A “culpa” é da chamada Geração Y ou Geração do Milênio. Essas pessoas, em sua maioria, jovens latinos e americanos – diga-se de passagem, globalizados, críticos e exigentes – que vivem nos centros urbanos, e que nasceram praticamente conectados ao mundo virtual, estão transformando o perfil global do consumo e do mercado de alimentos.
A mudança de hábito dos consumidores parece coincidir com a maturidade dessa Geração Y, fazendo com que grandes empresas do setor de alimentos passem a adquirir marcas pautadas pelos conceitos de saúde, bem-estar e sustentabilidade. Essa nova tendência mundial é reforçada pela coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura, Sylvia Wachsner.
“Os paradigmas que norteavam gerações mais velhas são questionados pela Geração do Milênio. A sustentabilidade ambiental e o tratamento dado aos animais adquiriram maior proeminência, assim como o consumo de alimentos menos industrializados, mais frescos. Conhecer como são preparados os alimentos é exigência desses consumidores mais antenados”.
AMEAÇA
Para Sylvia Wachsner, as grandes empresas de alimentos interpretam essas exigências dos consumidores por maior transparência como ameaça a seu crescimento. “As pessoas desejam conhecer mais sobre os ingredientes, desconfiam dos produtos altamente processados e questionam se são alimentos de verdade”.
A preferência por alimentos sustentáveis tem levado verdadeiros ícones como a Coca-Cola e o McDonald’s a diminuírem seus resultados financeiros. Recentemente, o McDonald’s mudou seu diretor executivo, após um resultado de receitas menores devido à concorrência de marcas como a Chipotle, fast-food de comida fresca e menos industrializada.
ESTRATÉGIA
Nessa batalha, o contra-ataque das grandes indústrias é investir em parcerias e fusões. Um dos novos casos divulgados pela mídia retratou a união da Kraft Foods com a H.J. Heinz, de Warren Buffett, considerado o homem mais rico do mundo. O negócio, avaliado em torno de US$ 49 bilhões, foi apontado como o terceiro maior no setor de alimentos e bebidas nos Estados Unidos.
A norte-americana Campbell Soup já oferece seis linhas de sopas orgânicas, fruto de aquisições de pequenas marcas de alimentos. E no final de 2014, a multinacional General Mills comprou a novata Amy’s Kitchen, especializada em alimentos orgânicos e naturais.
CENÁRIO EM MUDANÇA
Mas não é preciso ir muito longe para dar exemplos. No Brasil, o cenário da indústria de alimentos também está mudando. Grandes grupos procuram adquirir marcas menores de rápido crescimento. Foi assim que a empresa francesa Nutrition et Santé, líder europeia em bem estar e saúde, e subsidiária do grupo japonês Otsuka Pharmaceutical, comprou a paranaense Jasmine, que produz alimentos orgânicos, integrais e funcionais.
Por essas e outras, saúde e qualidade estão cada vez mais em pauta.
Esta semana, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa indicando que, entre 2009 e 2014, o consumo brasileiro de refrigerante teve queda de 20%. O estudo também apontou o crescimento do sobrepeso e da obesidade entre as crianças brasileiras. “Isso abre ainda mais o mercado para que as marcas menores passem a produzir alimentos com menos gordura e açúcar”, explica Sylvia Wacshner.
Equipe SNA/RJ