O clima seco e o forte calor registrados este ano aceleraram a maturação do café e prejudicaram a produção do cereja descascado, considerado de boa qualidade e que consegue preços mais altos no mercado. Os grãos amadureceram muito rapidamente, o que impediu a colheita no ponto certo do cereja, explica Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, em inglês).
Para a diretora da BSCA, houve uma “diminuição sensível” da quantidade desses cafés (cereja descascado), mas não há estimativa do tamanho dessa redução.
De uma maneira geral, o cereja descascado – que tem a casca e a polpa retiradas e depois é seco de forma natural ou mecanicamente – representa de 12% a 15% do volume de café produzido no país, estima Vanusia. A maior parte da produção brasileira é de grão natural, que passa por secagem sem a retirada de polpa e sem ser submetido a processos de fermentação com água.
O cereja descascado foi muito utilizado como substituto do café lavado da Colômbia, tem menos corpo e mais acidez e pode ser consumido puro ou em blends com os naturais para a produção de espresso, observa Vanusia. Os mercados que demandam mais esse tipo de café são, principalmente, EUA e Europa.
Mas o clima adverso este ano também melhorou, de uma maneira geral, a qualidade dos cafés, segundo a especialista, porque os grãos apresentam uma quantidade maior de açúcares. Apesar da “escassez”, este ano a BSCA recebeu quantidade maior de amostras de cereja descascado para o concurso “Cup of Excellence Early Harvest” – 360 ante 315 em 2013, diz a diretora da associação.
Outro efeito do clima adverso este ano foi a maior procura por cafés especiais brasileiros por parte dos compradores, preocupados com a oferta escassa. Segundo Vanusia, este ano eles vieram ao Brasil e anteciparam as compras – normalmente essas aquisições seriam feitas em feiras em seus países. No primeiro semestre, as vendas brasileiras de cafés especiais subiram 10% sobre o mesmo período do ano passado. O volume é guardado a sete chaves pela BSCA.
A saca de um café especial com 85 pontos (na escala que vai até 100) é cotado a cerca de R$ 600, com ágio de 30% sobre o valor do produto convencional.
Apesar da boa procura pelo café especial brasileiro, os efeitos do clima e a perspectiva de quebra também da próxima safra (2015/16), geram incertezas para os cafeicultores, segundo Vanusia. O risco, diz, é que precisem vender seu café especial como produto inferior para pagar as contas do dia a dia.
Fonte: Valor Econômico