Após dez anos de negociações, a Austrália espera assinar em novembro um acordo de livre comércio com a China, que dará acesso preferencial para seus exportadores de carne bovina e representará mais dificuldades para os planos da indústria de carnes brasileira de elevar ganhos no mercado mais populoso do planeta.
A Austrália busca acordos bilaterais de comércio para impulsionar sua economia em meio a um cenário de persistente deterioração global. O país já fechou um acordo com a Coreia do Sul, que precisa de ratificação do Parlamento coreano, praticamente fechou um com o Japão, e tem plano de lançar uma negociação com a Índia, onde vê enorme potencial de negócios. Mas o que o setor privado aguarda com interesse é a negociação final com a China.
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, e o presidente chinês, Xi Jinping, deverão se encontrar duas vezes em novembro na Austrália, à margem da cúpula de líderes do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), quando o acordo de livre comércio poderá ser assinado.
O ministro do Comércio Andre Robb foi cauteloso em declarações na imprensa australiana nesta semana, afirmando que, apesar de “sólidos progressos” recentes, continua pressionando pela derrubada de barreiras à entrada na China de produtos agrícolas e serviços. Pequim, por sua vez, quer melhor acesso para investimentos, redução de tarifas para produtos de consumo, como eletrônicos, e ganhos no movimento de pessoas para a Austrália.
O certo, conforme Andrew Tulloch, presidente da Agência de Comércio e Investimentos de Queensland, é que os produtores de carne bovina terão enormes ganhos com os acordos. “Nossa carne terá grandes benefícios na China, na Coreia e um pouco menos no Japão”, afirmou ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. A brasileira JBS tem unidade na Austrália.
Em 2013, o país exportou 160 mil toneladas de carne bovina à China. Esse volume representou 52% do total de 300 mil toneladas importadas pelos chineses.
A expectativa é de que os investimentos chineses no setor agrícola australiano se acelerem. Nesta semana, o fundo soberano Beijing Agricultural Investment Fund anunciou aporte de US$ 3 bilhões nos setores australianos de carne bovina, lácteos, ovelhas e ativos agrícolas.
Para Tulloch, o fato de a China investir na Austrália ajuda a reduzir o impacto de eventuais dificuldades que surgirem no mercado chinês. Segundo ele, o controle que o governo australiano faz de investimentos estrangeiros é uma mera formalidade. “Não há limite para estrangeiro investir na nossa agricultura”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico