A FGV Projetos, em parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), promoveu no último dia 16 de julho, em São Paulo, o seminário “Agricultura no Brasil: Perspectivas e Desafios”. O evento, que foi conduzido pelo diretor de controle FGV Projetos, Antonio Carlos Kfouri Aidar, reuniu especialistas, representantes do governo e de grandes empresas brasileiras, para discutir questões ressaltadas na edição anual do “OECD-FAO Agricultural Outlook”, que apresenta perspectivas mundiais do setor de agronegócios até 2024 com destaque para o Brasil.
Na ocasião, o coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP, Roberto Rodrigues, destacou a trajetória de sucesso do agronegócio brasileiro, para a qual contribuíram fundamentalmente a expansão da fronteira agrícola e o ajuste competitivo do setor à abertura comercial ao longo dos anos 90, tanto do ponto de vista tecnológico como da gestão. Além disso, citou como fatores relevantes para o crescimento recente da produção e produtividade do setor a disponibilidade de crédito rural, de programas de modernização de frota de tratores e implementos agrícolas (Moderfrota), bem como a promoção de feiras e eventos voltados para a adoção de novas tecnologias, caso da Agrishow.
Roberto Rodrigues ressaltou ainda a perspectiva positiva para o agronegócio brasileiro, resultado tanto da capacidade e confiança do setor na superação das condições adversas da conjuntura brasileira e internacional, quanto da mudança de mentalidade do empresário brasileiro, sobretudo no que se refere à compreensão do papel estratégico e competitivo da tecnologia no desenvolvimento das atividades no campo.
Jonathan Brooks, chefe da Divisão de Comércio Agroalimentar e Mercados da OCDE, apresentou dados e tendências derivadas da publicação Agricultural Outlook OCDE-FAO, enfatizando as implicações do contexto global para o Brasil.
Entre os elementos apresentados, Brooks ressaltou o cenário atual de calmaria nos mercados agrícolas, resultado do baixo crescimento global, das boas colheitas e estoques abundantes de grãos e cereais e da queda no preço dos laticínios e combustíveis. Por outro lado, chamou a atenção para mudanças na composição da demanda mundial, especialmente no que se refere à proteína de origem animal.
“Este fenômeno tem colaborado para a alta recorde nos preços das carnes nos mercados internacional”, ressaltou.
TENDÊNCIAS
Em termos de tendências, Brooks destacou a expectativa de queda ligeira nos preços reais nos alimentos nos próximos anos, aliada ao risco de maior volatilidade no mercado internacional. Apesar disso, o especialista afirmou que os níveis de preços nos mercados devem se manter em patamar superior ao verificado no período anterior à crise mundial de alimentos, ocorrida entre 2007 e 2008.
Em termos de implicações para o Brasil, Brooks destacou o aumento na demanda por produtos agrícolas nos quais o país detém vantagem comparativa e é grande exportador, caso das carnes e de grãos forrageiros (destinados à alimentação animal). O aumento da importância dos mercados na Ásia e, potencialmente, na África, aliado à crescente importância dos biocombustíveis e à depreciação cambial da moeda brasileira frente ao dólar são outros vetores que podem favorecer os agricultores brasileiros nos próximos anos.
“Com isso as perspectivas no campo da agricultura para o Brasil são positivas, com previsão de maiores demandas por importações, além da continuação do crescimento de produção a partir de melhorias da produtividade”, frisou.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar, avaliou que as perspectivas apresentadas pela OCDE-FAO não contemplam grandes transformações que podem ser operadas no Brasil nos próximos anos, sobretudo no que se refere ao campo logístico (escoamento das safras). Segundo ele, o tema logístico tem recebido grande atenção do ministério, que também tem trabalhado no desenvolvimento de estudos e propostas voltadas para sustentabilidade da renda e aumento da proteção contra a volatilidade de preços ao agricultor.
REALOCAÇÃO DE RECURSOS
Paola Fortucci, presidente da Federal Solidarity Organization e ex-diretora da Divisão de Commodities e Comércio da FAO, destacou alguns dos principais aspectos que marcam a importância da agricultura na economia brasileira, bem como seus avanços em tempos recentes. Entre eles a realocação de recursos a partir das reformas econômicas da década de 1990, e a função desses fatores no crescimento da produtividade, diretamente ligado à redução da pobreza.
A especialista recomendou que para o crescimento da produção até o ano de 2024, será necessária a melhora na produtividade de culturas e conversões de pastagens em lavouras.
“Um dos grandes desafios para os próximos nove anos será investir em uma agricultura sustentável e economicamente viável, capaz de combinar aumentos de produtividade, redução da pobreza e a conservação do meio ambiente”, concluiu Fortucci.
Fonte: Assessoria da FGV Projetos