Guerra comercial faz China alterar importações de soja

O setor agropecuário brasileiro parece já sentir mudanças, por enquanto positivas, na postura dos compradores chineses, sobretudo no caso da soja. Foto: Pixabay SW1994

 Oscilações já podem refletir tarifaço americano

Conforme o Portal SNA vem mostrando, o tarifaço do governo Trump repercutiu notadamente pela intensificação de alíquotas maiores entre Estados Unidos e China, que aumentaram a taxação recíproca a patamares altíssimos. O governo americano chegou a fixar 245% para produtos chineses, mas com a firmeza da resposta de Pequim, a Casa Branca recuou e ainda não estipulou um novo número. As barreiras tarifárias chegaram a mudar diariamente, gerando perdas nos mercados financeiros e instabilidade no comércio global.

Com os dois protagonistas geopolíticos e econômicos em choque, as cadeias produtivas mundo afora tentam antecipar os próximos movimentos e se preparar para os efeitos da escalada de protecionismo. O setor agropecuário brasileiro parece já sentir mudanças, por enquanto positivas, na postura dos compradores chineses, sobretudo no caso da soja. Isso porque, segundo reportagem da Bloomberg, representantes do país asiático adquiriram, entre os dias 7 e 10 de abril, uma quantidade atípica do grão: pelo menos 40 cargas. Isso é o equivalente a mais de 2,4 milhões de toneladas, volume que representa quase um terço da média mensal processada pela China.

Ainda segundo a reportagem, as entregas serão em maio, junho e julho, chamando a atenção pelo ritmo acelerado e volume expressivo dos embarques. O movimento acontece num contexto de demanda crescente pela soja brasileira, algo que já vinha sendo monitorado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) desde o fim de março.

Protagonismo da soja nas parcerias comerciais chinesas

 A soja é a principal commodity agrícola comprada pelos chineses dos EUA, mas o grão brasileiro ocupa papel cada vez mais proeminente nas aquisições do país asiático, que tradicionalmente já se intensificam entre fevereiro e julho, período da colheita nacional.  Além disso, pesaram também as margens mais altas no processamento interno da soja, impulsionadas pela valorização do farelo.

A China é o maior comprador mundial de soja, mas o momento de turbulências também afetou negativamente as aquisições do país asiático. De acordo com informações da própria Autoridade Aduaneira Chinesa (GACC), a China importou 3,5 milhões de toneladas de soja em março desse ano, volume 40% inferior às aquisições de fevereiro e 37% abaixo de março de 2024. O montante foi o menor para março desde 2012. Apesar do recuo, os chineses importaram 2,44 milhões de toneladas de soja americana, um aumento de 12% na comparação anual, representando um terço de toda a importação de soja do mês pela China.

Produtores, analistas de mercado e demais integrantes das cadeias produtivas do Agro nacional seguem atentos a esses e outros sinais, num ano importante, em que há nova previsão de safra recorde de grãos. Enquanto segmentos diversos vão assimilando e interpretando o comportamento de compradores importantes como a China, também é necessário observar sobressaltos que o tarifaço ainda pode causar a médio e longo prazo, antes que os principais países afetados distensionem suas posturas geopolíticas e econômicas.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Com informações complementares do CEPEA e Bloomberg
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