Seca já prejudica culturas irrigadas

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Cafezais de Minas Gerais estão perdendo produtividade, com volume insuficiente de água para irrigação da lavoura

A forte seca que assolou regiões do país este ano ainda prejudica algumas culturas, apesar da ocorrência recente de chuvas. Em algumas regiões do Brasil, a escassez de precipitações afeta as lavouras perenes irrigadas, como as de café e de frutas, que não têm recebido água em níveis adequados para o seu desenvolvimento.

Maior produtor nacional de café, responsável por mais da metade da safra nacional, Minas Gerais sofreu nesta safra prejuízos significativos, que devem perdurar pelo menos até o próximo ciclo (2015/16). “Está todo mundo apavorado, alternando dia de irrigação, pois [a água] não está sendo suficiente”, afirma Francisco Sérgio de Assis, presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (Coocacer).

Segundo ele, no Cerrado Mineiro (que inclui o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba), usualmente metade das lavouras de uma área estimada em 170 mil hectares é irrigada. O uso da tecnologia normalmente é mais necessário entre abril e maio e agosto e outubro. Diante da seca, muitos produtores estão fazendo podas nos cafezais que, consequentemente, não vão produzir no próximo ano, mas ganham vigor para a colheita de 2016, explica Assis.

Nos cafeeiros não irrigados, o presidente da Coocacer estima que há chance de se perder a florada em função do estresse hídrico.

O produtor Múcio Cardoso Monteiro, também de Monte Carmelo, diz que nunca tinha visto um clima tão desfavorável em mais de 30 anos de atividade. Ele está irrigando apenas 200 hectares de uma área total com café de 650. Se tivesse mais água em seu reservatório, alimentado por dois córregos, seria possível irrigar ao menos 500 hectares, diz.

Hoje, a irrigação é concentrada em áreas com maior expectativa de produção. Segundo o cafeicultor, a evapotranspiração (perda de água do solo por evaporação e da planta por transpiração) está muito alta e a irrigação contribui só para manter o cafezal produzindo. Se não fosse isso, a produtividade seria maior. Embora acredite que é cedo para estimar perdas para 2015/16, Monteiro fala em até 30% a 40% de quebra. Este ano, ele colheu 25 mil sacas.

No norte de Minas, a fruticultura também sofre, segundo representantes da Emater e Associação de Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte). Gorutuba, um dos principais perímetros de irrigação na região, com 7 mil hectares com frutas, está usando metade da demanda usual por água. Um perímetro, público ou privado, corresponde à área com infraestrutura de irrigação, destinada a culturas agrícolas.

Em Jaíba, com cerca de 35 mil hectares cultivados, ainda não há racionamento, mas a estimativa é de que em breve isso possa ocorrer, diz Jorge Luís de Souza, presidente da Abanorte. “É uma grande preocupação, pois sem irrigação [a fruticultura na região] não é viável”.

Conforme a Abanorte, a região norte de Minas produz por semana 6,450 mil toneladas de banana – a variedade prata representa 50% do consumo nacional. Por ano, são 112,5 mil toneladas de limão, 140 mil de manga e 150 mil de mamão e outras frutas. Com a seca, a expectativa é que a produção regional caia 20% e que as frutas percam qualidade. “Se ficar um mês sem água, morre toda a banana”, afirma Souza.

Por ora, a economia local ainda não foi afetada. A fruticultura na região, conforme Souza, representa 60 mil empregos diretos e indiretos. A Ceasa (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais) diz que não há no momento nenhum aumento de preços de produtos decorrente da seca.

No primeiro semestre do ano, foram registrados reajustes nos preços de alguns produtos em função da seca, que também afetou a produção de grãos de algumas regiões do país, mas não chegou a comprometer o volume da safra.

O clima adverso no norte mineiro também faz com que cerca de 60% da produção diária de leite, de 600 mil litros, seja perdida, de acordo com Reinaldo Nunes de Oliveira, coordenador técnico da regional de Montes Claros da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG).

Ao mesmo tempo, o rebanho de bovinos vem diminuindo desde 2010, quando era de 3,3 milhões de cabeças, e passou a menos de 2,5 milhões de cabeças. O prejuízo é estimado em mais de R$ 1 bilhão para a pecuária de corte e de leite nos últimos três anos, quando o regime de chuvas passou a ser irregular.

Wagner Martins da Cunha Vilella, gerente de planos de recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), diz que a situação é grave no Centro-Sul e que a irrigação está praticamente parada em alguns pontos pois não é possível captar água. “É o pior período de seca”, afirma.

Na sua avaliação, o prejuízo é duplo para o produtor que investe mais de R$ 1 milhão para a aquisição de um pivô central (agora sem uso) e que adquiriu sementes produtivas, porém sem maior resistência à seca.

No Nordeste, a situação também é crítica em alguns perímetros de irrigação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), segundo o engenheiro agrônomo Ney Costa. Em alguns locais, produtores estão desde maio sem poder irrigar porque os açudes estão secos. Quem pode, faz perfuração de poços.

Este é o terceiro ano seguido de seca no Nordeste, e a atual falta de recarga nos açudes agravou a situação, diz Costa. “Até 2013 ainda dava para irrigar normalmente”.

Segundo ele, se não houver medidas imediatas, a perspectiva é de perda de 70% da área com culturas perenes nos perímetros Curu-Paraipaba e Curu-Pentecoste, no Ceará, cujo carro-chefe é o coco.

Segundo a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), ligada ao Ministério da Integração Nacional, há perímetros em Minas, Pernambuco e Bahia com restrições de captação, alguns desde 2010/11. Medidas como a instalação de bombas flutuantes nos rios estão sendo tomadas para amenizar o problema.

 

Fonte: Valor Econômico

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