Grande parte dos embarques de carnes para a Rússia, principalmente de suínos e aves, ainda não está acontecendo por falta de agilidade do Ministério da Agricultura no processo de certificação das plantas. O setor já teme pelo retorno das relações russas com Estados Unidos e Europa.
A declaração é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. “Estamos deixando escorrer pelas mãos uma oportunidade de ouro”, disse ao DCI durante participação no Fórum Nacional de Agronegócios, em Campinas (SP).
Até o momento, o principal reflexo do embargo russo foi a alta generalizada nos preços das carnes (suínos, aves e bovinos) a nível global.
TEMOR
Recém-chegado de uma viagem ao país, o diretor executivo global da BRF, Marcos Jank, conta que experiências anteriores com a Rússia mostram sua falta de previsibilidade em relação a exportações. “Da mesma maneira que veio a boa notícia, vem a má notícia. A Rússia abre plantas quando precisa e fecha quando não necessita mais. Temos que tomar cuidado com isso”, enfatiza Jank.
“Temos que trabalhar para consolidar essa relação porque é obvio que a Rússia vai retomar contato com americanos e europeus, e isso não deve demorar muito”, completa Turra.
Até o momento, a intensificação das relações entre Brasil e Rússia não é de médio e longo prazo, porém, o setor destaca o esforço do ministro da Agricultura, Neri Geller, em busca de diálogos que levem a parcerias maiores.
A crítica do presidente da ABPA está na morosidade dos processos do Ministério em atender esta demanda extra que surgiu após o embargo.
Para o diretor da BRF, o problema maior não está na certificação, mas sim no “cumprimento da legislação brasileira”.
“Houve a aprovação muito rápida da Rússia, de mais de 80 plantas, e o ministério passou a verificar quem tinha não condições de vender. Na BRF a maioria já está aprovada, mas algumas empresas tiveram dificuldades, talvez porque também tinham problemas a resolver”, explica Jank.
Um destes “problemas” citados pelo diretor da BRF é a presença do estimulante de crescimento ractopamina na carne suína, por exemplo.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não disponibilizou porta-vozes até o fechamento desta edição.
BRIC
Em meio às discussões sobre os embarques para a Rússia, Jank lembra da importância econômica do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) para o setor agropecuário.
“Todo este movimento é muito importante para o agronegócio. Hoje, nossos grandes mercados são chinês, russo, indiano, é lá que temos que fincar um pé”, diz o diretor. De fato, a aproximação entre os emergentes colaborou para que o Brasil despontasse como um dos principais fornecedores de produtos agropecuários durante o embargo russo. “Teríamos que aproveitar essa oportunidade conjuntural e transformar em estabilidade estrutural”, completa Jank.
Fonte: DCI