Pesquisadores do Brasil e outros quatro países chegam ao sequenciamento do genoma citros

Juliana de Freitas Astúa Embrapa
Juliana Astúa, pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura que participou do consórcio internacional

 

A semana foi marcada por uma grande conquista na história da pesquisa em citricultura. Os estudos conduzidos por um consórcio internacional de pesquisadores dos Estados Unidos, França, Itália, Espanha e Brasil resultaram no sequenciamento do genoma citros, trabalho publicado na revista Nature Biotechnology no dia 8 de junho. O grupo se debruça sobre o tema desde 2009, analisando sequências do genoma de dez diferentes tipos de citros, incluindo laranjas doce e azeda, toranjas e tangerinas. Os representantes brasileiros no consórcio fazem parte da equipe da Embrapa e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

O objetivo do estudo foi gerar um genoma de referência de alta qualidade. Para isso, os cientistas utilizaram uma espécie haploide (apenas um cromossomo de cada par) de tangerina Clementina. Depois, foram sequenciadas mais nove espécies de citros, incluindo laranja doce e tangerina. Desta forma, pode-se ter uma ideia sobre como uma espécie originou outra ao longo da evolução. A pesquisa mostrou que essas diversas variedades analisadas são derivadas de duas espécies de citros selvagens, existentes no Sudeste Asiático há mais de cinco milhões de anos. Uma das sequências foi o genoma de referência de alta qualidade da tangerina Clementina.

Os resultados obtidos poderão proporcionar o melhoramento dirigido por sequência, levando a materiais mais resistentes a pragas, doenças e mudanças ambientais. A conclusão da pesquisa, no entanto, é apenas o primeiro passo de um caminho muito mais longo.

“Agora, o estudo que fizemos deverá balizar os trabalhos de melhoramento genético com informações que poderão auxiliar não apenas no aumento de resistência do citros a pragas e doenças, como o huanglongbing (HLB), mas também na maior tolerância a fatores ambientais adversos, melhoria das características nutricionais e por aí afora”, explica Juliana Astúa, pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura que participou dos experimentos.

Marco Aurélio Takita, pesquisador do IAC e também membro da equipe, explica que o grande desafio agora é a boa utilização do sequenciamento do genoma citros.

“A quantidade de dados que temos é tão grande que poderíamos passar a vida inteira pesquisando. O cultivo de citros tem uma enorme importância no mundo e temos pouca gente pesquisando sobre ele, em comparação com a grande quantidade de informações disponíveis.”

 

Marco Aurélio Takita, do Instituto Agronômico de Campinas, que também participou do sequenciamento do genoma citros
Marco Aurélio Takita, do Instituto Agronômico de Campinas, que também participou do estudo. Foto: Arquivo IAC

 

Para Takita, um dos maiores benefícios desta conquista histórica para o consumidor seria a criação de novas variedades das frutas. Já o produtor, diz ele, “poderia alongar sua safra de laranja, por exemplo”. Astúa avalia, no entanto, que deve levar um tempo até que a pesquisa crie condições para o desenvolvimento de novos produtos para o mercado.

“Infelizmente, qualquer previsão seria pouco acurada. Os citros são espécies arbóreas com ciclo de vida longo e complexa base genética. Portanto, é difícil pensar em qualquer previsão de mercado para menos de 10 anos. Mas, certamente, a expectativa é que o tempo seja encurtado com as novas informações disponíveis”, diz Astúa.

 

INVESTIMENTOS

Para financiar a pesquisa, diz Astúa, a Embrapa investiu cerca de US$ 200 mil, proveniente de uma parceria com a Monsanto.

Segundo Takita, através do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) foram investidos US$ 240 mil. Estes recursos foram obtidos através de agências de fomento brasileiras, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Estes valores podem parecer altos, mas são muito pouco quando se considera que o Brasil é o maior produtor de laranja e exportador de suco de laranja do mundo, movimentando cerca de US$ 5 bilhões por ano com a cultura”, avalia a pesquisadora.

Segundo a pesquisadora, os parceiros brasileiros tiveram envolvimento no Consórcio Internacional desde seu planejamento até as discussões dos resultados obtidos, além de contribuírem com o sequenciamento da tangerina Ponkan e de parte do sequenciamento da tangerina Clementina. As montagens dos genomas ficaram a cargo dos bioinformatas do Consórcio.

O Consórcio foi formado por pesquisadores de cinco países produtores de citros: Brasil, França, Itália, Espanha e Estados Unidos, coordenado pelo Prof. Fred Gmitter, do Centro de Pesquisa de Citros da Universidade da Flórida, em Lake Alfred. Seu início efetivo foi em janeiro de 2009 e o sequenciamento foi feito pelo Genoscope, da França, Instituto de Aplicações Genômicas, da Itália, e Instituto de Biotecnologia HudsonAlpha e Departamento de Energia (DOE JGI), dos Estados Unidos.

Equipe SNA/RJ

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