O Brasil errou ao apostar excessivamente nas exportações para a China. E o que tem de fazer agora é usar a qualidade e a segurança dos alimentos para continuar ganhando novos mercados. Essa é a avaliação de José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, a agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. O relatório que a entidade divulga hoje juntamente com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traz um capítulo especial sobre a agricultura brasileira.
Como o Valor antecipou em março, o primeiro esboço do relatório alertava que a desaceleração da economia chinesa nos próximos dez anos poderá reduzir em alguns bilhões de dólares o ritmo de expansão das exportações agrícolas brasileiras. Isso não significa que o Brasil deixará de aumentar as exportações, mas o ritmo de crescimento deve diminuir.
Conforme observou Graziano, a desaceleração da economia na China tem “impacto brutal” pelo volume que o país demanda, particularmente em cereais e carnes, o que afeta bastante o Brasil.
“O problema é que o Brasil concentrou demasiadamente as exportações para a China”, afirmou. “Criamos uma dependência de exportação de matérias-primas para o mercado chinês. Foi um erro que o Brasil fez, de desindustrializar, de parte de sua agroindústria perder valor agregado na exportação de carnes, por exemplo. Precisamos voltar a privilegiar setores que agregam valor ao produto agrícola e não ficar na dependência de matéria-prima”.
Para isso, Graziano avalia que o Brasil tem de continuar trabalhando para erradicar algumas doenças que afetam rebanhos e fazer um “esforço brutal” para implementar a rastreabilidade.
“Não vai ter mais venda de carne no mundo nos próximos anos sem certificação de origem garantida”, afirmou. “Temos que criar um sistema com credibilidade internacional. Se quisermos realmente ter o papel de liderança no mundo, qualidade é fundamental”.
Em debate na Organização Mundial do Comércio (OMC), Graziano afirmou que a FAO está engajada na efetiva implementação de programa de medidas sanitárias e fitossanitárias para facilitar um comércio seguro. “Um único acidente alimentar pode ter enorme e, frequentemente, longo impacto negativo no comércio, nas economias dos países, nas pessoas e na saúde pública”, disse. Ele acrescentou que comércio seguro precisa ter padrões internacionais baseados em fundamento cientifico e não em achismo.
Fonte: Valor Econômico