Cenário de recuperação das safras de soja e milho indica queda de preços, dizem especialistas

Alexandre Mendonça de Barros Filho, diretor da MB Agro: Não há nada preocupante para reverter a expectativa de recuperação de safras agrícolas”. Foto: Andav/Photo Sharing
Alexandre Mendonça de Barros Filho, diretor da MB Agro: ‘Não há nada preocupante para reverter a expectativa de recuperação de safras agrícolas’. Foto: Andav/Photo Sharing

 

“Vivemos um momento conjuntural de uma expectativa de forte recuperação na oferta da safra de grãos no mundo todo, em especial nos Estados Unidos”, disse Alexandre Mendonça de Barros Filho, diretor da MB Agro, ao falar sobre Perspectivas dos Possíveis impactos das mudanças macroeconômicas nacionais, na abertura do Congresso da Associação dos Distribuidores de Insumos Agropecuários (Andav), realizado de 18 a 20 de agosto, em São Paulo.

O economista afirmou que atualmente existe um ciclo de demanda de alimentos muito grande em todo o mundo, o que, em sua opinião, é uma transformação relevante no mercado mundial de grãos, porém estrutural. “Diante da recuperação da safra, houve uma acomodação razoável nos preços agrícolas de grãos nos últimos dois meses, reflexo dessa expectativa de safras muito boas, que até agora tem se mostrado verdadeiro no mundo todo.”

Segundo ele, ainda existe um mês para definição da safra e não há como precisar se a safra de soja dos Estados Unidos será boa ou excepcional. Estima-se que os norte-americanos deverão colher mais de 100 milhões de toneladas da oleaginosa. Com relação ao milho, mantidos os índices de produtividade, existem consultorias garantindo que a safra será superior a 350 milhões de toneladas, mesmo com redução da área de cultivo, cerca de 1,5 milhão de hectares. E não há projeções de clima que sejam capazes de reverter esta expectativa de safra muito boa até agora.

De acordo com Mendonça de Barros, questões climáticas interferiram na produção de alguns países da Ásia, inclusive no norte da China, “mas não há nada preocupante para reverter a expectativa de recuperação de safras agrícolas”. Ele apontou também a Austrália, que, em sua opinião, “é a que mais apanha nesse cenário”. O governo australiano já vinha anunciando queda na safra. A Índia também enfrenta problemas: mesmo com a volta das chuvas, o volume está 17% a 18 % abaixo do normal.

“Volto a afirmar que este não é um quadro definitivo. Estamos num momento de definição de safra, ainda tem um mês, um mês e meio para as coisas acontecerem. E, como disse, até agora a safra chinesa vinha bem, mas há informações de que, nessas duas últimas semanas de agosto, um área da China não tão grande, que é produtora de grãos, tem sofrido um pouco mais com a seca”, explana.

O consultor da MB Agro chama a atenção para o fato de que “não podemos perder de vista que o mercado não mudou estruturalmente. Existe uma demanda por alimentos no mundo todo. O momento é de recuperação, entretanto, há também um ciclo de melhoria de oferta de grãos”. E lembra que as pessoas, ao verem os preços caindo, incorrem no erro de achar que é falta de demanda. “A demanda está aí. É que a oferta, depois de alguns anos de quebra de safra, parece ser muito boa”.

 

 

Segundo Anderson Galvão, diretor da Agroceleres, “o câmbio será a tábua de salvação para a sustentação da cotação da soja”. Foto: Andav/Photo Sharing
Segundo Anderson Galvão, diretor da Agroceleres, ‘o câmbio será a tábua de salvação para a sustentação da cotação da soja’. Foto: Andav/Photo Sharing

 

 

CRISE À VISTA

“A crise bate à porta, com preços do milho e da soja descendo ladeira abaixo”, alertou Anderson Galvão, diretor da Agroceleres, durante o congresso da Andav, ao abordar o tema Visões Estratégicas e Tendências para o Futuro do Agronegócio Brasileiro. Segundo ele, três anos de clima favorável permitiram bons níveis de produtividade, e consequente recuperação dos estoques. “O produtor foi o que mais capturou valor na cadeia produtiva do agronegócio. Mesmo retraindo, a renda do agricultor é, na média, 40% acima dos últimos cinco anos”, ressaltou.

Na opinião do consultor, a inflação segue como um problema, principalmente nos países em desenvolvimento, nos quais um terço do orçamento é gasto em alimentação. “A crise nos preços dos alimentos continuará a existir”, previu.
Segundo o consultor, que destacou a recuperação econômica dos Estados Unidos, o governo americano deve aumentar a taxa de juros, o que elevará o dólar e em consequência vai desvalorizar o real.

“O câmbio será a tábua de salvação para a sustentação da cotação da soja. Se o preço baixar muito, veremos, no Brasil, a primeira retração da área plantada com a oleaginosa em 10 anos”, disse Galvão, segundo o qual a atual safra de soja será arriscada para arrendatários e para os que estão produzindo em áreas novas.

No caso do milho, ele disse que a oferta é estável e até crescente. “A expectativa é que o Brasil comece a produzir etanol do milho”, previu o consultor. Ele lembrou que os Estados Unidos deverão colher mais de 350 milhões de toneladas do grão, mas não está conseguindo reconquistar o mercado internacional. “Nesse cenário, o Brasil é um player relevante, mas o grão precisa recuperar o preço em Chicago”, analisou. E fez um alerta: “A boa safra americana e a safra cheia do Brasil sinalizam a manutenção de preços baixos no mercado interno, portanto, atenção mais que redobrada com crédito.”

Em 2015, na época da colheita de soja, milho e algodão, ele diz que no País haverá produtores ganhando muito dinheiro e outros perdendo. “A estratégia, para a safra 2014/2015, é controle de custos, aumento da eficiência e da produtividade”, ensina, lembrando, mais uma vez, que a taxa de câmbio deve trazer algum alívio para os preços.

 

CICLO DE RECUPERAÇÃO

Mendonça de Barros, que destacou a onda de grandes dificuldades financeiras do setor sucroalcooleiro, cujas dívidas superam a casa dos R$ 70 bilhões, diz que a seca atípica está trazendo a safra para baixo. “O recorde de impurezas no processamento prejudica a produtividade e a oferta diminui, o que vai melhorar os preços do açúcar e do álcool”, analisou o consultor, acrescentando que os estoques mundiais de açúcar estão recuando, o que também é positivo para enxugar a oferta. “Estamos saindo do fundo do poço nesse setor e vamos entrar em um ciclo de recuperação, de bons preços, nos próximos dois a três anos. A virada só não será maior por causa do endividamento”, disse.

“Diante da forte recuperação da economia americana (4% do PIB), a taxa de juros tende a subir, o dólar vai aumentar e o real cair. Com isso, haverá necessidade de corrigir os preços da gasolina, o que dará forte de expectativa de aumento dos preços do álcool”, analisou o consultor da MB Agro.

 

Por equipe SNA/SP

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