Ferrovias ameaçam plantio no cinturão agrícola dos EUA

Os congestionamentos registrados nas grandes ferrovias dos Estados Unidos que atrasaram o embarque de novos carros e carvão agora ameaçam impedir que o plantio de áreas do Meio-Oeste, região considerada o cinturão agrícola americano, seja realizado em tempo.

Os problemas nas ferrovias atrasaram os embarques de fertilizantes, elevando os temores de que os produtores de quatro grandes Estados agrícolas, as Dakotas do Sul e Norte, Minnesota e Wiscousin, fiquem sem nutrientes o suficiente para plantar milho, trigo e cevada.

Ao mesmo tempo, os produtores têm se esforçado há meses para conseguir capacidade de carga suficiente nas ferrovias para embarcar os grãos colhidos no ano passado para as usinas processadoras. Alguns temem que mesmo que o plantio ocorra no período ideal, eles não terão espaço bastante nos armazéns para guardar a colheita no fim do ano.

A falta de capacidade ferroviária do país está ampliando a ansiedade que os produtores da região normalmente já sentem nesta época do ano, quando eles precisam de um longo período de calor e céu limpo para que o plantio seja realizado e as plantas cresçam antes que o clima frio retorne.

Os atrasos já afetaram o faturamento de produtores de fertilizantes, incluindo a Mosaic Co. e a Agrium Inc.,  e geraram preocupação entre processadores que contam com uma oferta contínua de grãos para operar. Muitos produtores de etanol de milho recentemente tiveram que paralisar as operações de suas usinas durante vários dias porque não conseguiram vagões para transportar o grão.

O diretor-presidente da Mosaic, Jim Prokopanko, diz que o atraso registrado na atual temporada de plantio tem sido “diferente de tudo o que já tinha visto antes”. A empresa de Mineápolis, uma das maiores produtoras de fertilizantes do mundo, estava atrasada na entrega de “muitas centenas de toneladas” antes que as ferrovias voltassem a acelerar o transporte de mercadorias nas últimas semanas, diz Prokopanko. A Mosaic, que geralmente entrega 5 milhões de toneladas de fertilizantes por trimestre, divulgou no início do mês uma queda de 43% no lucro do primeiro trimestre, citando em parte os problemas ferroviários como motivo.

Os produtores agora esperam receber uma quantidade suficiente de fertilizantes em tempo para terminar o trabalho de campo e plantio antes de julho. “É urgente”, diz Mark Watne, presidente do conselho do Sindicato dos Agricultores da Dakota do Norte.

O inverno que castigou os EUA com o maior número de nevascas e as temperaturas mais baixas em muitos anos desestabilizou o sistema ferroviário, o principal meio de transporte da safra agrícola quando os rios congelam no nordeste americano. As temperaturas baixas forçaram as redes ferroviárias BNSF Railway Co., a Canadian Pacific Railway Ltd. e outras a operarem com poucos trens, aumentando o tráfego nas vias em direção ao Meio-Oeste. O tempo médio de espera para alguns trens da BNSF, na linha de Northtown, no Estado de Minnesota, chegou a 75 horas durante o inverno, ante uma média de 40,5 horas nos últimos 12 meses, de acordo com informações da empresa.

A maior demanda por vagões também ajudou a ampliar o problema. As ferrovias estão carregando mais petróleo bruto da região da gigantesca reserva de gás de xisto de Bakken, na Dakota do Norte, e a recuperação econômica tem levado um volume maior de bens a ser transportados por via férrea, de acordo com as transportadoras.

As empresas ferroviárias informam que estão investindo bilhões de dólares em mais trilhos e trabalhando com seus clientes para acelerar as entregas. Tanto a BNSF quanto a Canadian Pacific afirmaram que aceleraram os embarques de fertilizantes nas últimas semanas depois de serem cobradas pelas autoridades ferroviárias do país.

Os problemas nas ferrovias atingiram o cinturão agrícola americano logo depois de o país ter registrado a maior safra de milho e uma das maiores safras de soja da história. A grande oferta, somada ao inverno rigoroso e aos atrasos das linhas férreas, aumentaram as preocupações no setor agrícola sobre a necessidade de uma melhoria na infraestrutura para lidar com uma produção agrícola ainda maior.

Pesquisadores da Universidade do Estado da Dakota do Norte estimaram, este mês, que os produtores agrícolas perderam US$ 67 milhões em receita desde o início do ano por conta do atraso dos embarques de grãos e soja. Já a Associação dos Produtores de Milho de Dakota do Sul estimou que os produtores do Estado ainda precisam embarcar cerca de 250 milhões de bushels de milho (cerca de 6,35 milhões de toneladas), ou 31% da safra do Estado em 2013, para criar espaço nos armazéns.

Sem fertilizantes, a rentabilidade de alguns grãos pode chegar à metade do normal, dizem produtores. Para tentar assegurar que os elevadores de grãos e as redes de insumos agrícolas tenham fertilizante o suficiente, o Conselho de Transporte Terrestre, uma agência federal que regula as ferrovias dos EUA, exigiu, no mês passado, que a BNSP e a Canadian Pacific forneçam atualizações semanais sobre o andamento das entregas.

As empresas de etanol também estão enfrentando problemas similares. Nos últimos meses, empresas das Dakotas têm esperado por semanas pelo retorno dos vagões, o que forçou um corte na produção. “Se não tivermos vagões retornando, não teremos outra alternativa se não fechar as portas ou desacelerar”, diz Tom Hitchcock, diretor-presidente da Redfield Energy LLC. A empresa já fechou uma unidade e perdeu US$ 1 milhão em receita com os problemas ferroviários.

Fonte: The Wall Street Journal

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