Balança comercial será mais um problema para o governo em 2015

á batizada de “fim do superciclo das commodities”, a queda prolongada das cotações internacionais das matérias-primas representa um grande desafio para a economia brasileira em 2015. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), se mantidas as condições atuais de mercado, a receita com exportações pode cair até US$ 10 bilhões no ano que vem. Com 65% de sua balança comercial concentrada em commodities agrícolas e minerais, o Brasil tem grande vulnerabilidade ao cenário baixista provocado pelo excesso de oferta mundial. Por outro lado, o país não contará com a contabilização de exportações de plataformas de produção de petróleo, que ajudaram a reduzir as perdas este ano.

Na semana passada, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) divulgou relatório no qual projeta uma queda de 20% na receita com exportações do setor em 2015, apesar da expectativa de aumento da produção. Principal item da pauta exportadora brasileira, o complexo soja — farelo, óleo e grãos — é um bom exemplo do fim do superciclo: os contratos negociados em Chicago saíram da casa dos US$ 6 por bushel em 2006 até o pico de US$ 14 por bushel em 2012, cenário que motivou investimentos em ampliação da área plantada. Hoje, com a oferta superior à demanda, a cotação se encontra na casa dos US$ 9 por bushel.

“A alta de preços estimulou o crescimento de novas áreas, principalmente no Brasil e Argentina, onde houve plantio em áreas antes destinadas à pecuária. Nos EUA, com a queda da demanda pelo milho, também houve migração para a soja. Todos esses movimentos, aliados a um clima muito favorável, fizeram com que, neste ano, tenhamos uma supersafra de soja”, diz Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Abiove. “O problema é que no ano que vem existe expectativa de supersafra nos EUA, Brasil e Argentina, que tendem a depreciar ainda mais os preços.” A Abiove prevê, para 2015, exportações de US$ 23 bilhões, US$ 6 bilhões a menos do que o projetado para este ano.

O problema é generalizado e afeta também os mercados de milho, algodão, açúcar e minério de ferro, outros itens importantes na pauta comercial brasileira. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) também acredita em preços baixos no ano que vem, por conta dos altos estoques na China, maior importador, e nos Estados Unidos, terceiro maior produtor mundial. A cotação internacional do produto chegou a ultrapassar os US$ 2 por libra em 2011 e recuaram para a casa dos US$ 0,70 por libra em agosto deste ano. O mercado voltou a ser contemplado com leilões de preços mínimos realizados pelo governo, o que não ocorria desde 2008.

O cenário já tem reflexo nas estatísticas de comércio exterior do país, com a redução da receita de vendas de minério e açúcar no acumulado do ano ate agosto — os demais produtos ainda sobrevivem nesta base de comparação. Mas, corroborando as projeções feitas por entidades de classe, a AEB calcula perdas em torno de US$ 10 bilhões na receita de exportações brasileiras — US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões da soja; US$ 1 bilhão do milho; US$ 1 bilhão do açúcar; US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões do minério de ferro. “Ainda não revisamos nossas projeções, mas considerando o cenário atual, essa é a expectativa”, comenta o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

“As commodities representam 65% de nossa pauta e não temos nenhuma defesa contra a queda de preços, que resulta de um excesso de oferta global. Mas todo mundo sabia que esse momento poderia chegar”, analisa Castro. Ele considera ainda perdas com a Argentina, que é grande exportadora de soja e milho e terá que cortar importações para manter suas metas de superávit. Por outro lado, a queda dos preços do petróleo e o crescimento da produção nacional podem compensar o efeito Argentina, ao reduzir o déficit da conta-petróleo. O governo não contará, porém, com a ajuda de exportações de plataformas petrolíferas, que este ano contribuíram com US$ 2 bilhões: segundo o plano de negócios da Petrobras, há apenas uma unidade arrendada com início das operações previsto para 2015.

Representantes dos produtores começam a trabalhar com a possibilidade de redução da área plantada, como resposta à queda na rentabilidade do setor — assim como vem ocorrendo no mercado de minério, com o fechamento de minas menos rentáveis. “Vai haver um ajuste doloroso para o produtor rural. Para que os custos caiam, tem que cair demanda e isso significa redução de áreas. Ou seja, produtores em áreas com menos logística tendem a desaparecer”, diz Amaral, da Abiove.

 

Fonte: Brasil Econômico

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