O produtor sabe que investir no manejo integrado de pragas exige o monitoramento constante da lavoura. Mas de quanto pode ser o retorno financeiro deste investimento? Foi em busca desta resposta que uma centena de pesquisadores e técnicos da extensão rural estiveram reunidos nos dias 10 e 11/06, na Embrapa Trigo, durante a “Avaliação das Unidades de Referência Tecnológica de Manejo Integrado de Pragas Safra 2013”.
“A Helicoverpa causou uma revolução no manejo das lavouras. Fomos obrigados a rever as nossas práticas e o uso de defensivos sem critérios técnicos, somente com base no calendário. Agora precisamos saber primeiro o que está causando danos na lavoura para então avaliar a melhor estratégia de controle, já que só aplicar inseticida não funciona mais. O prejuízo trouxe também o aprendizado!”, afirmou o técnico da Emater/RS Alencar Rugeri.
Para o coordenador estadual de grãos da Emater/PR, Nelson Harger, “o agricultor tem muita informação, mas pouco conhecimento. O modelo atual está voltado à máxima produtividade, que nem sempre considera a rentabilidade. Nosso papel aqui é fazer a ponte para que o produtor tenha sempre o melhor resultado”.
RESULTADOS EM RS
No Rio Grande do Sul, foram monitorados 5 mil hectares (ha) de soja e milho na última safra, com abrangência em 200 propriedades. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) contou com diversas estratégias, como armadilhas, identificação de insetos, controle biológico (distribuição de vespas), uso de defensivos seletivos e acompanhamento técnico junto ao produtor em áreas entre 2 a 5 ha, chamadas de Unidades de Referência Tecnológica (URTs).
O esforço da Ascar-Emater/RS contou com mais de 200 extensionistas além de pesquisadores da Embrapa Trigo no acompanhamento e identificação das pragas. As capacitações em palestras e eventos a campo foram realizadas durante todo o processo, com apoio da Caravana da Embrapa para Ameaças Fitossanitárias no Brasil, que percorreu os principais polos produtores de grãos no Estado.
A principal dificuldade dos extensionistas foi convencer o produtor a não aplicar inseticidas nas URTs enquanto o nível recomendado pelo MIP não fosse atingido, o que acabou atrapalhando a mensuração dos resultados. Mas na propriedade da família Stapenhorst, com 12 ha em Roca Sales, RS, a condução de 2,5 ha de soja seguindo os preceitos do MIP trouxe resultados surpreendentes: o rendimento foi superior em 10 sacos de soja, um ganho direto de R$ 1.250,00 na área, além da economia com defensivos no investimento de duas aplicações de inseticidas e apenas uma de fungicida, enquanto no resto da lavoura sem MIP foram necessárias quatro aplicações de inseticidas e 2 de fungicidas. Segundo o técnico da Emater/RS Municipal, Guilherme Miritz, no milho o rendimento foi semelhante na área sem monitoramento, mas o controle de pragas foi restrito a uma aplicação de inseticida.
“Com a divulgação dos resultados, o produtor pretende fazer o controle em toda a área cultivada e os vizinhos já estão demandando o acompanhamento técnico. A meta do projeto é fazer com que o produtor domine a tecnologia e sirva como multiplicador do MIP”, explica Miritz.
PARANÁ
O acompanhamento no uso de defensivos pela Emater/PR é realizado desde 1996 e mostra o crescimento constante no número de aplicações de inseticidas nas lavouras de verão: em 1996, eram 2,7 aplicações por safra; em 2014, o número passou para 4,6 aplicações. De acordo com o técnico Nelson Harger, a diversidade de produtos utilizados também é considerada alta, com média de 5,8 inseticidas utilizados na mesma safra.
Como exemplo de resultados, a partir da implantação do MIP numa área de 100 ha, distribuídos em cinco propriedades, no município de Cambé, PR, foi possível reduzir as pulverizações com inseticidas em 68%. Nas mais de 100 URTs de soja instaladas em 2.600 ha no Estado, o número de aplicações de inseticidas caiu de 4,6 (média do PR) para 2,2 (média URT).
Nas áreas que não foram acompanhadas, a primeira aplicação foi, em média, aos 25 dias da germinação da lavoura, enquanto que nas áreas monitoradas com MIP as aplicações de inseticidas iniciaram, na média, aos 57 dias. Nas contas da Emater/PR e dos parceiros do projeto “Plante seu futuro”, o custo por hectare com aplicações de inseticidas nas URTs foi R$ 143,7; enquanto o custo/ha na média das aplicações no Paraná foi de R$ 276,5 considerando gastos com inseticidas e mão-de-obra.
MATO GROSSO
As diferenças regionais e culturais na produção agrícola do Brasil exigem a adaptação dos processos de transferência de tecnologia, assim a agricultura familiar ganha grandes proporções no tamanho das propriedades do Centro-Oeste. No Mato Grosso, o MIP foi conduzido em apenas uma URT de 100 ha em Sinop, durante três anos, na propriedade de um formador de opinião. É o conceito de “Produtor Experimentador”, em prática pela Embrapa Agrossilvipastoril.
A área foi dividida em duas partes iguais, com 50 ha sob o MIP e outros 50 ha conduzidos a critério do produtor Junior Ferla. Como resultados, os custos de produção reduziram em 5% na área com MIP, onde foram efetuadas 2 aplicações de inseticidas e uma de fungicida, enquanto a média na região foi de 5 a 8 aplicações. De acordo com o pesquisador Rafael Pitta, o produtor pretende estender o MIP para toda a área de soja em mais de 2 mil ha. Neste ano, estão previstas mais 10 URTs no Mato Grosso.
AVALIAÇÃO FINAL
De modo geral, na avaliação dos técnicos envolvidos no processo, o rendimento das lavouras de milho e soja conduzidas com MIP ficaram na média dos municípios ou acima, com a vantagem de redução no número de aplicações com inseticidas na maioria dos casos. “Este evento mostra que é possível a redução na utilização de agrotóxicos, no número de aplicações tanto em pequenas propriedades quanto em produção de grande escala. Provamos que o processo pode ser feito tanto com o monitoramento, quanto com o uso de produtos e agentes de controle biológico sem implicar em perdas no rendimento”, ressalta o Diretor Técnico da Emater/RS Gervásio Paulus.
Ainda, um dos aportes na divulgação do MIP foi a Caravana Embrapa para Ameaças Fitossanitárias, que percorreu o Brasil com conhecimentos sobre o MIP com mais de 30 especialistas, em 18 estados e capacitações para 6 mil multiplicadores. Segundo um dos coordenadores, Sérgio Abud, os maiores resultados da Caravana foram: mudança de comportamento nos agentes produtivos; redução no uso de inseticidas; preservação e identificação dos inimigos naturais; e retomada no uso do controle biológico de pragas.
Fonte: Embrapa