Racionalização do consumo de água é um dos grandes desafios

Em uma época em que os recursos naturais escasseiam, o uso da água pela agropecuária chama a atenção da opinião pública. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil a participação do campo no consumo desse recurso natural é de 83%. Desse total, 72% são destinados à irrigação e 11% para sanar a sede dos animais nas propriedades rurais. Como as atenções estão voltadas para a sustentabilidade, produtores e fornecedores de insumos agrícolas se mobilizam para conciliar a produção dos alimentos ao uso racional e à economia dos recursos hídricos.

Além disso, por meio do aperfeiçoamento dos sistemas de irrigação, evitar perdas, seja de água e da produção agrícola por deficiência hídrica. O presidente da comissão nacional de meio ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilmar Viana, chama a atenção para o conceito vigente sobre o uso da água, que, na sua opinião, merece alguns reparos. Para ele, é preciso considerar que, mesmo após a sua utilização, a água segue seu curso. “Não existe perda significativa”, diz. “Os sistemas de irrigação das lavouras são tratados como um processo de extermínio da água.” Viana diz que a CNA aguarda os resultados de um projeto denominado “Pegada Global da Água” que vem sendo desenvolvido com base em pesquisas feitas pela Unesco e pela Universidade de Twente (Holanda).

Os pesquisadores das duas instituições pretendem identificar o que se convencionou como a “pegada hídrica” de 132 países para permitir análise mais precisa sobre o consumo de água doce. “Afinal, quanto se consome de água nas lavouras e quanto disso é consumido na forma de alimentos?”, pergunta o representante da CNA. Segundo dados preliminares do estudo liderado pela universidade holandesa, 86% do consumo de água se dão por meio da ingestão de alimentos e consequentemente de produtos agrícolas. Conclusão: a comercialização e o consumo de alimentos e de outros produtos estão diretamente relacionados à “água virtual”, segundo a denominação criada pelo projeto.

Outra questão alvo de controvérsia, segundo Viana, é a construção de barragens nos leitos dos rios para permitir a irrigação das lavouras. O porta-voz da CNA diz que as críticas são injustificadas, especialmente porque as barragens de pequeno e médio porte não comprometem os cursos d’água, nem afetam o meio ambiente. Sem o armazenamento, não é possível irrigar as plantações, lembra. Para ele, certas teorias fogem à prática e não levam em conta os valores da segurança alimentar.

Já é quase um consenso que a melhor forma de manter sob controle o consumo da água pelos produtores rurais é por meio da cobrança do seu uso. “É a única forma de induzir a eficiência dos sistemas de irrigação e evitar o desperdício.” Sandro Rodrigues, gerente de grandes clientes da Irriger, também defende essa ideia como forma de coibir o desperdício. Ele diz que não é raro agricultores utilizarem equipamentos obsoletos. Maneiras inadequadas de irrigar as lavouras não causam apenas perdas de recursos hídricos, explica. Os produtores rurais também têm prejuízos com uso indevido de combustível, já que na maioria das vezes os instrumentos da irrigação são movidos por motores potentes. Podem ainda causar outros danos ambientais, como assoreamento do solo.

A Irriger é uma empresa de prestação de serviço para o gerenciamento de irrigação. Um software desenvolvido pela empresa permite planejar a irrigação, definir metas de suprimento de água às culturas, gasto de energia e eficiência dos equipamentos. Os sistemas oferecidos pela empresa, fundada pelo professor Everardo Chartuni Mantovani, professor da Universidade Federal de Viçosa, permitem a redução de até 20% no consumo de água.

A Bayer CropScience também desenvolve projetos com o objetivo de poupar água. Sua equipe técnica dedicada às culturas de citros desenvolveu projeto que torna possível economizar até dois mil litros de água por hectare nos cultivos de laranjas. A experiência foi realizada em fazendas paulistas, onde a aplicação de inseticida para o controle do inseto vetor do greening (doença que ataca os laranjais) foi feita diretamente no tronco das plantas. Comparado ao tratamento foliar, houve também redução do consumo de combustível e, consequentemente, de CO2. Segundo a empresa, esse tipo de manejo contribui para a preservação de insetos polinizadores benéficos para a cultura.

A contribuição da Syngenta foi por meio da mobilização dos agricultores para recuperar as nascentes em suas propriedades rurais. O projeto, denominado Água Viva, foi executado em convênio com a Coopavel – Cooperativa Agroindustrial com sede em Cascavel no Paraná, informa a gerente de relações institucionais, Lydia Damian. Em cinco anos foram recuperadas 3 mil nascentes, 60% nas propriedades dos cooperados.

 

Fonte: Valor Econômico 

 

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