Datagro: opção pelo etanol pode minimizar crise do setor sucroalcooleiro

Presidente da Datagro, Plínio Nastari: “Parte da crise do setor será superada pela produção de etanol”, disse ele, ao lado de Manoel Ortolan, da Orplana (ao microfone). Foto: Divulgação
Presidente da Datagro, Plínio Nastari: “Parte da crise do setor será superada pela produção de etanol”, disse ele, ao lado de Manoel Ortolan, da Orplana (ao microfone). Foto: Divulgação

 

“A opção pelo etanol deve ajudar o mercado corrigir para cima os preços mundiais do açúcar”, afirmou Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, durante a Conferência Internacional Sobre Açúcar e Etanol, realizada nos dias 21 e 22 de outubro, em São Paulo. Segundo ele, na safra 2014/2015, iniciada neste mês de outubro, os produtores brasileiros devem optar pela produção de etanol e não de açúcar.

“Até a primeira metade da próxima temporada, os produtores deverão dar preferência ao etanol, como ocorreu na temporada passada”, previu o gestor. Ele ainda acrescentou que a recuperação dos preços do combustível deve ser maior que o do açúcar.

Segundo ele, alguns produtores vão esticar a safra cana até 20 de dezembro para produzir o máximo de etanol e reduzir a produção de açúcar. “Parte da crise do setor será superada pela produção de etanol”, disse o especialista.

Durante o evento, Nastari divulgou a 7ª estimativa na moagem de cana-de-açúcar da DATAGRO para a safra 2014/2015, prevista em 550,28 milhões de toneladas no Centro-Sul e 57,48 milhões de toneladas, no Norte e Nordeste. A consultoria projeta a produção de açúcar em 31,6 milhões de toneladas e a de etanol, em 24, 4 bilhões de litros.

A safra total deve somar 607,6 milhões de toneladas de cana, de onde sairão 35,06 milhões de toneladas de açúcar e 26,4 bilhões de litros de etanol. Para a safra 2015/2016, Nastari prevê moagem de cana entre 520 milhões e 560 milhões de toneladas no Centro-Sul. Segundo ele, os efeitos da seca devem afetar os produtores nas duas próximas safras.

As exportações serão mantidas em 23,95 milhões de toneladas de açúcar, segundo Nastari, que aposta em melhoria nos próximos anos, já que o déficit entre consumo e produção mundial ficará em 3,2 milhões de toneladas na próxima safra. Os estoques mundiais permanecerão altos, o que deve dificultar uma alta nos preços do açúcar no curto prazo. No fim de setembro, a relação entre estoque e consumo mundial estava em 56,6%.

 

DÍVIDA

A dívida das usinas de açúcar e etanol do País, na safra 2014/2015 (de abril a março),supera o faturamento do setor, de acordo com Nastari. A receita da temporada é estimada em cerca de R$ 70 bilhões e a dívida das empresas está em torno de R$ 77 bilhões, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

Além dos investimentos em expansão de novas unidades, no período de 2003 e 2008, quando o consumo de etanol no mercado interno foi impulsionado pelos carros flex, as usinas continuaram buscando recursos para renovação de seus canaviais e adaptação da mecanização do plantio e da colheita de cana. A crise do setor começou a se agravar a partir de 2009, por problemas de climáticos na a região Centro-Sul e pelafalta de competitividade em função dos preços baixos da gasolina. A queda dos preços do açúcar piorou a situação.

Além do clima adverso, usinas fechando, problemas de pagamento, há menor recursos para a safra 2015/2016, segundo Manoel Carlos Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do País (Orplana). “Há possibilidade de dias melhores  no futuro, para quem sobrar”, disse.

 

FIM DAS COTAS NA UNIÃO EUROPEIA

Mesmo com a crise do setor, Brasil é considerado uma referência mundial em etanol e açúcar.  “O Brasil é o rei da montanha em açúcar”, disse o diretor executivo da International Sugar Organization, José Orive, em palestra durante a conferência.

Diretor executivo da International Sugar Organization, Jose Orive: “O Brasil é o rei da montanha em açúcar”. Foto: Divulgação
Diretor executivo da International Sugar Organization, Jose Orive: “O Brasil é o rei da montanha em açúcar”. Foto: Divulgação

Segundo ele, o regime açucareiro vai mudar muito com implicações internacionais a partir de 2017, quando termina o prazo limite de percentuais da produção de açúcar dos países da União Europeia (UE), com cotas estabelecidas pela Organização Mundial de Comércio (OMC).  “O novo cenário vai exigir a adaptação do mercado europeu e mundial de açúcar”, disse ele.

Desde 2005, a produção passou ser dividida entre 26 países membros da UE. A produção de açúcar caiu de 21,84 milhões de toneladas, em 2004/2005, para 17,46 milhões, em 2013/2014. As exportações de açúcar refinado ficaram limitadas em 1,35 milhão de toneladas, de acordo com a OMC. O governo europeu subsidiava a produção de açúcar proveniente da beterraba branca, o que afetava o mercado de outros países produtores.

 

BIOCOMBUSTÍVEIS

A estimativa de aumento nos custos de extração dos combustíveis fósseis abre oportunidade para o etanol de segunda geração e a produção a partir de cereais, como o milho. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul), Roberto Hollanda Filho, para escoamento da produção de grãos, principalmente do Mato Grosso, o etanol de milho é uma alternativa para o setor de biocombustíveis. “O Estado só não é o maior produtor de biocombustíveis pela dificuldade de transporte aos grandes polos do Sudeste, o que limita a comercialização para as regiões Centro-Oeste e Norte”, disse em sua apresentação.

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado do Mato Grosso (Sindalcool-MT), Jorge dos Santos, acredita que o MT tem potencial para se tornar o maior produtor de etanol do País. “Além da área disponível para expansão de canaviais, a região é a principal produtora de milho, que pode ser usado na fabricação do biocombustível”, justificou e lembrou que a utilização do milho permite a produção de etanol mesmo durante a entressafra de cana.

Uma das vantagens do milho é que sua área plantada é muito superior a da cana, além de melhores possibilidades de armazenamento. “Além disso, a cadeia do grão é mais organizada, com instrumentos financeiros estruturados, o que favorece o desenvolvimento”, destacou Elizabeth Farina, presidente da Unica.

Também presente no evento, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues afirmou que a logística e o armazenamento favorecem o milho, no entanto, “falta clareza sobre a rota que esta tecnologia deve seguir e sua viabilidade comercial”.

A 14ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol contou com a presença de 32 países, segundo a organização. A abertura do evento reuniu o ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José Geraldo Fontelles, a secretária da Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo, Mônika Bergamaschi, além de várias personalidades do agronegócio.
RECURSOS
Neste ano, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai desembolsar mais de R$ 7 bilhões para apoiar o setor sucroenergético. Os recursos são destinados à renovação de canaviais e estocagem de etanol, principalmente, segundo Carlos Eduardo Cavalcanti, chefe do Departamento de Biocombustíveis do Banco, que realizou palestra no evento.

No ano passado, os recursos para o setor somaram R$ 6,9 bilhões, dos quais R$ 2,1 bilhões para a área agrícola, R$ 4,6 bilhões para a industrial e R$ 200 milhões para a co-geração de energia elétrica.

 

Por equipe SNA/SP

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp