A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) inaugurou ontem (24) o maior banco de recursos genéticos da América Latina, no dia em que a empresa celebra 41 anos de existência. O novo prédio vai reunir as coleções de plantas, animais e microrganismos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, que objetiva principalmente garantir a segurança alimentar da população.
A coleção de base faz, prioritariamente, o trabalho de conservação do material dos bancos ativos de outras unidades da empresa, nas quais é feito o trabalho de campo, que consiste em testar e pesquisar as propriedades, fazer o manejo dos recursos genéticos e multiplicar as amostras a serem enviadas para bancos internacionais, pesquisadores e empresas solicitantes.
O antigo banco genético da Embrapa tem mais de 124 mil amostras de sementes e capacidade para guardar até 250 mil. A nova estrutura triplica a capacidade, para 750 mil amostras, e coloca o Brasil entre os três países com as maiores coleções genéticas do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China.
O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, explica que os recursos genéticos estão na base do desenvolvimento da agricultura, e a empresa atua com pesquisas na área desde o seu início. “O trabalho de coleta, conservação, agregação de valor e uso de recursos genéticos é que permitiu o grande salto da nossa agropecuária nos últimos 40 anos”, disse ele, e adiantou que grande parte do que cultivamos hoje tem origem externa, como a soja (da China), a cana-de-açúcar (da Índia) e o milho (do México) , e ressaltou que o trabalho da Embrapa tem sido fundamental no fortalecimento dessas culturas.
Para Lopes, é uma questão quase que de segurança nacional, “ainda mais levando em conta os desafios que nós teremos nos próximos anos, relacionados a mudanças climáticas que vão levar a uma intensificação de estresses, como mais calor ou mais enchentes. Vamos precisar fazer um grande esforço de melhoramento dos nossos cultivos, das nossas criações animais, para conseguirmos fazer frente a esses desafios, que estão no horizonte”, disse ele.
O chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Mauro Carneiro, conta que, além do armazenamento, a unidade também trabalha com o melhoramento preventivo, que antecipa as pragas que podem atacar determinadas culturas. “Sabemos que tem algumas pragas de arroz, soja e feijão que podem entrar no país a qualquer momento, imagine você o desastre que pode acontecer nessas culturas, para a economia e tudo mais. Então, já trabalhamos no melhoramento preventivo, e quando as pragas entrarem já teremos material pronto para fazer face a esses problemas”.
A nova estrutura, de 2.000 metros quadrados, custou R$ 13 milhões, grande parte viabilizados por meio de emendas parlamentares. Além das câmaras para sementes a -20 graus centígrados, o espaço possui laboratórios, câmaras de conservação de plantas in vitro, botijões de nitrogênio líquido e bancos de DNA (sigla em inglês para ácido desoxirribonucleico) para conservação de animais e microrganismos.
Carneiro dá como exemplo a recuperação, em 1995, das sementes primitivas de milho e amendoim dos índios krahôs, no Tocantins, que não se adaptaram ao cultivo do milho híbrido comercial e já não possuíam mais a variedade local. “E, no caso dos indígenas, a agricultura está muito ligada aos seus ritos e festividades. Eles perceberam que estavam perdendo suas culturas, até que um pagé lembrou que a Embrapa pegara aquelas sementes e disse que as guardaria. Então, nós demos a ele um pouco desse material, que ele plantou, colheu e trouxe de volta mais amostras”.
Fonte: EBC