prejudicados pelas chuvas acima da média. Alguns municípios paranaenses e sul-mato-grossenses chegaram a registrar valores até 400% acima da média para o mês de julho. E não foram somente as chuvas que causaram prejuízos aos produtores: rajadas de vento de mais de 80 km/h e queda de granizo também contribuíram para elevar esses percentuais e até mesmo um tornado foi registrado nestes Estados.
O causador destes estragos foi o El Niño. As águas superficiais equatoriais do Oceano Pacífico estão até 03ºC acima da média, gerando um fenômeno de forte intensidade para este inverno no Hemisfério Sul. Juntamente com o El Niño, as águas mais quentes do Oceano Atlântico na costa da região Sul também contribuíram para que as frentes frias permanecessem estacionadas sobre os Estados, e com isso, mandaram água sobre as plantações por mais de duas semanas consecutivas.
Estados Unidos
O fenômeno também gerou as chuvas acima da média sobre as regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, e consequentemente, provocou perdas irreversíveis de produtividade em lavouras de soja, milho e trigo de primavera.
Os solos bastante encharcados dificultaram o desenvolvimento das lavouras, e com isso, geraram percentuais superiores com 10% de plantios em condições ruins e muito ruins, o que resultará em uma redução na produção final de grãos norte-americana.
O clima ainda manterá neste padrão?
Apesar de alguns institutos de climatologia preverem que o El Niño será o mais intenso dos últimos 50 anos, a tendência é de que ele não dure até o próximo verão. As águas mais frias já são observadas na região mais ao oeste do Pacífico e desse modo, no final do inverno poderá vir ocorrência de uma desaceleração deste aquecimento, o que gera novos períodos de estiagem no Sudeste, Centro-Oeste e nas regiões produtoras de grãos do Nordeste e Norte entre os meses de setembro e outubro, bem semelhante ao ano passado.
O período de chuvas mais intensas e de grande abrangência deverá voltar a ocorrer no Sul do Brasil, principalmente no Paraná e no Mato Grosso do Sul, o que pode gerar atrasos no plantio da nova safra de verão e também na realização da colheita do café e da cana de açúcar, entre outras culturas. Porém, vale lembrar que o segundo semestre de 2015 deverá ser muito semelhante ao ano passado.
O grande problema das notícias divulgadas pelos institutos internacionais de climatologia é de que os impactos e observações do El Niño são diferentes para os brasileiros, já que as regiões são monitoradas e divulgadas pelos órgãos não as que influenciam o Brasil.
A área do Pacífico que mais tem influência sobre o clima no país e até mesmo no Paraguai é a região costeira, a chamada Niño 1+2. De acordo com os modelos de previsão da NOAA (National Oceanic And Atmospheric Administration), haverá um grande abalo das temperaturas sobre essa região, o que gerará uma grande oscilação no regime de chuvas e temperaturas no Brasil.
A região que mais influencia no clima dos Estados Unidos é a região central denominada 3.4 e para a Oceania e Ásia é a Niño 4, localizada na região mais ao oeste do Pacífico, na costa destes continentes.
A previsão é de que haja uma grande oscilação no regime de chuvas e de temperaturas ao longo de todo o segundo semestre de 2015, por causa da grande oscilação da temperatura no Niño 1+2.
As chuvas até voltam a ocorrer em meados de setembro, no começo da safra no Brasil, mas os períodos de veranico entre o final do inverno e começo da primavera podem ocorrer em regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste devido à oscilação das temperaturas das águas do Pacífico. As precipitações devem ocorrer somente no final de outubro e inicio de novembro no MAPITOBA.
Como haverá um período mais seco no final do inverno sobre a região central e norte do país, a perspectiva é de que as chuvas continuem sobre o Sul com possibilidade de agravar as condições das lavouras de inverno, como a de milho, e atrapalhar o plantio da safra de verão.
O padrão mais chuvoso na segunda metade do inverno e primeira parte do verão também deverá ocorrer sobre as regiões produtoras dos Estados Unidos, o que gerará em novas perdas de produtividade e atrapalhará a colheita, que já deve iniciar no começar de setembro.
Marco Antonio dos Santos é agrometeorologista, graduado como engenheiro agrônomo pela Faculdade de Agronomia e Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves, mestre em agrometeorologia pelo IAC, doutor em agrometeorologia pela ESALQ e consultor no segmento agrometeorológico para as empresas: de insumos, trades e bancos. Desde 2008 é colaborador da Somar Meteorologia.
Fonte: Jornal do Tempo